21.8.04

Alguns serão perdoados, e outros, punidos, pois jamais houve história mais dolorosa que esta de Julieta e seu Romeu. (Saem.)

ou RESUMO

* * *

ou EXPLICAÇÃO DAS QUATRO ADJETIVAÇÕES NO MEU PROFILE - QUE VOCÊS REALMENTE NÃO PRECISAM VER

* * *

O PRÍNCIPE DE VERONA- Melancólica paz nos traz esta manhã. O sol, de luto, não se mostrará. Embora daqui, vão, e conversem mais sobre esses tristes fatos.

EU - Mais? Porra...

* * *

Morto - "A forma é uma morte" como já diz Pirandello que - segundo a mãe do mundo - tem sempre razão. De certa forma, Pirandello é um Aristóteles que ninguém conhece. Não que as pessoas conheçam Aristóteles. Por falar nisso, já perceberam como as pessoas citam Nietzsche como se ele fosse fonte de alguma verdade?, sem saber de nenhuma das bobagens que ele falou? Então. Eu sou forma. A Forma é uma morte. Nietzsche diria isso. Mas eu sei das bobagens que ele falou, então tá. A forma apaga o impulso, a forma amortece, amolece, relaxa a criatividade ígnea de um ser desforme. A forma é a norma de que todos falam - e ninguém percebe que é a mesma palavra só porque a primeira letra é igual.
Aliás, já perceberam como as pessoas superestimam as primeiras letras? Elas francamente não são tanto assim. São só o hall de uma palavra, a recepção. A primeira letra diz o Quando Eu Nasci, mas é o resto da palavra que vai afirmar que, afinal, Seria Uma Rima, Não Seria Uma Solução. Mundo mundo, vasto mundo, mais vasto é o meu
Afinal, morto porque forma. Impulso ígneo amortecido, e tudo o mais. Morto porque esquecido de nascer(re) ou (re)nascer. Morto porque morri, ou morto porque posso nascer ao contrário de tanta gente a quem a possibilidade não se deu. Posso nascer ou continuar morto. Pular da frigideira para a bosta. Acho que o ditado não é assim. Aliás, ditados. Que chato, hein? Falta de originalidade. E pensamento próprio. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Quão anti-ecológico. Anti-ecologicidade! Fim do mundo! Infinitude! Ponto final! Peixe!
E por falar em peixe. Então, pular da frigideira para o campo cheiroso de bromélias. Grande sacanagem. Escolha que não é minha. Mas dizem que é. Também não é daquelas coisas que "é culpa da sociedade e do capitalismo". Por falar nisso, sabiam que a palavra "apocoloquintose" significa "transformação em abóbora? Então, capitalismo. Afinal, quem segue um sistema cujo nome mostra que o dinheiro vem antes das pessoas? Bem, todos nós. Etc. Mas não era isso. Então, capitalismo 2. É uma daquelas coisas que só se pode culpar a Deus. Acho que Deus é o papai noel. Ou deus é o Papai Noel. Ainda estou indeciso entre esses dois. De qualquer jeito, Deus é um sacana. Mas ele faz uma cocadinha que é uma delicia, e custa só três vinténs. Me deves, me deves. Eu sou forma. E isso vai voltar a aparecer. Sou forma porque morto. É uma daquelas situações vice-versa vai-e-volta ciclo-vicioso sem possibilidade de quebra. Um morto é só forma, porque seu ímpeto vital vulcânico cessou.

* * *

NIETZSCHE - Falar muito sobre si mesmo pode também ser um meio de esconder-se.

EU - E sobre o que eu vou falar?

NIETZSCHE - Um passeio casual pelo hospital psiquiátrico....

EU - Ahn?

NIETZSCHE - É difícil o suficiente lembrar minhas opiniões, sem também lembrar minhas razões para tê-las!

EU - Isso é porque você está morto.

NIETZSCHE - Falta ao céu todas as pessoas interessantes.

EU - Pois é, mas você continua sofrendo no inferno...

NIETZSCHE - Às vezes se permanesce fiel a uma causa apenas porque seus oponentes não cessam de ser insípidos.

EU - Pois é, já disse meu professor de química que Deus é incolor, inodoro e insípido. Só espero que isso não faça da água uma substância onisciente...

NIETZSCHE - Insandade em indivíduos é algo raro, mas em grupos, partidos, nações e épocas, é a regra.

EU - Você não quer dizer "norma"?

NIETZSCHE - Quem enfrenta monstros deve se certificar que, no processo, não vire um monstro.

EU - Hei, Nietzsche, quer tc?

* * *

Então, ímpeto vital vulcânico. Isso é o fluido: Molhado. Que transborda, escorre mas não pode, etc. E eu tenho de amortecer. Então continuo morto. Que nem Nietzsche, que só faz citar a si mesmo por não ter originalidade alguma. Afinal, está morto. Mas meu corpo não está morto, por mais pálido e sem pulso. Então tenho liberdade, pois ela está no corpo. Se não, permaneceria morto para sempre. A morte é eterna, mas pode ter pausas.
Mas sobre minha molhadez eu já falei mto aqui.

Agora era qual adjetivo? Já nem lembro. Pulemos pra "velho"? Nah.

Lembrei.

Futuro. Eu sou futuro porque sou morto. Porque só posso ser quando vivo, então só posso ser futuro: serei.

Acho q acabou.

Velho pq morto. Só se morre velho.

Quando um bebê morre, ele envelhece.

Morrer necessita envelhecer.


