30.1.06

Assim eu quereria meu primeiro poema

Queria fazer
Um poema primeiro
ou poema primário
imaginário
porque já fiz poemas
demais.

Se eu pudesse
Fazer esse poema primeiro
Pra ser colocado antes dos outros
Pra ser guardado como a primeira coisa
que eu falei pra ti poeticamente...
...
eu seria sucinto e
seria profundo
me desculpando por todos os poemas
que eu ainda faria
(que fiz).

E falaria de amor
como quem fala do céu
que está tão claro apesar das nuvens
ou quem fala de um sonho
comprado numa padaria em sonho
ou quem fala de Deus
perfeito e inexistente em seu céu claro
ou quem fala da grama
aquela em que podemos pisar...

Não posso fazer
Esse poema
primeiro primário imaginário.
Enfim...
(um suspiro e)
me contento, acho,
fazendo só mais um poema
contanto que seja
por ti.

28/01/06

(e continua o otimismo trágico: saber o que fazer mas não ter idéia do como...)

28.1.06

If music be the food of love, play on...

E no meio de tanta gente eu encontrei você
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio
E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida

Eu podia ficar feio só perdido
Mas com você eu fico muito mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora dando errado pra mim
Mas com você dá certo

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais

Eu podia estar sofrendo caído por aí
Mas com você eu fico muito mais feliz
Mais desperto
Eu podia estar agora sem você
Mas eu não quero, não quero

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais

De volta, algumas considerações.

Pontos de vista diferentes, modos de se viver diferentes. Há um certo e um melhor? Talvez todos funcionem, mas como fazer funcionar o que queremos?
Meu ponto de vista era de que não podia te ter.
De algum modo essa viagem me fez repensar isso.
Existem pessoas que não pensam do mesmo modo. Alguns me dizem que eu posso, sim, vir a ter o que quero de você.
Antes eu diria que essas pessoas não entendem minha situação.
Mas agora... será mesmo?, afinal, POR QUE não?

Essa é a pergunta que eu venho tentando responder e nunca consigo. Sempre tive certeza DE QUE não podia te ter, mas nunca entendi bem o por quê. Talvez porque não haja um por quê. Existem fatores, mas nenhum deles me parece decisivo.
Talvez isso seja um pingo de otimismo em uma pessoa que jamais conheceu algo que não o terrível pessimismo de quem é realista. Talvez esse pingo seja idiota e ingênuo. Como é ingênuo pensar, como penso, que eu realmente posso te fazer feliz.
Foda-se.
Eu posso te ter. Campinasmente.

Ainda preciso descobrir como... como o quê?
Como te conquistar.
Parece esquisito falar isso, mas ao mesmo tempo soa bem. Soa bem falar, pela primeira vez, que quero te conquistar ao invés de dizer que tudo é impossível e nada vale a pena. Se você não gosta de mim como gosto de você, quero mudar essa situação.
E depois de quatro dias em Campinas, isso É possível.

Acho que não sou mais o mesmo,
depois de ter feito as provas de aptidão...
depois de ter perdido a conta...
depois de ter gritado certas coisas...
depois de ter sido visto com certos olhos...
depois de ter visto certas coisas...
depois de ter tido certas conversas...
depois de ter ficado quietinho e imóvel...
depois de ter aberto os olhos para certas imagens únicas...
depois de ter andado para certos lugares...
mesmo depois de ter chorado por você em Campinas...

E se agora eu posso ser um pouco otimista, talvez nem tudo esteja perdido.
E eu te quero te quero te quero te quero!!! E isso nem corta minha garganta ao dizer!!!

De alguma forma o céu nublado de são paulo sumiu e foi substituído pelo céu azul de campinas, e o eterno calor continua me afligindo deliciosamente... É desse calor que é feito meu novo olhar sobre você, um olhar ativo e vivo. Finalmente algo em mim que é vivo. Algo que aviva até a saudade que sinto de você... quero te ver, logo.

Fala comigo como a chuva. E deixa-me ouvir.
Houve uma vez em que quis ouvir seu corpo me falar. Ouvi, mas não sei se ele falou mesmo. Ouvi que me amavas, mas será que o disseste?
Como dói que as pessoas possam dizer certas coisas sem querer.

Tem que haver um jeito.

