27.8.06

...e pra gente nada...

Meu post “Serafim” está fazendo um ano agora, nesse minuto aliás. Estourem o champanhe, apaguemos as velinhas, forrozeemos até o dia clarear. Ou façam isso vocês, pois eu vou estar chorando em meu quarto durante isso. Não sei se vocês sabem, mas um ano é tempo pacas, são alguns milhões de segundos pensando em você sofrendo por você morrendo por você fugindo de você vivendo para você, enfim. Fiquei bastante tempo pensando no que deveria escrever neste texto de aniversário, como comemorar propriamente. Infelizmente para vocês, o sorteio do carro não deu certo este ano, sofrer sequer paga bem (se dinheiro não traz felicidade, pelo menos a infelicidade podia trazer dinheiro). Mas podemos fazer algo do tipo “quem acertar quantas vezes eu quis me matar durante esse último ano ganha um conjunto de talheres” ou até uma viagem pra ilha de Caras. Sim, eu estou amargo, é isso que acontece mesmo. E não tem volta.

Uma das possibilidades era aproveitar a oportunidade para falar sobre você, sobre tudo que você é de bom, sobre como é difícil imaginar que uma pessoa tão maravilhosa realmente exista nesta merda de mundo, falando que eu já penso isso há mais de um ano e portanto não é somente (embora seja também) uma opinião totalmente parcial e apaixonada, queria falar sobre como você consegue fazer eu me sentir bem mesmo sem poder querer o que eu queria que você quisesse, sobre como você mudou minha vida de um modo que não tem volta porque você é uma presença maior que essa vida.

Também pensei em falar completamente sinceramente sobre o que eu vejo em meu futuro: dizer que eu sei que provavelmente seria possível superar essa paixão, mas que parte de mim morreria no processo, e que eu jamais me curaria por inteiro (aliás, eu jamais me curaria mesmo parcialmente, o sangue continuaria escorrendo sempre, me fazendo a cada momento menos vivo).

Mas na verdade não dá pra falar nada disso, porque a verdade é demasiado premente. Estou vazio, vazio. Não tenho sentido algum. Todos meus sonhos de outrora foram transformados em ruínas patéticas, expostas para chacota geral. Sou hoje um fantasma penitente...

Até bem recentemente ainda fui capaz de criar utopias, de imaginar que vocês faziam toda a diferença, mas é mentira. Vocês, meus amigos, não importam, porque vocês jamais me alcançarão – vocês jamais me alcançaram. Mesmo quem eu digo amar... vocês não sentem a urgência que eu sinto a cada instante, vocês não vêem que é questão de vida ou morte.

Morte, então.

E você, meu anjo, você olha pra mim tão...
Você está errado, mas nada o fará perceber, permanecerá errado para sempre.
Adeus às esperanças, adeus!

Não sei o que farei quando terminar de escrever isto, se me jogarei pela janela ou se dormirei ou se passarei a noite em claro chorando (como tantas outras noites) ou se irei embora para algum país distante e nunca mais voltarei... Não quero mais voltar para São Paulo aos fins de semana, não tem sentido, vocês não estão aqui pra mim e você jamais estará. Não tenho porque voltar para Barão durante a semana, não tenho vida lá e não tenho mais sonho.

Na sua derradeira possibilidade de existência, meu personagem das cenas da aula de A Palavra, Ângelo Miguel Foscolo Sturm (eu), foi confrontado com a impossibilidade de viver aqui e resolveu voltar e mudar-se de vez para a França. Nada me espera na França, no entanto.

E as mil coisas que vocês falam tentando explicar ou justificar ou fazer sentido de ações aleatórias nada importam. Vocês não podem mais fazer nada por mim, então por favor me esqueçam pra sempre.