Não se entenda, porém, que o contrário é válido. Essa não é uma daquelas coisas vice-versa vai-e-vem ping-pong tic-tac lero-lero. A velhice não é a morte. Fisicamente, é. Pense numa rosa branca murchando. Pense nas meninas telepáticas surdas alteradas atômicas. Pense nas formigas. Murchar: que perdeu a frescura, o viço, a cor, a beleza ou a animação. Pense na frescura. Sentidos vários.

* * *

COMANDANTE DO ZEPELIM GIGANTE - Quando vi nesta cidade, tanto horror, iniquidade, resolvi tudo explodir.

EU - Isso me lembra Dogville...

COMANDANTE DO ZEPELIM PRATEADO - Mas posso evitar o drama se aquela formosa dama essa noite me servir.

EU - Hihihi, assim vc me deixa sem graça!

O PREFEITO DE JOELHOS,
O BISPO DE OLHOS VERMELHOS E
O BANQUEIRO COM UM MILHÃO - Vai com ele, vai, Geni! Você pode nos salvar, você vai nos redimir!

EU - Francamente, porque eu deveria? Eu posso. Talvez. Na verdade não, mas finge. Mas não vou.

(Pausa.)

Ah, vou.

CHICO BUARQUE - Você dá pra qualquer um...

EU - Eu sei.

CHICO BUARQUE - Vai com ele, vai.

EU - Claro que vou, Chico. Eu sempre vou.

O ELENCO DO MUSICAL "HAIR" - What a piece of work is man
How noble in reason
How infinite in faculties
In form and moving
How express and admirable
In action how like an angel
In apprehension how like a god
The beauty of the world
The paragon of animals

EU - Sobrei com o monólogo.

CORO - Oh, nobre Édipo! Perdido na escuridão de sua cegueira!
Oh, pobre Antígona, viva enterrada pelo tirano Creonte!
Electra traída pela própria mãe que atenta contra seu pai!
Polinice insepulto irmão de uma fêmea indignada!

EU - E eu?

NIETZSCHE - Falar muito sobre si mesmo pode também...

EU - Falar sobre o que então?

O PRÍNCIPE DE VERONA - sobre esses tristes fatos...

EU - Édipo
Antígona
Creonte
Electra
Polinice
Nietzsche
Romeu
Julieta
estão mortos.
Eu estou morto.
Eu
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
não.

14.8.04

Prá Não Dizer Que Eu Não Falei Do Doce de Leite

Gostar.

De uma pessoa.

Não lembro mais como é possível.

E não digo gostar gostar, gostar do jeito que falamos descompromissadamente mas sabendo que é um pouquinho compromissadamente, pois sim.

Digo gostar.

Faz muito tempo que eu não gosto de ninguém. O gostar é um sofrer horrível, dói como a navalha. Mas o não gostar é nauseante, é inagüentável. Colchetes: essa é a palavra mais idiota que existe; nada é inagüentável, já que temos que agüentar e ponto, não importa se podemos ou não. É desumano. É frio. É seco. Seco porque molhado, mas em regiões diferentes - prova de que a osmose é uma babaquice de físicos.
Não consigo gostar. Claro que eu consigo gostar no sentido imediato e superficial, já que esse gostar é simplesmente fato = feito. Me sinto horrível, sinto que não mereço porra nenhuma, que mereço ser pisado, mijado, espancado, que a coisa mais certa a se fazer seria atirar em mim, um tiro de misericórdia, de alguém que diz Pobre Ele, Não Sabe Mais Gostar, Verde Verde Ele, e eu agradeço com um beijo na boca do atirador, que jamais fecha os olhos, mas olha no meio da minha testa e diz Tá Bom Aqui, levanta a voz no final pra mostrar que é uma pergunta, mas fica artificial, mesmo assim eu respondo que sim, sim, onde você quiser, e Você é o mesmo você do último post. Ele põe o dedo médio na boca, cobre-o de saliva e molha o ponto onde vai atirar.
O ser humano procura afeição para tentar preencher o vazio que o faz ser humano. Eu não me afeiciono. Como posso ser humano? Desculpe você, desculpe ela, mas não afeiciono, não gosto. Posso gostar de você como gosto de chocolate ou de ficar debaixo do cobertor numa noite fria. Mas não consigo gostar de você como você gosta de mim. Estou estéril. O tiro foram três: na minha testa, na minha boca, no meu peito, no meu sexo. Sim, três, mesmo que em quatro lugares. Cada lugar o atirador molhou com sua saliva. Ele tem cabelo cor de areia e olhos verdes, roupa bege, mas não tenho certeza de quem é. Espero que seja eu.
Se não sou humano, não sou livre. Mas sou livre justamente por não gostar. Terrivelmente livre, mais do que a maioria das pessoas. Todas? Tudo. Meu vazio é incobrível, inescondível, definitivo: preto dos desenhos de Doré, das pinturas de Redon, aranha sorridente, oposto às cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores. Não entendo como eu posso ser livre e não conseguir gostar, parece um paradoxo, é o maior deles, mas o amor é só paradoxo. Talvez isso seja algo do Amor. Cuja face eu esqueci, lembro apenas do chulé do Amor, que eu costumava inalar como uma droga alucinógena, como um ritual indígena esverdeado, como uma lagarta sobre um cogumelo. Coma-me.
Beba-me, molhado.
Sêm o gostár, páro na travessía do sertâo. O sertão é do tamanho do mundo. Viver é muito perigoso. Mas e se eu não vivo? Não 'travesso. Afinal, não gosto. Desdiadorim. Fim.