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade

Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo porque
eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Creio que todos entendam que eu sou meio novo nesse terreno de “te conquistar”.
Pra falar a verdade, não faço idéia do que fazer.
Mas hemos de descobrir! De um modo ou de outro! Ou morrer tentando. Tudo bem. Esse sorriso que agora sinto se desenhar timidamente em minha face vale tudo. Esse sorriso que imita os sorrisos que mostro quando falo de você para os outros. Esse sorriso é o que me faz querer sempre te amar! E as pessoas dizem que sou louco por não querer te esquecer, mas vendo esse sorriso sei que me entendem, também.
Já que é tão raro escrever qualquer coisa sorrindo.
Um beijo, Serafim, Demónio. Um beijo, carne e sangue, e flor e beleza.

26.1.06

Coragem

O moleque, pensativo
de repente encara um gato
Que o abençoa, muito altivo.

O moleque compreende.

A Afirmação

Rápido
Por compaixão!
onde escondo
tanto não?

Estrofe de Infância Menina

-Bonequinha, bonequinha
de onde vem tua alegria?
Tua cara mais sem vida...!
Onde eu ponho a bateria?

Acusação e Esvaecimento

-Foste tu! ímpia
quem assassinaste minha ilusão

-Xerimbabo querido...
Some tu!a ilusão é só minha

24.1.06

Quatro coisas de que eu tenho medo

  • ET
  • Pedra Molhada
  • TPM
  • Banca Examinadora

19.1.06

Medo grande de um vazio final
ou
Não posso esmagá-las, são incorpóreas

Com o rosto sempre voltado ao chão
Vejo passar fantasmas de formigas:
Trazem às costas cada uma um torrão,
Cada uma é, portanto, minha inimiga.

Às costas um torrão horrível trazem
Composto de um vazio que me amedronta:
Nos torrões mil ausências tuas jazem,
Que as formigas carregam em afronta.

Perdido em olhar seu caminho anão,
Não percebo que um pouco mais além
As formigas, com seu frio ectoplasma

Reúnem o vazio feito torrão
Num castelo de distância e desdém:
Tua Ausência, onde habitam meus fantasmas.

19/01/06
Poemetos (pra ti, é óbvio)

Certeza de que me queres

A verdade da miragem
Talvez seja colocar
A esperança na viagem

Toda pipa devia ser vermelha
O imundo mundo:
Só até ver
Bem lá no fundo
Uma libélula.

Ode a uma pinta

Ó pinta,
desperte
do sono
da pele!
Não minta,
liberte,
teu dono
revele!

tua auto-biografia
Todo
Dia
Surge
Uma
Nova
Marca,
Cica-
Triz.
Pode
Vir de
Machu-
Cado,
Pode
Vir de
Ser fe-
Liz.


É belo e brilha, mas não faz sentido
Um escaravelho vem e me diz
Que ainda não aprendeu a falar.
Antes que ele saia pela janela,
Mato-o e prendo no meu mural.

Pra te caber
Quantas sílabas um verso pode ter e ainda continuar sendo apenas
[um verso?
A partir de que numeral cardinal os colchetes passam a ser uma
[mentira?


Masoquismo amoroso
No sangue que escorre
Do dente que morde,
É a vida que corre
Pro rim do mais forte.

Vergonhas
Teu sexo,
e já não consigo respirar.
Até que me falas,
e o seu hálito dissipado no quarto todo
abre minha traquéia
à força.

Verão
Como consegues
Estar sempre
Tão quente?
Ah!, teus abraços!
Como pode o calor ser tão bom?

Semelhança entre sonho e pesadelo
Um dia resolves
Ouvir bem
Nosso abraço:
O som do ar
Em minha respiração
Funda,
E descobres
Que te quero
porque te cheiro.

18/01/06

18.1.06

Desculpa para espiar teu corpo
ou
Inquietação metafísica

Juro que não é sempre,
mas às vezes, quando te vejo,
me vem uma vontade
................... não, na verdade:
Uma curiosidade,
ainda que seja difícil
admitir que há em mim
por você algo que não seja
necessário, inflamável.

Sem que tu me percebas,
tento olhar dentro de teus olhos
e encontrar uma luz
(pois foi tu que me deste a dica,
de procurar ali).
Encontro essa luz, então tento
olhar mais dentro dela
por uma luz dentro da luz
que dê Luz à primeira.