Meu anjo, o mundo foi lindo por alguns instantes na minha imaginação, o Nosso mundo, a Nossa vida juntos, os dias que passávamos os dois junto de nossos amigos, as noites que passávamos juntos um do outro, as milhares de possibilidades de primeiros beijos e primeiros encontros e primeiros amores e primeiros e segundos e todos os olhares que nos daríamos, um mundo todo de verdade que foi minha morada por um ano inteiro, foi lindo esse universo em que as coisas podiam dar certo mesmo que um outro mundo mais cruel me esperasse sempre, foi linda cada uma das palavras que você me disse em minha imaginação, com cada uma das entonações, com cada pausa, foram lindas todas as lágrimas de felicidade que eu inventava por sobre as de dor, foi linda sua presença ao meu lado quando eu já não podia me imaginar sem você, foram lindos até os momentos de ansiedade e desespero que imaginei logo antes de nossas felicidades imaginárias. Mas a vida não é bela como você, meu amor, e são as palavras que você realmente me disse, todas elas, que a toda hora martelam em minha cabeça aniquilando uma a uma minhas frágeis esperanças. Acho que estão todas mortas agora.

na verdade tudo isso é uma merda, mas terá sido pior ainda se no futuro eu virar o que eu acho que vou virar, e não vejo como prevenir o pior, porque nessa vida se tem ou o melhor ou o pior, e o melhor jamais me será permitido

Sempre lembre o quanto eu te amo, por favor. E feliz aniversário, Serafim..
EU : UE
VOCÊ

SENTIR
S E N T I R

S E N T I R

S E N T I R

SI TI
SI TI

tudo vida deus vida morte amor

26.8.06

Poema - Encontro de Escolas Solidárias

Estava lá, para todos lerem. Era assim:

O Artista Inconfessável
João Cabral de Melo Neto

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre o fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificilmente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.


Com uma lembrança de gente que costumava se importar. (Que são todas as gentes.)
E dos que estávam lá.

23.8.06

Notícias do Efeito Artur

Às duas e meia da manhã, acordei com uma caneca d'água sendo derrubada sobre mim por um movimento que fiz para arrumar meu cobertor.

[fique ligado, porque a qualquer momento eu posso fazer outra coisa estúpida e postar aqui.]

20.8.06

U.T.I.

Mas que peso...

Quem é que não deixa as pessoas sentirem tranqüilidade em vida?

Festa do Edu - Vida

Êta festa boa a de ontem.
Êh, mundinho...

Quem ter que vir, que venha
Quem tem que ir, que vá.

19.8.06

Não há coisa mais linda neste mundo

Lamento

Morena, tem pena
Mas ouve o meu lamento
Tento em vão te esquecer
Mas, ai, o meu tormento é tanto
Que eu vivo em prantos, sou tão infeliz
Não há coisa mais triste meu benzinho
Que esse chorinho que eu te fiz
Sozinho, morena
Você nem tem mais pena
Ai, meu bem, fiquei tão só
Tem dó, tem dó de mim
Porque eu estou triste assim por amor de você
Não há coisa mais linda neste mundo
Que o meu carinho por você
Morena, tem pena
Mas ouve o meu lamento
Tento em vão te esquecer
Mas, ai, o meu tormento é tanto
Que eu vivo em prantos, sou tão infeliz
Não há coisa mais triste meu benzinho
Que esse chorinho que eu te fiz
Sozinho, morena
Você nem tem mais pena
Ai, meu bem, fiquei tão só
Tem dó, tem dó de mim
Porque eu estou triste assim por amor de você
Não há coisa mais linda neste mundo
Que o meu carinho por você
(Pixinguinha)

E enquanto canto, lamentando,
Me vem alegria e a tranquilidade
Do carinho que tenho por ti
Como carinho que transcende
Vai a todos, vira música
e, sem o teu, me reconforto
apenas com o amor que sai de mim
passa pelo todo
e afinal chega em mim mesmo.
Infinito.



