...e pra gente nada...
Uma das possibilidades era aproveitar a oportunidade para falar sobre você, sobre tudo que você é de bom, sobre como é difícil imaginar que uma pessoa tão maravilhosa realmente exista nesta merda de mundo, falando que eu já penso isso há mais de um ano e portanto não é somente (embora seja também) uma opinião totalmente parcial e apaixonada, queria falar sobre como você consegue fazer eu me sentir bem mesmo sem poder querer o que eu queria que você quisesse, sobre como você mudou minha vida de um modo que não tem volta porque você é uma presença maior que essa vida.
Também pensei em falar completamente sinceramente sobre o que eu vejo em meu futuro: dizer que eu sei que provavelmente seria possível superar essa paixão, mas que parte de mim morreria no processo, e que eu jamais me curaria por inteiro (aliás, eu jamais me curaria mesmo parcialmente, o sangue continuaria escorrendo sempre, me fazendo a cada momento menos vivo).
Mas na verdade não dá pra falar nada disso, porque a verdade é demasiado premente. Estou vazio, vazio. Não tenho sentido algum. Todos meus sonhos de outrora foram transformados em ruínas patéticas, expostas para chacota geral. Sou hoje um fantasma penitente...
Até bem recentemente ainda fui capaz de criar utopias, de imaginar que vocês faziam toda a diferença, mas é mentira. Vocês, meus amigos, não importam, porque vocês jamais me alcançarão – vocês jamais me alcançaram. Mesmo quem eu digo amar... vocês não sentem a urgência que eu sinto a cada instante, vocês não vêem que é questão de vida ou morte.
Morte, então.
E você, meu anjo, você olha pra mim tão...
Você está errado, mas nada o fará perceber, permanecerá errado para sempre.
Adeus às esperanças, adeus!
Não sei o que farei quando terminar de escrever isto, se me jogarei pela janela ou se dormirei ou se passarei a noite em claro chorando (como tantas outras noites) ou se irei embora para algum país distante e nunca mais voltarei... Não quero mais voltar para São Paulo aos fins de semana, não tem sentido, vocês não estão aqui pra mim e você jamais estará. Não tenho porque voltar para Barão durante a semana, não tenho vida lá e não tenho mais sonho.
Na sua derradeira possibilidade de existência, meu personagem das cenas da aula de A Palavra, Ângelo Miguel Foscolo Sturm (eu), foi confrontado com a impossibilidade de viver aqui e resolveu voltar e mudar-se de vez para a França. Nada me espera na França, no entanto.
E as mil coisas que vocês falam tentando explicar ou justificar ou fazer sentido de ações aleatórias nada importam. Vocês não podem mais fazer nada por mim, então por favor me esqueçam pra sempre.
Meu anjo, o mundo foi lindo por alguns instantes na minha imaginação, o Nosso mundo, a Nossa vida juntos, os dias que passávamos os dois junto de nossos amigos, as noites que passávamos juntos um do outro, as milhares de possibilidades de primeiros beijos e primeiros encontros e primeiros amores e primeiros e segundos e todos os olhares que nos daríamos, um mundo todo de verdade que foi minha morada por um ano inteiro, foi lindo esse universo em que as coisas podiam dar certo mesmo que um outro mundo mais cruel me esperasse sempre, foi linda cada uma das palavras que você me disse em minha imaginação, com cada uma das entonações, com cada pausa, foram lindas todas as lágrimas de felicidade que eu inventava por sobre as de dor, foi linda sua presença ao meu lado quando eu já não podia me imaginar sem você, foram lindos até os momentos de ansiedade e desespero que imaginei logo antes de nossas felicidades imaginárias. Mas a vida não é bela como você, meu amor, e são as palavras que você realmente me disse, todas elas, que a toda hora martelam em minha cabeça aniquilando uma a uma minhas frágeis esperanças. Acho que estão todas mortas agora.
na verdade tudo isso é uma merda, mas terá sido pior ainda se no futuro eu virar o que eu acho que vou virar, e não vejo como prevenir o pior, porque nessa vida se tem ou o melhor ou o pior, e o melhor jamais me será permitido
Sempre lembre o quanto eu te amo, por favor. E feliz aniversário, Serafim..