Aqui a vida acabada.

Palavrão.

Centopéia.

Gonorréia.

Azerbaijão.

Militar.

Bandeira.

Jumento.

Vitória.

Meleca.

11:57.

Aqui a história acaba.

Desumano. E, pela primeira vez, por mérito próprio. Não foi a sociedade que me desumanizou, não foi o Capitalismo, não foi o Liberalismo, não foi o Comunismo, não foi o Fascismo. Fui eu. Não foram cronópios, famas, esperanças. Não foi o presidente dos Estados Unidos da América. Não foi a Guerra no Iraque. Eu fiz tudo sozinho. Enfiei a cara na lama. Comi ração de cavalo. Dormi com um centauro. Mordi o lombo de uma zebra. Balancei sobre um pé de milho. Comi terra ao lado de uma minhoca morta. Dormi com um centauro. A grama que um dia me acolheu enquanto eu ouvia música agora me recusa. O orvalho me imagina como impermeável. A terra não sabe mais me sujar. A substância espaço não mais me sustenta, concreta ou astratamente. A luz da lua vai contra as suas próprias leis para não me banhar. As estrelas esquecem de piscar. Olho pela janela. A torre continua acendendo, amarelo, verde, azul claro, azul escuro, roxo, violeta, lilás, rosa, -bebê, branco, branco. Explode, mas só pra mim. Dormi com um centauro. Balancei sobre um pé de milho.
Dormi com um centauro.

12.8.04

Manchas

Não quero vir aqui, como das outras vezes, falar apenas palavras. Palavras, já as disse muitas, e dentre estas poucas foram carregadas de significado. Mas é realmente difícil falar sem falar de nada. Quero falar de alguma coisa, talvez alguma coisa grande, talvez algum detalhe importante. Mas não falar sobre nada. É que o nada é lugar comum, é parte, é sangue, é resto de todos os discursos anteriores. Quero falar pelo menos um algo que nenhum ainda tenha dito. Mas isso também não tem nenhuma importância.
Aula de artes. A professora examina os desenhos com cuidado, e adverte: você têm muita facilidade para desenhar. Tomem cuidado com isso, esse é o maior perigo para quem faz desenho de observação, pois todas as formas já estão em sua mente, e por isso não pode ver a imagem de agora.
Nossa visão do mundo certamente não é igual ao mundo de verdade. Estamos acorrentados no fundo da caverna. E estar acorrentado dói, dói sim. Nós ficamos seguros, sim, seguros, mas dói, machuca, as correntes marcando a pele, cada membro apodrecendo, lentamente. Nossos braços, nossas pernas, cada músculo nosso apodrece. Podemos não morrer amanhã, mas milhares de células nossas morrerão, e não poderemos fazer nada. Nada? Nada. A luz não é constante. Ela varia. Às vezes as nuvens obstruem o sol. Às vezes faz frio. Às vezes venta. Será que venta? Nós não comemos, não nos movemos, apenas dormimos e acordamos, e dói, e coça. Nosso corpo apodrece. Não o usamos para o que deveria ser usado, não exploramos nosso mundo, somos animais bilateralmente simétricos que não dão uso à sua 'ponta que chega antes'... Será que usamos roupas? Se usarmos roupas, elas machucarão ainda mais nossa pele, e apodrecerão junto conosco, fedendo. Ficaremos com nojo das nossas roupas. Teremos nojo de nós mesmos. Se não usarmos roupas, por outro lado, morreremos no frio e no vento. Somos absurdamente frágeis. Aquele que se liberta e sobrevive é mais forte que o resto de nós. Mas ele morre. Todos morremos. A morte é programada e inexorável. Apenas nossos gametas são imortais. A imortalidade é o grande objetivo. Para cumprir nosso objetivo, temos de morrer.

Para quê fazer sentido se o mundo não faz sentido?
Aparentemente a morte é uma estratégia da vida. Uma forma de proteger a vida. Nós somos um complexo formigueiro. Cada um de nós é formado por inúmeros seres vivos semelhantes e diferentes, mortais, limitados, dependentes e estéreis. Todas essas células servem apenas para proteger e nutrir e produzir um tipo único de célula, a raínha do formigueiro, ou seja, um gameta. Tão simples, não? A mesma lógica da existência de gays, de eunucos, e outros indivíduos que se excluem do tal do pool gênico. Tudo muito simples. Biologia faz tudo parecer muito simples.

Filosofia, não. Nem História, nem qualquer tipo de Arte.
As formigas não têm consciência do Eu. Apenas do Nós. Elas não têm muita consciência do indivíduo, provavelmente não têm a noção da unidade. Números não devem estar em acordo com suas cabecinhas diminutas e suas mandíbulas quase tão pequenas quanto suas cabeças. Não sei o que posso ou não posso falar disto. Imagino que uma formiga não saiba se identificar. Ela sabe qual a sua função, e a quem ela serve. "Eu sirvo apenas para proteger, sustentar e engrandecer minha rainha, e portanto meu formigueiro". Será que a formiga sabe que está protegendo suas irmãs porque têm 75% de parentesco com elas? Formigas são bichinhos haplóides-diplóides. Isso significa que a Seleção age basicamente nos machos, como com as abelhas. A abelha-rainha propõe os mais terríveis desafios para seus pretendentes, e a maioria deles morre tendo sido totalmente inútil durante sua vida curtíssima. Quase como os prícipes da maior torre do Discworld, se você já leu o livro. Os dragões existem apenas se alguém acreditar neles. O tempo fica confuso quando se morre. Morrer é inexorável. O que acontece quando se morre? Os olhos se gosmificam. A pele perde a elasticidade, antes de ser devorada. Os cabelos crescem um centímetro por ano. Com um pouco de muita sorte você pode até virar petróleo. Veneno. Será que a formiga sabe que petróleo mata quando se bebe? E que ela pode virar petróleo? Claro, não será ela, duvido que a formiga considere que ela exista depois da morte. A formiga não é um número. Talvez esteja mais próxima de um som. Aliás, são todas iguais. Será? A formiga não deve pensar, mas o quê será que ela sabe? Existe um limite de conhecimento. Mas os físicos inventaram o átomo.