Também, confesso, quis
ler em tuas costas, em tua pele,
a verdade de ti,
que me escapa nas tuas palavras,
que não sei decifrar.
Nas tuas costas foco a visão
até me perder nelas
Na nudez delas e na tua...
Será o calor teu Ser?

Com teus braços e pernas
espero que me entregue a ti,
tua verdade profunda,
que, sei, não me queres mostrar...
mas o que de tua Alma
não me mostras sem perceber
no mover de tua mão,
no seu caminhar distraído
ou numa espreguiçada?

Claro, sei que não há
nada que possa ser tua Essência
E nem quero que haja.
Acho que é só que.....................
Difícil admitir.
Acho que é só que, me desculpe,
eu queria que fosse
eu, caso houvesse essa tua Luz,
o primeiro a saber.

18/01/06

15.1.06

Lembranças na noite

Numa noite, foragidos. O Mar, o Céu, a Lua e toda a Vida, a Entrega, e a Fé.
Numa noite, reclusos. Lembranças de um tempo arcaico que ainda permeia o corpo, humano.
Noites; mergulho eterno: água e sal circundam, apenas uma continuação daquele tempo arcaico que se prolonga, finito e transcendente, no espaço tempo inalcansável, mas recipiente.
Lua clara quase cheia, fornece sombras e flagra a noite e sua forma.

Bela, linda, criatura bonita
Nem menina nem mulher
Tem espelho no seu rosto de neve
Nem menina nem mulher
Apenas apanhei na beira mar
Um taxi pra estação lunar

E lembro.
Lembranças que se fazem apenas lembrar. Saudade, Vergonha, Medo, Sabor uma capa me cobre por completo esvoaçante e num instante (vários) dissipa-se e permite que a Lua ilumine meu corpo de carga e vôo. Meu corpo de carga e vôo, limitado pela pele falha e viva (minha pele envelhece e cresce e os pêlos arrepiam e roçam a luz distante), meu corpo de carga e vôo, o mesmo das lembranças insípidas (pois insípido me sou) queridas - vida! - que constituem meu corpo. Corpo de carga e vôo.

Lua indiscreta esconde a lágrima que não sai. Deixa ver os olhos... (Tu! acaso reparaste em meus olhos? Vê em meus olhos minha nudez e enxerga minha Natureza. Escuta o silêncio de minhas palavras inquietas e a inquietude de meus silêncios. Percebe e desfruta da serenidade fundamental da minha existência. Cria-me e ajuda-me e demole meus caprichos cracas e crostas e descobre-me. Tira-me da caverna, dá a mão que eu te caminho; e encorajo-me para te fortificar, e te fortifico para que não me deixes desistir. Nenhum de nós sabe o caminho, e é inevitavelmente receosos que abandonamos a desumana imobilidade.)

Minhas histórias talvez não interessem a ninguém. Apenas histórias! Não me interessa contá-las. Hoje não conto causos.
A lembrança sou eu.

13.1.06

Civilidade

e se também te quero sem roupas?
Quero-te ao meu lado rindo
E quero-te em minha mente como certeza
Quero-te e a tuas mãos tímidas
E quero conversar contigo por horas
Quero poder olhar para seus olhos sem temer que me percebas
E quero poder olhar para seus olhos sem, ridículo, enrubescer
Quero passear contigo civilizadamente pela cidade
E quero telefonar para teu colo toda noite
Quero ir a uma festa com você
E quero que sejamos um casal bonito...

Quero-te também incivilizadamente.
E até parece que querer-te incivilizadamente
é se também te quero sem roupas
Mas me proíbem de te amar
E de te ter ao meu lado rindo
E de te ter em minha mente como certeza
E de te ter e às tuas mãos tímidas
E de te ter conversando comigo por horas
E de te ter e aos teus olhos sob meus olhos destemidos
E de te ter e aos teus olhos enrubescidos de amor e só
E de te ter comigo passeando pela cidade
E de te ter e ao teu colo ao telefone
E de te ter numa festa comigo
E de te ter ao meu lado e pronto.