Glosa a um poema da Marina
ou
Perdida jangada

Como se, na superfície do mar
Chamas me despertassem para a vida
Lambendo esta jangada que, perdida,
Sabe seu rumo, mas não seu lugar
Ou como se o fantasma dos meus sonos
Me despertasse para luas escuras
E escorressem dos sonhos amarguras
Gulas impuras, mêdos e abandonos
Seria assim, talvez, se tu gritasses
Ou se eu, por minha vez, nada dissesse
Arrancarias-me dos meus impasses
Eu nada sei do mundo, eu não o sinto
Mas talvez ao teu lado eu compreendesse
Pois já venceste -- a ti eu nunca minto.
(Marina)


Perdido em centrípeto vagar
Meu cego coração com seus impasses
(Seus gélidos, temíveis desenlaces)
Sabe seu rumo, mas não seu lugar.
Quisera libertar-se da clausura
Sonhara com o necessário instante
Em que tu com teus olhos cintilantes
O despertasse para luas escuras.
Embora para o mundo incurioso
Descubro um novo mundo em meu amar
(O mundo, verdadeiro e glorioso)
Se encostas teu calor sobre a ferida
Como se, na superfície do mar
Chamas me despertassem para a vida.

19/08/06

18.8.06

Soneto de ódio no amor
ou
Soneto de fidelidade, também

Também, ao meu amor odiarei
Cortante, e por inteiro, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Raiva de igual tamanho guardarei.

No mais das vezes eu o ocultarei,
Iludido por amoroso espanto
De modo que somente riso e pranto
Por meu amor eu me permitirei.

Contudo vez em quando há de voltar
Alguma raiva, loucura invencível
Quem sabe o ódio, gêmeo que é do amor;

Direi, então, assim do meu amor:
Que seja, certamente, intransponível
Mas também possa eu te abominar.

18/08/06
Esquecer para ter passado
ou
The itsy-bitsy spider

Um dia acordei
Porque uma nuvem cobriu o Sol
E estava estirado no chão de barriga pra cima.

Não podia aceitar ser quem eu era.
Quando aceitei sê-lo
Tiraram-me do Lugar em que o era

Estava então gelado e isolado.
Ao voltar pra casa
Tiraram toda minha Referência

Estava então perdido e solitário.
Recriei valores
E alguém quis que eu conhecesse a Paixão

E foi então que eu conheci a morte.
Também a esqueci
E o mundo desmoronou, sem Sentido

E eu caí em desespero e náusea.
O reconstruí
Mas o coloquei nos braços dos Outros

E a solidão se fez irrevogável.
Encontrei alguém
Mas logo nasceu em mim o Amor

E aí eu caí de vez e quebrei as pernas.

18/08/06

17.8.06

Quem estiver atrás de um grande amor (Sugestão de Escuta)

Ceumar e Dante Ozzetti no disco achou!

Em especial a música homônima (2º lugar no festival da TV Cultura de 2005).

Achou!
Dante Ozzetti
Luiz Tatit

Investir
É cultivar o amor
Se despir
É ativar

Resistir
É aturar o amor
Insistir
É saturar

Aderir
É estar com seu amor
Adorar
É superstar

Aplaudir
Até sentindo dor
É amar

Quem puder
Viver um grande amor
Verá

Consentir
É educar o amor
Seduzir
É cutucar

Amarei!
É conjugar o amor
Não amei!
É enxugar

Avançar
É conquistar o amor
Amansar
É como está

Como estou
Com muito amor pra dar
Eu dou!

Quem estiver
Atrás de um grande amor
Achou!


É duro passar pela vida sentindo sempre angústia, desespero e ódio.
Não quero ser feliz. Quero você, e foda-se tudo o mais. A vida, a morte, os outros, eu mesmo.
É duro continuar a vida sabendo sempre que Não.

16.8.06

Com. Sonhos.

Amar é compartilhar os sonhos. Sonharmos juntos, sonhar o sonho do outro, sonhar o outro.
Mas não é isso que acontece?

Eu gosto de sonhar com você.