É interessante o conceito de inventa aquilo que não se sabe. Os maiores gênios em toda a História da Ciência foram os que fizeram isso. Você acredita em Inércia? Difícil não acreditar. Mas não deixa de ser uma invenção. Assim como a tal da reação. A gravidade também. Você acredita em movimento? É tudo completamente absurdo. Os elétrons passeiam em planos esféricos a uma distância medida em unidade de energia do núcleo, que, aliás, existe graças a uma força Forte que também só vale para este caso. São as coisas estranhas nas quais acreditamos sem querer, querendo. Ou não. Tanto faz. Tantúfaz.

É quase viciante falar coisas sem sentido. É realmente delicioso. Vou falar que você usa drogas e diz coisas sem sentido. E daí? Acho que nunca me ofereceram drogas fora da família. Fora alguns drinks, vinhos e tequilas que eu nunca bebi de qualquer forma. Mas isso também nõ tem a menor importância.
Alguém um dia se revoltou contra essa necessidade de sentido das coisas. Mas não adiantou nada. O problema é que, quando se fala muita coisa sem sentido, as coisas começam a perder o sentido. Você perde o ponto, perde o significado total do que está dizendo. Não tem onde pisar, corta o próprio cipó e não sabe para qual pular, até se esborrachar no chão. Não dá para viver no chão; lá só tem cobra. Onça. Jaguatirica. Eu teria medo. Quem ama fere, quem odeia repudia. Quem não sabe não sabe e ainda proíbe o saber. Mas eu quero saber.

É que as certezas estão todas distantes demais.
Aliás quase todas. Quase quase todas.

A essencial e filosófica relação entre o Mundo das Idéias e o Doce de Leite

Uma circunferência é o lugar geométrico dos pontos eqüidistantes de um ponto fixo no plano.

O plano é sempre rosa. Pelo menos o primeiro plano. Imagine um plano. Assim, que corte sua cabeça em dois. Ele é rosa e passa pelo seu cérebro, recebe as correntes elétricas neurônicas, mas nem percebe porque não existe.
O que é existir? O que é pensar? Existir não é nada, simplesmente porque não existir não é nada. O que é não existir? Porcaria nenhuma, você sabe. Tudo não existe, exceto pelo que existe. Então, só existe o que existe. Se só existe o existir, então não se precisa de uma palavra só pra isso, caramba. Então eu não existo. A partir de agora, nada existe. A partir de agora:
Tudo. Assim, sem predicado. Não precisa. Tudo tudo, se tudifica, dispensa o verbo. Afinal, tudo. Nada. Ou: Nada
sem ponto final.
x^2. Quadradifiquemos o chís. Ah, todo ele, todo, se fôr! écs. uái. uái? Todo. ól.


Uma esfera é o lugar geométrico dos pontos eqüidistantes de um ponto fixo no espaço.

Platão achava a esfera algo perfeito. A esfera não é rosa, duh. Nem o espaço. O espaço nos sustenta, concretamente, dane-se o protocolo marrìesco. Quem já voou num sonho sabe. Tudo. Sabe que não voou. Nadou. Nah, tudo. Nada Nadar não representa direito. Dansou pulou pululou ululou. Voar no sonho é ser sustentado pela substância espaço. Concretamente. Sonhos são concretos, maçã bem grande e vermelha no céu. Gatos sonhificam a realidade ou realificam o sonho, gato gato gato, bichano!, Tudo.
x^3. um beijo. Beijo. Beijo? Bêi-jô, Bêy-jio. O lábio é a janela da alma. a porta a sacada a varanda. Droga, esqueci o shift. O lábio é uma vala em forma de U, e flui, flui uma água quente sob uma ponte vermelha, flui o ar róseo, dos meus lábios flui um líquido incorpóreo, parte um pouco acima do meu coração, acima!, não vem dele, vem do pulmão, em cima, mais, duma parte do meu côrpo que eu acho que não tem nada. Flui, jorra, escorre pelo meu queixo e se junta às lágrimas que esguisçham de meus olhos arrancados, desce pelo meu pescoço só, pelo meu peito triste, pela minha barriga moribunda, pelo meu umbigo nostáugico, pelo meu sexo morto, pelas minhas coxas burras, pela minha batata da perna tubèrcúlea, pela minha canela da índia, pelos meus pés melancólicos -- não não, não pelos meus dedos do pé. Cái no chão e nem o solo quer absorver meu líquido. Lábios e Lágrimas. Longe, lá longe, libélula, lambida, lírio, lava, luz, l.....e.......n.........t.........a...........m................e...................n......................t..........................e...
Algum inglês etiquetoso assina uma lei e diz que eu não posso inundar assim o Mundo, que as outras pessoas tem o direito de não se afundar no meu líquido doloroso. Engulo tudo de novo. Sempre engulo. Não me deixam chorar, não me deixam cuspir, não me deixam suar, não me deixam mijar, não me deixam defecar, não me deixam líquido. Meu interior água viva. Queima.