Incivilizado todo o meu desejo
Meu querer é um defunto profano
E te querer é uma selvageria

E eu selvagem, mantido em grades
Numa cela à prova de som
Grito por ti

Tu me assistes no zoológico
Ris de minhas tentativas vãs de te agarrar
E de te estraçalhar selvagemmente pra te provar que te amo.

(Selvageria: mínimo de beleza, máximo de expressividade,
E eu me reconheço o poeta da selvageria.)

13/01/06

11.1.06

Dialetiquinha pobre e apaixonada
ou
Madrigal sujo

E sem destino, e louco, sou o mar
Patético, sonâmbulo e sem fim.
(Vinícius de Moraes)


Sou o mar,
E em mim te vejo entrar,
Pisar minha testa sem pensar.
Te cubro com minhas águas e sou o mar!,
E te salgo e te observo, tu estás em mim a me brincar
E eu estou em você a te abrir, a te preencher, a te gozar...

Tu me presenteias, não com seu desejado corpo: com teu lixo.
Teus dejetos me ofereces ou me cospes simplesmente.
Como, ávido, teus restos como faz um bicho,
De tudo (amor, comida) carente,
E em mim te vi mijar!,
Sou o mar...

Patético
Eu sigo-te
Sonâmbulo
Espero-te
Ignoro se
Me vês assim
Um lixo que
De lixo vais
Encher sem mais
E sigo-te
E sigo te
Amando só
E nada mais
Contente estou...

Sou um mar,
..................................................
E com teu mijo cresço, gostosamente, em volume e em calor...

11/01/06
Apesar de tudo, és tudo
ou
Meu sol, nem que seja em pensamento

A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
(Álvares de Azevedo)


Apesar de tudo, és tudo; apesar
Do quanto dói e doerá ainda,
Te quero tanto e quererei ainda,
Te espero em pranto e esperarei ainda,

Enquanto sois e, sei, sereis ainda
Fonte dos sóis que me iluminarão,
Enquanto sofro, com tua luz infinda,
Enquanto sofro e sofrerei ainda.

Apesar de tudo, és tudo que quero
E amo num universo infinito,
Quieto, vazio e solitário, exceto
Por sua presença e seu bondoso grito.

Assim ao lado seu contente vivo
E podendo te ver já me contento:
Só tua vida é que pode me dar vida,
Tu és meu sol, nem que seja em pensamento.

11/01/06
Sonho contigo e não
ou
Idéia fixa de tua perfeição

Mesmo ao sonhar contigo,
só consigo que me ames noutro sonho
dentro do meu sonho primitivo...
(João Guimarães Rosa)


Claro que sonho contigo,
Comigo tua presença eterna,
Etérea, troante, bela,
Vela um fundado medo.

Cedo me acordas rindo:

Vindo encontrar-me só,
Pó cobrindo-me a vida,
Viras minha idéia à direita
Direto em direção ao dia.

Dita a verdade enfim:

Em mim nem te tenho em sono,
Sonho só com tua distância,
Instância de uma sentença:
Certeza de que me é caro...

(Teu corpo teu espírito e tu).

11/01/06

6.1.06

Haicais inspirados por haicais
ou
Um ano de inverno sem você

A.
Primeiro sonho do ano —
Sem contar a ninguém
Sorrio em silêncio.
(hatsu yume ya himete katarazu hitori emu)
— Shô-u

Ao mar um pedido
De Amor Novo devorado
Por um peixe ártico.

B.
É anônimo o autor
Deste esplêndido poema
Sobre a primavera.
(yomibito o shirazaru haru no shûka kana)
— Shiki


Se me identifico
Ao sentir a primavera
Sempre com a neve...

C.
Recolhendo toda
A chuva do mês de maio
Corre o rio Mogami.
(samidare o atsumete hayashi mogamigawa)
— Bashô


Banho no verão.
Se eu vejo seu corpo nu
Suo até o inverno.

D.
Lua cheia!
Por mais que caminhe,
O céu é de outro lugar.
(meigetsu ya ittemo ittemo yoso no sora)
— Chiyo-jo

Digo que te amo
Antes que o outono termine:
Já velho no frio...

E.
Primeira neve —
Este velho penico
É meu maior tesouro.
(hatsu-yuki ya ichi no takara no furu-shibin)
— Issa

Preso sob a neve
Pisas, quente, sobre mim...
Sangue congelado.

