30.5.07

Do inesperado desafogar

Momento em que, no meio da rua, uma das três garotas me oferece um simpático gracejo elogioso, redescubro a deliciosa sensação de romper o tédio e passividade costumeira.
(E não sendo pela injeção no ego e nem pela possível ironia.)
É como aquele sujeito, pelos lados de Santo Amaro, que sem camiseta e um saco de pão nas mãos vinha cantando Paulinho da Viola, em alta e despreocupada voz; ou aqueles comentários, perdões e com-licenças absolutamente usuais que às vezes a gente flagra e ri com seu querido desconhecido da bobeira das normas; ou ainda das danças que eu fazia, com caras e bocas e assustava as pobres e esquecidas senhoras de partes pretensiosas da cidade.
A garota do outro lado da rua: nos cumprimentamos sem os receios do desconhecido e nos encontramos num diálogo de olhares e gestos e sem nos importar com a perplexidade dos que a acompanhavam.
E há ainda o profeta! Aquele que perdeu os dentes numa briga com a polícia (me contou certa vez na reitoria), sabe das coisas do mundo e participa (sempre que pode) de revoluções.

17.5.07

Lendo o Jornal

É isso aí, vá jogar futebol. O sol ainda não chegou e ainda é tempo de a gente sambar.
Dia sim, dia não, estamos todos separados nessa. Vidas independentes, solidão. Nós três inclusive quase não mais nos vemos. E continuamos a sentir, pensar. Escrever talvez não. No mais, a piscina deste blog está cheia de ratos (nossas idéias, porém, tentam acompanhar os fatos).
E tudo vai um pouco mais além, procurando o buraco que é sempre mais embaixo. Foda-se a política, foda-se a greve. Está tudo um pouco mais errado. E a classe média talvez desista de investir em educação — ensino superior para ganhar até três salários mínimos. O sonho da escola particular que permita a faculdade pública, mas talvez a pública já nem seja assim tão válida. Afinal o que importa é receber as melhores ofertas de emprego. E, antes disso, os melhores estágios. Foda-se o estudante vândalo nervoso e grevista que se crê o mais politizado. E o tietê não vai ficar limpo ano que vem porque os cidadãos não ligam seus encanamentos à rede de esgoto. Fodam-se os prédios de alto padrão da Vila Nova Conceição que economizaram na encanação; aqueles mesmos que nunca vão enxergar o que acontece no Jardim ângela. E os filhos da puta que fazem lindos concursos para substituir o projeto vencedor (aquele que economiza energia, que evita a poluição, que foi feito por um especialista) por um mais porco e mais barato (mas certamente mais caro ao longo dos anos). É claro que o buraco é mais embaixo. Estamos todos absolutamente ferrados, nessa.

Desculpem, desculpem. Estou um pouco irritada. E entrar neste blog me lembra Yuri e Artur que juntos me lembram política, posicionamento, consciência crítica, que me lembram Thaís, que, enfim, desculpem, eu nunca deveria ter dito "foda-se" para a Política. É claro. Saiu ontem uma notícia sobre uma fazenda de recuperação do cerrado que, bem, foi invadida pelo Mitra, que se diz bonzinho e pacífico e, bem, os invasores foram presos por desmatar cerrado (até aí, tudo bem), mas o Ibama veio fiscalizar a fazenda que até agora está paralizada porque o Ibama obviamente não vai parar pra encontrar provas de que eles estavam os não estavam agredindo o meio ambiente (obviamente, não é mesmo?, por ter a proposta de recuperar o cerrado eles automaticamente entram na lista de principais suspeitos de atacar a natureza ¬¬).Sei lá.

Estou com saudades deste blog. Com saudade dos tempos em que ele fazia mais sentido.

2.5.07

Depois de desencanar de quase tudo, comer até me encher, dormir sem parar, escrever quase nada, desenhar quase nada, descansar os joelhos e desistir das vontades antigas (sem botar nada no lugar!) a única coisa que eu peço agora é jogar um pouquinho de bola, uma pelada, artilheiro, que seja, mas só pra correr um pouco, me mexer, jogar qual quando a gente se fode em todo o resto ou está se fodendo pra todo o resto. Jogar e se deliciar: exigindo pênalti, tentando bicicleta, enfiando carrinho, furando feio, e até fazer aquele gol lindo que vira lenda mas não passa no jornal; melhor.