Uma existência idiota é o lugar geométrico dos pontos eqüidistantes de um ponto fixo no tempo.

O tempo não é rosa ou prateado. Não é geométrico - aliás, nem o é o espaço. O tempo é presente.
Não quero falar disso. Não quero escrever mais uns parágrafos seguindo o padrão de antes, começando um novo assunto, etc. Quero falar dos lábios, das lágrimas, dos lírios, do mijo. Quero! E já quase choro escrevendo isso, e não posso, as luzes estão acesas, elas que começam com L mas ainda assim se revoltam contra mim. Quero vomitar, mijar nas minhas calças - de preferência as jeans, quero cuspir no chão, suar no céu, torcer-me como uma roupa até secar, me dependurar num varal. Mas alguém esfaqueia meu peito, e deixa a faca lá pra não sangrar. Eu vivo com essa faca no peito. Você fala comigo, me abraça, me morde, e essa faca está no meu peito. Nunca saiu de lá. Amanhã talvez você me veja. Provavelmente. Com certeza. E antes que haja confusão, você não é ninguém determinado, você é você, e você sabe quem você é, ou é impossível saber, mas você entendeu, é só Você, mas serve pra outros vocês que obrigatòriamente são você também. Amanhã você ver-me-á. Talvez não tenha lido isso. Mas se tiver, quando tiver, olhe pra mim vendo essa faca. Veja o sangue que só quer poder sangrar por baixo dela. Veja nos meus olhos o muro que segura meu sal. Veja nos meus lábios o clima seco e frio que não deixa meu corpo inundar a Terra! Ninguém o bebe!

Um poema que eu fiz no ano passado para a escola:

o sOl,
o
m..a..r
- I -
Se o Sol ilumina
Mas faz também queimar,
A luz de vossos olhos
Faz o astro minguar.
De ouro e fogo és lume em
Negro crepuscular.
Mas se - tão generoso -
Doze horas clarear,
Eu morro por mais doze:
Me afogo em negro amar.
De prata e gelo és coita em
Sempre sozinho mar.
E quando encontra as águas
Do dia o limiar
Mais triste é o peito meu
Sem se cicatrizar. (mesmo que o corretor tenha riscado meu "se")
De sangue e sal é o rio
Que em ti quer desaguar.
E continua, continua.
- II -
Quando o sangue em sangue
Por fim desaguar,
E mão fria a quente
Por fim abraçar,
Vosso corpo fluido
(Meu rosado mar!),
Finalmente a ele
Vou bebericar.
Quando a água encontra
Do Sol o baixar,
Noite e dia em Uma
- a Aurora - mesclar,
Vossa quente face
(Pura luz solar!)
Finalmente a ela
Poderei tocar.
E continua, continua.

- III -

Afasto esse Sol de fogo, ser ígneo,
Porque Sol és tu de mujito mais luz.
E o calor é incompleto desígnio,
Força que se para a carne traduz. (mesmo que o corretor tenha mudado meu "se" de lugar)

Afasta-te, mar de sal e fri'água
Porque mar és tu que não faz molhar.
E o sal é de lágrimas, minha mágoa,
Gosto que por curto tempo tem lar.

Mas não se engane, não deves pensar
Que é para trazer a nós um tormento
Que isso eu digo, que é sem o meu amar.

Pois quente é o frio, sim é não, rir chorar.
Por fim verás que tal afastamento
Só nos vai mais e mais aproximar.


E continua, continua
por estrofes (mais de mil, milhão, bilhão!)
Dele(a) arranco ritmo,
" " rimas:
No amor não há ordem que não aquela desordem tão harmônica que só podem entender-lhe os loucos.
No ódio


Tempo em que eu não sabia. Tempo em que o amor podia acontecer. Agora, velhice. Tudo. ól.
Queima. Ninguém o bebe.

6.8.04

[Bocejo]