13.8.06

Desejo, Amor, Desejo, Amor

A verdade é que eu simplesmente tenho de mentir pra mim mesmo para conseguir continuar com tudo isso, porque simplesmente não há futuro na verdade. Eu preciso viver como antes num mundo de sonhos, dormindo sempre para não enfrentar a realidade, preciso viver na fantasia para não ter de me destruir. Preciso acreditar na inevitabilidade de nosso encontro, tenho de me convencer de que algum dia você simplesmente terá de me amar como te amo. Sim, já perdi a paciência de me impedir de te dizer que te amo por algum pudor lingüístico, te amo, te amo, te amo, e você terá de me amar um dia simplesmente porque o mundo explodirá se eu não acreditar de verdade nisso. Porque eu poderia te fazer feliz...
Talvez seja por essa necessidade que minhas fantasias estão voltando a ser tão consistentes e constantes como foram uma vez no passado, que eu estou cada vez me retraindo mais do mundo concreto, que no meu tempo livre eu só consiga deitar na cama e ficar imaginando como será daqui a pouco, quando você me amar e tudo um dia ficar bem. Você entende que não é possível não te esperar? Te espero pra sempre, não importa o que aconteça, e no instante em que você me chamar, eu paro o que estiver fazendo e corro pra te entregar tudo de mim, porque é pra ti que continuo existindo, pra algum dia poder te fazer feliz, é só pra poder dar-me para ti que eu não me mato. Eu não posso me matar: eu te amo. Então eu lembro de um curto passado em que quase parecia que eu te tinha, em que eu podia passar meu tempo com você e os sorrisos floresciam sozinhos e fáceis no meu rosto, quando montávamos uma mesa de pingue-pongue ou quando eu te via caindo na areia ou quando jogávamos cartas e machucávamos nossas mãos para tentar ganhar ou quando eu te via saindo por aquele portão depois de esperar por algum tempo ou quando você me ligou e eu só pude sorrir ou quando você chegou e eu só pude rir e zombar ou quando de noite você se aproximou de mim e dormimos encostados ou quando num movimento noturno eu pude sentir todo o seu cheiro ou quando eu vi o sol nascendo por trás de seu rosto adormecido ou quando eu te levei pra conhecer meu futuro mundo ou quando eu te levei até onde você tinha de ir ou quando eu olhei pra trás e te vi subindo as escadas e eu chorei ou quando você ligou pra mim novamente e todos ao meu redor perceberam que eu voltei a viver um pouquinho ou quando eu te esperei naquela esquina por onde sempre passo ainda hoje e te vi chegando ou quando você me contava como tinha sido ou quando eu me despedi de você novamente ou quando chegou sua mensagem me desejando uma boa noite ou quando viajamos juntos e de novo dormimos encostados ou quando você me permitiu algo que depois me contaram que você não permitia normalmente ou quando eu quase perdi a voz para não ter de te confessar que te tenho esta paixão ou quando você me confortou e me abraçou depois de saber tudo, e todas as vezes em que nós dois rimos juntos.
Foram essas vezes que me fizeram ter certeza de que a perfeição existe, porque esse tipo de classificação é circunstancial, e por isso eu posso dizer que o que é perfeito pra mim é você.
Por isso eu tenho de mentir pra mim e dizer que não há duvidas mais. Serei seu.
Por isso eu sou romântico: porque não posso não sê-lo. Meu amor por você é meu maior e único valor, minha única posse, e para mim é absoluto. Nosso amor será a salvação ou nada será. Por isso tenho certezas.
E porque tenho essas certezas entendi que não há, nesse amor, desespero. Estou desesperadamente apaixonado por você, mas meu amor é calmo e quando você vier até mim eu saberei ser tranqüilo para não te assustar, saberei não depender de você mais do que é a própria definição de amor, saberei te respeitar. Então pode vir.
Estou esperando.