06/01/06
Samsara, experimento com Ghazal
ou
Me perco na eterna lente do corpo

1. Eu miro, infinitamente, teu corpo:
Me perco na eterna lente do corpo.
2. Te vejo me provocando em tua dança;
Pergunto: será que mente teu corpo?
3. Te afastas quando procuro teu nome,
Afastas, por mais que eu tente, teu corpo!
4. (Te vejo e tua beleza me mata –
Teu corpo, ai de mim, não sente meu corpo)
5. Tua alma de anjo é pura, incorpórea
Por mais que um centauro invente teu corpo...

06/01/06
Poema com um asterisco no centro
ou
Te esperando e

E eu deito na cama te esperando e
Que venha um pensamento de você
Que não seja mais a dor de te querer
E de querer dizer que eu te amo tanto...

E eu, contando as sílabas que fiz
Pra ti nesse poema e em tantos outros
Que já não dizem nada e são tão poucos
Pra marcar no tempo o quanto que te quis...

E eu, tentando e tanto me esforçando
Pra te amar assim singelo e simplesmente,
Proibido, não importa o quanto tente,
De mesmo sem te ter seguir te amando...

*

E Tu segues, distante, o calendário
E olhas para teu futuro infindo
Como se, pra ti, até fosse bem-vindo
O tempo que me espreita sanguinário...

E Tu, sem medo, somes no oceano
Mergulha cem mil léguas para o fundo
Procuro-te, chorando, pelo mundo:
Inútil é meu esforço sobre-humano...

E Tu, sem nem saberes, me ignoras
Nem se rebaixa ao nível de meus olhos
Despreza a eterna lágrima que molha-os
Com teu sadismo inato me apavoras...

06/01/06
Poema inútil de título tautológico
ou
Vida inútil de título enganoso

1.

É a luta mais vã
A cada manhã:
Lutar com palavras,
Lutar com afã;

Do modo que for,
Lutar, afinal,
Da luta do autor
À do agressor,
Lutar, como for,
Lutar, como for.

Lutar, por que não?,
Lutar pelo amor,
Igualmente vão:
Lutamos, então,
Com dores na mão,
Com tola paixão,
Em cega prisão,
Em prostituição,
Em só solidão,
O eterno refrão
Da masturbação.

Lutamos sem crer
Naquilo que é óbvio:
Que vamos morrer
Sem nunca colher
Sem nunca colher
Sem nunca colher.

Assim, lutaremos,
Ainda e pra sempre,
Em vão lutaremos
À sós lutaremos
Enfim lutaremos
Vivos lutaremos
Sem nunca viver.


2.

O que pode fazer o poeta
Ao saber que a verdade mais certa
É sua impotência e hipocrisia?
O poeta que faz poesia
Denunciando que é hipocrisia
Fazer o que faz e lutar?
Aquele que escreve uns versos maus
Que ele próprio confirma, afinal,
Serem inúteis serem estéreis?
Que pode o hipócrita fazer quando
Descobriu que todo seu encanto
É justamente a falsidade?
Quando, elogiando toda inação,
Porque sempre lhe respondem não,
Está lutando, como for.

3.

É vã a luta por ti.
Igualmente vã a dor.
É vão, assim, meu amor.
E é vão, tão vão, se te vi.

Inútil estar aqui.
Inútil gritar por algo.
É vão implorar por algo.
E é vão, tão vão, se te vi.

A dor é vã igualmente.
Não há verso que acalente.
Nada de útil já li.
E é vão, tão vão, se te vi.

Gritar por algo é sem uso.
O esforço por ti obtuso.
Algo Absoluto se ri.
E é vão, tão vão, se te vi.

4.

Mas sei que, tão vão, te vi.
Sei que, só isso: te vi.
Que envergonhado te vi.
Dane-se o resto: te vi.

De um jeito que nunca te havia visto antes.

05/01/06

4.1.06

Preciso descobrir como. Como fazer, como contar, como fazer que não fiquem putos comigo. Como fazer disso algo bom. Como fazer isso de modo que vocês entendam o significado. Como deixar algo de bom pra vocês através disso. Como não doer tanto fazer isso. Como contar pra Você que vou fazer isso (ou que fiz isso, no futuro). Como fazer com que não banalizem isso ou sacralizem isso ou fodam com tudo...

Te adoro, te adoro, te adoro.