Quando se está com sono, não se é coerente. Nunca se é coerente. Mas menos coerente ainda se é quando se está sonolento. Contudo, num estado sonolento, o fluxo de idéias ocorre naturalmente. Escreve-se sem olhar para trás. Não é necessário que haja lógica; a falta dela é justificada pelo estado no qual se encontra. Eu estou com sono. Mas não muito. Meus olhos se fecham porque ardem. Meus olhos se fecham porque ficaram abertos por um dia inteiro. Uma semana inteira. Meus olhos estão cansados. Eu estou cansado. Mas não estou com sono. Ao menos, não muito sono. Não aquele sono que desintegra qualquer possibilidade de lógica. Entretando, não custa lembrar que este que escreve raramente faz lógica, mesmo quando totalmente lúcido e acordado. Mas o que importa? O pato está na ratoeira. Ele está de volta à ratoeira. Ele tem medo de sair da ratoeira. Ele está no lugar errado e sabe disso. Mas não sai da ratoeira. Não sai da ratoeira. Não sai da ratoeira. Ele sabe sair da ratoeira. Mas não sai da ratoeira. Não sai da ratoeira. Quem sabe um dia ele saia? Por que não? Talvez ele esteja tomando corangem. Ou pensando se vale a pena sair da ratoeira, lugar de ratos e não de patos. Lugar de ratos? Do outro lado do Equador, Inglaterra. Instituiram uma lei segundo a qual, qualquer cidadão que sorrir em fotos três por quatro receberá uma multa. Os motivos alegados são a segurança nacional contra ataques terroristas e a necesstidade do cumprimento da etiqueta. Minhas roupas têm etiquetas. Elas me incomodam. Eu as corto. Fico muito melhor sem elas. Etiquetas não contém informações de suma importância para nada. E, as poucas que contém informações importantes, não são cortadas. Podem ser úteis. Mas nesse caso, elas mostram alguma utilidade. Sorrir em fotos três por quatro vai contra a etiqueta. E daí? Qual o motivo? Qual o objetivo? Não enxergo. Não entendo. Tenho cinco graus de miopia num olho e cinco graus e meio de miopia noutro. Meus olhos querem fechar. Estão cansados. Ardem. Sorrir impede o reconhecimento de pessoas? As pessoas não riem? Como podem não rir? Não riem de si mesmas? Não riem das próprias desgraças? Não riem das próprias glórias? Não riem? Não se pode rir. Não se pode rir? Não se pode rir. Cada garça que voa, me faz chorar. Para onde ela vai? Qual será o seu lugar? Por que não se pode rir? Riam! Por que não riem?! Por que não riem? E o terrorismo? O terrorismo sorri em vossas caras. O terrorismo sorri. Provocante. Apaixonante. Seguro. De que adianta estar seguro de algo? Se esse algo é inquestionável? E de que adianta protegermo-nos? Proteger nossas verdades também inquestionáveis que podem estar mais erradas que as idéias que julgamos impensadas e ridículas? Toda verdade é ridícula quando impensada. Somos ridículos. Sois ridículos. São ridículos. O ridículo é motivo para riso. Por que então não rimos? Sorrimos? Ou será que rimos? Não se deve rir? Deve-se rir. Deve-se rir? Creio que sim. Não creio em nada. Não nos deixam rir? Como não nos deixam rir? O riso é uma arma mortal e benéfica. A etiqueta nos controla para que não queiramos rir. Mas queremos rir. Por que não rimos, então? Por que nos submetemos a um ser demoníaco que nos impede de rir. Rir! Rir! Rá rá rá rá rá rá! Xinguem-me! Comam-me! Chutem-me! E o pato está na ratoeira. Isso é normal? É normal? E rir? É normal? Uivar? Gritar? Correr? Morrer? Amar? Feder? Beijar? Ficar nú? Ficar nú é normal? É? O pato está na ratoeira. Isso é normal. Um corpo parado tende a permanecer parado. Trabalho voluntário é apenas para voluntários. Queiram. Se não quiserem, não queiram. Fome sono sede frio calor desconforto vento. Descobri que não me amo. Na verdade estou morto. Queria me amar. Mas acabei por me matar. Sou agora um pato morto na ratoeira. Um Yuri morto. Gotas de água caem nas minhas pupilas fechada me levando à loucura. Mas um ser estranho ser vem e me leva para um planeta idêntico ao meu. As pessoas são felizes. Não há doenças. A morte é bela e serena. Tudo é belo e perfeito. Passo a viver com eles. Em pouco tempo, eu os trasformei em seres mentirosos, canalhas, sujos como eu. Então eu choro. Eu chorei há pouco tempo. Não sei por que eu chorei. Mas chorei. Chorei por amar. Amo muita gente. Sou efêmero. Ou sou eterno? Sou efêmero apesar de eterno. Vou para Bora-Bora. Vou uivar pra lua. Gritar. Latir. Vou escrever algo com algum sentido pra variar. Meu próximo post terá sentido. Pelo menos tentarei colocar sentido nele. Mas estou cansado. Com sono. Não tenho obrigação nenhuma de colocar sentido no que eu escrevo. A arte de escrever palavras ao acaso. Paralelepipedo. Criança. Estática. Declive. Cripta. Cubo. Curva. Chocolate. Grama. Bilininotomatocleitossauro. Sim. Dalai Lama. Anomalocaris. Urtiga. Camundongo. Uva. Chuva. Bulbo. Nuggets. Italianão. Cérbero. Pum. Azul. Verde. Geleca. Fantasma. Mochila. Veneno. Palhaço. Roseira. Bumerangue. Merengue. Pateta. Esfera. Cola. Terminal. Dançante. Criptônio. Peço desculpas. Não faço sentido. E daí? E daí? Rá rá rá rá rá! E outro rá para você. Ninguém vai me proibir de rir. Nem esta etiqueta chata que está no meu roupão. Eu canto! Eu sou feliz sim. Ninguém pode ser feliz o tempo todo? Pois veja só! Era uma vez - vejam vocês! - um passarinho feio que não sabia o que era e nem de onde veio. Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era, voando, voando com as asas, asas da quimera. Não tenho ética nem cidadania. Minha foto três por quatro ostenta um colossal sorriso. Trasnmissão de força. A força normal age no mesmo corpo que aplica e transmitte a força a outro corpo. A resultante é, portanto, nula. Sobre o que eu estava falando? Já perdi o sono. Completamente. Mas não o cansaço. Sono é, até certo ponto, psicológico. Cansaço, até certo ponto, também. O calor não é psicológico. Relativo, talvez, até certo ponto. Mas psicológico não. O queijo suiço dissolve-se no estômago. O queijo suiço boia no céu também. Mas nesse caso ele não é exatamente suiço. Eu definitivamente preciso fazer mais sentido. Mas só de vez em quando. Fazer sentido é algo aprisionador. Como um cubo perfeito. A égua é marida do cavalo. A zebra o marido eu não sei não. Lá vai a garça branca, meus deus como vai se avoando!, eu queria ser uma balãozinho pra ir te acompanhando! Como um cubo perfeito.

