11.10.04

Post Interrompido (resolvi não terminá-lo)

Estou há vinte e nove minutos procurando um bom modo de começar este post. Procurei quadros, poemas, músicas no diretório onde estão minhas músicas. Não há, porém, uma música que sirva para começar este meu post.Queria usar algum verso no meu título. Talvez um "I'm wandering round and round nowhere to go/ I 'm lonely in London London is lovely so". Mas não é disso que eu quero falar agora.Nem Chico Buarque me satisfaz. De certa forma força-se em mim um silêncio, habitado pelo zumbido do computador. Ele se instala: desligo todo som do computador, fico quieto, bato o mais maciamente possível no teclado. Mas não o aceito, procuro músicas que não me movem.
Doe suas idéias para um artista da ratoeira.
Tenho vontade de escrever aqui um testamento. Todos precisam dizer certas coisas antes de morrer. Sinto, ao contrário, que preciso dizer certas coisas antes de viver. Ou morrer. Ou nascer. Ou chorar. Ou viver. Recorreria, talvez, à velha imagem das palavras presas na garganta, precisando sair mas não conseguindo. Recuso-a, porém, pois nunca as sinto nessa parte do meu corpo. As palavras estão em diversos lugares, cada uma encaixando-se onde pode encaixar-se. E preciso fugir à superficialidade das palavras que me vêm, ainda que pareçam essenciais. Realmente não são. As palavras essenciais são outras, são as que não estão falando de mim. Eu vou morrer, mais cedo do que tarde. Eu tenho muito medo de morrer. De morrer antes. Mas morrer antes é o que aguarda a todos nós. Percebo agora que não vai demorar muito para eu morrer. Eu não me surpreenderia se eu morresse daqui a poucos meses. Não tenho muitos anos de vida. Pela primeira vez enfrento essa verdade e começo a chorar. Talvez até por isso mesmo eu deva escrever logo meu testamento, dizer o que preciso dizer. Mas o que preciso dizer são puras Idéias, e usar a arte imitativa das palavras para expressá-lo seria afastar-se duplamente do real. Preciso soltar grunhidos: não uivos, não latidos, não miados, não relinchares. Preciso gemer, preciso inventar o Verbo Abstrato. Aquilo que pode sair em palavras, sai logo em insultos.
Tenho nojo da felicidade. Odeio ver pessoas felizes porque eu não posso sê-lo também. A felicidade vomita em mim, fazendo-me revomitar em mim mesmo. Detesto a alegria, o contentamento, a risada, a jovialidade, a despreocupação, a singeleza, detesto quem é feliz, detesto quem se diverte, odeio mesmo. Se você já mostrou sintomas de felicidade ou alegria ou contentamento ou diversão ou jovialidade ou graça ou simplicidade perto de mim, provavemente eu já desejei segurar sua língua e cortá-la lentamente com uma faca, banhando meu rosto no sangue que escorresse para esconder minhas lágrimas - as mesmas que vêm aos olhos quando enfrento a verdade de minha morte que virá em breve.Sinta a agressão, o ódio em você. Sim, eu te odeio. Eu, que tantos dias por semana mês ou ano sou legal com você, te odeio. "Isto não é diversão. Não é para você se divertir. A pena no papel. A faca no estômago. O sexo entre as pernas. O amor no coração. Cada palavra dói tanto em mim quanto em você, ou deveria. Furo seus olhos. Abro seu estômago. Preencho seus espaços, em branco e vermelho."Eu odeio a pessoa que eu me tornarei se um dia chegar a ser feliz - possibilidade que um dia considerei certa, indubitável, e que hoje se torna deliciosamente maior. Não odiarei quando o for. Olharei para esse meu passado negro e o negarei, jurarei que eu estava errado, que era um momento de desespero, que eu fui fraco -

(*COMPLETAR IDÉIA: "As palavras essenciais são outras, são as que não estão falando de mim.")