Às vezes deve parecer que eu falo coisas demais nesse blog, que eu falo tudo de mim, mas isso não é verdade. Porque se eu realmente me abrisse seria... terrível. Dentro de mim existe uma escuridão tão grande que pode vir a ser infinita, se a caixa for aberta por mãos incautas.
Aliás, o que escrevo aqui, eu sei, é um pouco pesado. Mas não obrigo ninguém a ler.
Aliás, não exijo nada de ninguém.
Então não entendo porque tanta gente procura exigir tanto de mim. Não exijam que eu seja feliz, e muito menos me exijam que haja uma solução. Essa preocupação é hipócrita e não me interessa. Se quiserem ler o que está aqui, é para entender ou pelo menos aceitar que as coisas são assim e que eu sei o que acontece. Odeio quem pensa que sabe das coisas.

Ainda acho, Marina, que você devia casar comigo. E com isso eu quero dizer que eu sei que quero passar toda a minha vida com você. E realmente me parece meio besta e sem sentido essa coisa de a gente só casar com uma pessoa, com a pessoa que nós amamos-com-A-maiúsculo. Eu posso não te amar assim, mas eu te amo, e seria lindo se eu pudesse viver-com você. Porque eu adoro passar meu tempo com você, mas do jeito que está eu simplesmente sinto que não é suficiente. Eu dependo de você sim, Mali, porque amar é depender. Você é a melhor coisa que há na minha vida. Pode ser que seja impossível, mas sei que não é “querer demais” querer viver sempre contigo.
Aliás, por sua causa e do Charlie, esse fim de semana até que foi bom (não encanem com o “até que”, eu nunca tenho dias realmente bons). Porque vocês dois são minhas pessoas preferidas nesse mundo, e é bom lembrar de vez em quando como vocês me fazem contente. Eu olho para ontem e penso: acho que isso é que é viver! Eu sinto muito a falta de vocês dois. Não só de vocês dois, mas de vocês especialmente. No dia em que vocês não fizerem mais parte efetiva da minha vida, acho que estarei perdido de vez.

Sabe, eu falei de todas essas coisas da ideologia do cinema e da repressão dos desejos pela indústria cultural, mas eu sou muito vítima disso, também. Eu vejo filmes e fico transbordando de desejo, e isso cria uma privação tão grande que parece que eu vou enlouquecer. Que falta me faz um corpo em que mergulhar...

A verdade é que eu simplesmente tenho de mentir pra mim mesmo para conseguir continuar com tudo isso. Te amo, meu amor.

Passagem da Raposinha

"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu?, perguntou o principezinho.
- Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer cativar?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços ..."
- Criar laços?
- Exatamente. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse outro planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua idéia:
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. Por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."

(Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry)

12.8.06

É isto. Será que você me compreende?

O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE EM NADA

- Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, respondeu
com sua presença viva.

E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la tecer seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