Ensaio sobre a Normalidade

O pato saiu da ratoeira. Escrevamos isso bem grande, notícia manchete de jornal, outdoore-se, grite-se (sim, gritar, lembram, Cazuza, Florbela Espanca, palavrão?).

Manifesto do Partido Anormal.
Disse a Paulinha uma vez que escrever manifestos dá errado. Que só o que vem fluidamente, sem forçar a barra, encontra algum espaço na concorrida efetividade. O anormal é ser normal e vice-versa ao contrário Fausto Doente.

Normal. l - Norma. Regral. Leial, leal. Fiel. Fidelidade. Mundo cão, vida cã, cãs - cãs. Branquidão. Mundo cão, Marina, não responda. Não pense. Mundo cãs. Normal. Branquidão. Branquial. Braquial. Peixes. Escamas, mar. Wish I could be part of that world. Lagostas cantando. Anti-natural. Statu quo, contra a essência, contra o ser, a natureza. Contra a natureza não é o que se diz normal ou vice-versa. Uma figueira não levanta a saia e sai andando. Bullshit. Você que nunca viu. Sai, se sai. Marina sabe.

Uma figueira - até onde sabemos - é um ser-em-si. Nós não. Aceitar nossa natureza sem qualquer questionamento. Isso é ser normal. É abrir mão de nossa liberdade - e não liberdade pela liberdade, mas pela humanidade que é a única coisa que importa em todo esse mundo. Felicidade não importa. Queremos, claro, eu também quero. Quero muito. Mas não é importante. Importância só existe na humanidade livre. Acho. É, acho.

Muita gente afirma a própria anormalidade, não ser normal (coisas diferentes), etc. O anormal é ser normal é ser anormal é ser. Um poema é um poema é um poema. O normal é ser anormal é ser anormal é ser paquiderme é ser violoncelo. O normal é ser longitudinal é ser O Visconde Partido ao Meio é ser estou confuso com o blogger.

Whatever, né?

Pontuação, língua portuguesa, gramática, normas. Não são inúteis. Vejamos qualquer grande escritor modernista, pós-modernista, comunista, niilista, macarthista. Não são inúteis. Eles não desobedecem as normas. Não é anorma, não é antinorma ou desnorma, é metanorma isso, isso. Isso.
Isso.

Isso.

Eu não sou anormal. Sou metanormal. Para tal, sou normal antes. Antes, atenção ao tempo e espaço. Metanormal está para a norma como a Metafísica está para o físico.

Um abraço, desligue o telefone. 'Desligue', não, 'desliga', você está narrando. Narrativa épica. Brecht.

Estou fazendo um post errado.


Poxa. Sou normal. Descoberta profunda e filosófica para uma sexta-feira noturna. Admita, você também quer ser normal. Normal, ser-em-si, físico. Metanormal, ser-para-si, metafísico. Amar é ser normal. Ser normal é ser em-si. Ser em-si é perder a liberdade sem ganhar a opressão. Perder a liberdade sem ganhar a opressão... é amar. Não é a toa que dizem "não escolhi amar tal pessoa". Não é a toa que nos machucamos por amor. Amos. Amós.

Nazista!
Fascista!
Stalinista!
Comunista!
Totalitarista!
Veado!

Ismo. Tendência a. Caminho a.
Esmo. Sem rumo. Sem caminho.
Ermo. Não-lugar. Não-caminho.
Elmo. Defesa. Des-caminho.

Espelho, espeto.

Me chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam o país inteiro num puteiro, porque assim se ganha mais dinheiro.

Estar sem óculos é bom. Muito. Não ver. Cortázar.

"História Verídica
Um senhor deixa cair ao chão os óculos, que fazem um barulho terrível ao bater nos ladrilhos. O senhor se abaixa aflitíssimo porque as lentes dos óculos custam muito caro, mas descobre assombrado que por milagre elas não se quebraram.
Agora, esse senhor sente-se profundamente grato, e compreende que o acontecimento vale por uma advertência amigável, de maneira que se dirige a uma ótica e compra logo um estojo de couro acolchoado, com proteção dupla, como precaução. Uma hora depois deixa cair o estojo e ao abaixar-se sem maior preocupação verifica que os óculos viraram farelo. Esse senhor leva tempo para compreender que os desígnios da Providência são insondáveis e que na realidade o milagre aconteceu agora."

História verídica. Conto de Julio Cortázar, na coletânia Histórias de Cronópios e de Famas. Parfait. Suflê.

Isso é o que eu digo, se fôr. Nonada. Travessia. 8 deitado.

8 deitado me lembra antiecologicidade!

Ensaio sobre a Normalidade. Sigamos o padrão saramaguiano. Inventemos brevemente, pois não temos tempo nessa nossa agitada rotina capitalista para ler romances ou ensaios, muito menos ambos ao mesmo tempo.
Um dia, naquele mesmo país da cegueira e da lucidez antitésicas, todos acordaram normais. Não fez nenhuma diferença, porque os estranhos eram normais. Metanormais. Fim. Genial, prêmio nobel. "Todo mundo ganha o prêmio nobel". Não vejo você ganhando.

Agora Ensaio sobre a Torta de Limão.

De limão rosa.

Massa crocante.

Suspiro.

Suspiro,
com um sentido diferente.

Com cheiro de leite condensado.

In a Vanilla Sky.

Pôr-do-Sol, num mundo só pra mim.