João Cabral de Melo Neto

11.8.06

E ontem o amor roubou meu sono, minha possibilidade de renovação

Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

Passando rapidamente por minha playlist

Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
>
I give her all my love,
That's all I do
And if you saw my love
You'd love her too
>
You drove me, nearly drove me out of my head
While you never shed a tear
>
Juran que el mismo cielo
Se extremecia al oir su llanto
Como sufria por ella
Que hasta en su muerte la fue llamando
>
E nesse desespero em que me vejo já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você só pra ver se te encontro
>
Preste atenção, querida,
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés
>
Na nha sonho mi e forte, um tem bo proteção
Um te so bo carinho, e bo sorriso
>
É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar
>
Ó pedaço de mim, ó metade afastada de mim
Leva o teu olhar, que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar.
>
Hey, Jude, don't make it bad
Take a sad song and make it better
>
Ah, se ao te conhecer dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios,
Me diz pra onde é que inda posso ir
>
Se me faltares, nem por isso eu morro
Se é pra morrer, quero morrer contigo
>
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new
>
Mas não me deixe assim, tão sozinho, a me torturar
Que um dia ele vai embora, maninha, prá nunca mais voltar...
>
All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?
>
Sempre assim
Cai o dia e é assim
Cai a noite e é assim
Essa lua sobre mim
Essa fruta sobre meu paladar
Nunca mais
Quero ver você me olhar
Sem me enxergar em mim
Eu queria te falar
Eu preciso eu tenho que te contar
>
Always know sometimes think it's me
But you know I know when it's a dream
I think I know I mean, ah yes but it's all wrong
that is I think I disagree
>
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água
>
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
>
I can’t take my eyes off of you
>
Me perguntei, parei pra pensar
O que estou fazendo aqui
Só tenho uma resposta: acho que ainda te amo
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Ai, Ioiô
Eu nasci pra sofrer
Fui oiá pra você meus óinho fechô
>
Last time I saw you
We had just split in two.
You were looking at me.
I was looking at you.
You had a way so familiar,
But I could not recognize,
Cause you had blood on your face;
I had blood in my eyes.
But I could swear by your expression
That the pain down in your soul
Was the same as the one down in mine.
>
Stars fading but I linger on dear
Still craving your kiss
I’m longin’ to linger till dawn dear
Just saying this
>
Bem que se quis
depois de tudo ainda ser feliz
mas já não há caminhos pra voltar.
O que é que a vida fez na nossa vida?
O que é que a gente não faz por amor?
>
Sometimes I feel so happy
Sometimes I feel so sad
Sometimes I feel so happy
But mostly you just make me mad
Baby you just make me mad
>
Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só
>
Many times I’ve been alone
And many times I’ve cried
Any way you’ll never know
The many ways I’ve tried
But still they lead me back
To the long winding road
You left me standing here
A long long time ago
>
Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz.
>
Vou te contar os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho
>
Se não eu, quem vai fazer você feliz?
Se não eu, quem vai fazer você feliz?

Se não eu, quem vai fazer você feliz?

Se não eu, quem vai fazer você feliz?


9.8.06

Pra não dizer que não falei da fruta-pão.

Até que vou, meu professor
Vou bem.
Sentado na sarjeta
Sob um sol acolhedor
Sem inimigos.
Vou bem, meu professor,
obrigado pela força
pelo vigor e a lealdade
pelo carinho e atenção
pelo sorriso.

Não vai mais, minha companheira?
Que seja, há alguma razão.
Mas não me venha com esse ar
de desistência, de arrogância
de diabruras e vitimização.
Que o que fazemos é bem-feito
(e somos nós que fazemos)
Que o que fazemos, por trás
do que parecemos, é sincero.

Rimos muito, mestre
por que não haveríamos de fazê-lo?
A mim me parece que
rir assim, impotentemente
é amar verdadeiro,
como o do vaqueiro
(que não, mas poderia existir)
embriagado que se largou
no lombo de outro igual, resignado
até que acordaria vivo
e com uma ressaca tremenda
veria a namorada.

É, menina:
às vezes vem tudo junto assim
mas nós choramos unidos
pela miséria, angústia e desilusão,
a sua e a minha, a minha e a sua.
E nos confortamos, jogando conversa fora
Contando causos e mais causos
Relatando as risadas que se dá na vida.
E o conforto sempre vem,
os costumes vamos largando
pelos cantos, pelas paredes.
A mão acostumada se redescobre
A boca acostumada se ressente
O corpo acostumado se reforma.
(Mas a gente recorda, a gente recorda)
Não sei se tudo isso passa um dia
Não acreditava
Agora há um algo que acredita,
mas todo o resto duvida.

Beleza, cara.
Beleza de época em que as folhas caem
tanto, restando a você
o trabalho de recolhe-las
e penteá-las.
Nos veremos novamente
em meio a tantas folhas,
que já morreram, enquanto nós
ainda apenas nos preparamos.
Espero vê-lo novamente.

Meu amor,
agradeço o beijo,
e o que mostrou-se através dele.
Mas advirto:
O que mostrou-se nele,
há de ser preservado
e respeitado
e renovado sempre
também por outros meios.

Meus amigos, venham sempre,
são bem vindos.
E não é mesmo
notável e adorável
o algodão que há na fruta-pão?
Vez em quando um passarinho
bica a fruta e carrega consigo
chumaços de algodão
que se despedaçam no ar e se espalham pelo pátio
e pelas pessoas, suas roupas.
Eu também despedaço os chumaços
e solto-os.
Só não disse a vocês que hoje
o último chumaço
caiu entre vocês
abraçados.
Eu olhando o chumaço
fui gostando
de vocês e do chumaço,
fruto da fruta-pão.

7.8.06

Antístrofe

Às vezes, desde o começo desse ano, me vêm uns ataques de otimismo e eu penso que tudo dará certo, que eventualmente você certamente olhará pra mim do jeito que eu preciso, e então eu poderei viver...

Mas então eu percebo o quanto eu estou estragado...

porque eu não entendo o que vocês dizem, porque eu não entendo as referências, porque eu não tenho as memórias que deveria ter, porque minhas relações com vocês são tão esquisitas, porque eu passei tanto tempo trancado no meu quarto, lendo ou fazendo alguma coisa assim. Será que eu fiquei tão egocêntrico que me perdi de vez?

Às vezes me parece que a vida é muito fácil (não, não em tudo, não nisso em que você pensou para discordar de mim, mas em algumas coisas em que provavelmente é mesmo) e fui eu que compliquei tudo.

Alguém tira esse nó?

6.8.06

No sétimo dia, enquanto descansava, Deus fez o sarcasmo

O molequinho fazendo malabares com limões.
Quatro limões.
Pá pá pá
zum zum pá
zum
..... vou
pá pá pá.

E no toca-cd do carro, cantavam Renato russo e a Legião Urbana.

Já estamos acostumados...
Paranóia
ou
Nostalgia do que podia ter sido

Ainda vejo a escada
Quando olho pro sudeste
Onde não vejo nada.

Numa tarde calada
Onde tu já estiveste
Ainda vejo a escada.

Já ouvi tua gargalhada
Onde tu a impuseste,
Onde não vejo nada.

No fim daquela estrada
Por mais que eu a deteste
Ainda vejo a escada.

Sob luz imaculada
Da verdade inconteste,
Onde não vejo nada,

Com uma punhalada
- Golpe que tu me deste -
Ainda vejo a escada
Onde não vejo nada.

05/08/06

4.8.06

O sentido da vida
ou
Sobre reflexão do dia 31 de agosto, na sala 4

“Num círculo, o centro é naturalmente imóvel;
mas se a circunferência também o fosse,
não seria ela senão um centro imenso”.
- Plotino
















I.

Meu círculo-vida gira incessante,
Mas jamais se altera porque o faz
Em torno de um centro fixo, do qual
Não pode senão manter sua distância.

Do círculo-vida escapa o centro
Pela terceira dimensão, formando
Uma reta – infinita e absoluta.

Provavelmente essa reta é um eixo
Em torno do qual muitos outros círculos,
De maior ou menor raio revolvem.

II.

Muito mais difícil apreender
Do que o finito infinito do círculo
É o outro infinito, o da reta.

III.

Se uma esfera minha vida fosse,
Na quarta dimensão me escaparia
O centro, sempre inapreensível.
Eu preciso alcançá-lo, tangenciá-lo,
Aproximar-me dele mais e mais
Até fazer com que nos transformemos
Ambos em centros e ambos em círculos,
Focos de uma elipse que também somos,
E da qual escapam transversalmente
Enquanto duas retas paralelas,
Isto é, que se encontram no infinito.

04/08/06

1.8.06

Advertência

Olha, porque se é pra continuar desse jeito, eu prefiro abandonar o lado de cá.
A mesma coisa. É pra ser a mesma coisa...