5.8.04

Espoletas

"Eu estou tendo minha primeira experiência negativa forte!"
Essa frase me pegou. Fiquei sinceramente admirada.
Não sei se me impressionou porque eu já passei por várias experiências negativas, ou porque nunca passei por uma.
De qualquer forma, é surpreendente.

Ouvi umas coisas estranhas; aquelas que só um eu ouve.
Às vezes as pessoas dizem coisas que não precisam ser ditas.
"Eu sou normal!"
Eu sou normal?
Por que eu deveria ser normal?
Eu não sou normal
Eu não pertenço a um grupo dos "normais".
e não pertenço a um grupo. Eu pertenço
se ser normal significa não saber latir, não poder uivar p'ra Lua
Se ser normal quer dizer brigar com meu irmão, se quer dizer odiar a escola, se quer dizer ir a todas as baladas e sair p'ra comprar roupa, usar vestidos caros
se se normal é ser padronizado, é usar sempre as mesmas palavras, é querer ter opinião
se ser normal é lutar pela liberdade pela liberdade
Quem quer a liberdade a liberdade? Para quê a liberdade sem a liberdade de não ter a liberdade? Eu quero é ser feliz!
Se ser livre quer dizer não ser preso a nada, quero grilhões pesados, firmes, como uma corrente, ou um abraço. O homem é um ser social, que morre se ficar sozinho.
Mas se ser livre eu puder ser incompletamente livre, serei livre também.
se ser normal for assistir futebol
pertenço a pessoas, a lugares, a conceitos, mas não pertenço..
se ser normal for usar tênis o dia todo mesmo que o chão da classe esteja limpo
se ser normal significa não poder andar em ciclos, não correr, não pular, não gritar no meio da rua nem fazer pique-nique na rotatória
se ser normal é saber todos os episódios de simpsons de cor
se ser normal é não abraçar, não dizer bom-dia, não sentar no chão (qualquer lugar)
se ser normal quer dizer não fazer nada só por fazer, Só aquilo que se faz sem se perceber que se faz e que não faz sentido
se ser normal é contrariar a natureza
Ser normal tem que ser natural.

se ser normal é não poder amar
quem eu quiser amar
quem eu tiver de amar
Se é ter que desistir, se é se submeter a todas as regras, eu não quero ser normal.
Eu não quero nada disso: não quero comer chocolate, não quero assistir TV, não quero dormir, não quero jogar video-game, não quero ir ao cinema. Não quero ter de me conformar com coisas que não têm sentido.
se ser normal é aceitar sem questionar
Não questiono, mas eu também não aceito. As regras são apenas guias, sou eu quem decido o que vou seguir, e o que posso desobedecer.
E eu posso sim me apaixonar pelo Sol. O Sol é como o amor e o ouro, se a amizade é como a prata e a Lua.
Não quero ter que agir de acordo com o que as pessoas vão achar que eu sou.
"Odeio CULT: eu gosto de CUL-TU-RA"
Que se dane se eu nunca li um Saramago, se eu nunca nem mesmo vi a Ilíada, se não li mais que cinco ou seis poemas curtos de Drummond.
Tem gente que tira qualquer música de primeira
Tem gente que lê um livro impossível de filosofia num dia e depois explica
Tem gente que pergunta se é para discutir ou para ganhar a discussão.
Tem gente que sabe andar em qualquer rua da cidade, mas nunca comeu chapado com pingado olhando o Sol nascer na estrada.
Tem gente que declama em sete línguas, mas nunca cantou uma música sem letra numa canoa numa praia do litoral brasileiro.


Tem gente que ganha qualquer jogo de war e nunca se machucou numa luta.
Tem gente que nunca lutou.
Tem gente que 'tá vivo a mais de meio século sem nunca ter vivido de verdade.
Tem gente que acabou de nascer e já está sendo enterrado.

"E não há revolta?"
Como é que não há revolta?!
É absurdo, incompreensível. Como nesse mundo em que a gente vive
tem gente que não escolhe -- tem gente que morre
É só olhar p'ras nossas vidas; diga o que você vê.
Tudo o que não podemos fazer. Tudo o que podemos apenas sonhar.
Aquilo que podemos escolher e o que não podemos
Mas vamos de qualquer forma
essas regras são agora nossas
ou vão ser de qualquer forma

Minhas pernas estão peludas, muito peludas.. Meu cabelo está desengrenhado, meu rosto e minhas mãos estão sujas, minhas unhas carcomidas, as pernas e os braços e o rosto e o corpo inteiro coberto de cicatrizes e machucados. Minha calça está rasgada.. Eu fedo a corpo, a pele, um cheiro selvagem que quase me agrada nos dias furiosos ou muito calmos, uma mancha de suor gelado na camiseta, molhada.
E se por isso eu for menos mulher, que alguém me espanque, me quebre, me deforme, para que eu seja monstro disforme, porque também homem nunca poderei ser.

Podemos contornar as paredes do labirinto -- ou derrubá-las
Quem dá-nos machados e toras?

Não perguntarei mais se está tudo bem, pois que essa pergunta induz à mentira. A mentira! A menos, é claro, que esteja tudo bem mesmo.. mas da próxima vez, olhos tristes de pessoas que já vi sorrir (porque, de alguma forma, não são realmente pessoas que não conheço) quero que respondam uma pergunta mais sinceramente.

como vai você?
eu preciso saber da sua vida... .


Quem sabe
seremos os próximos titereiros; eu quero ver quem se opõe. Quero conhecê-los:
os que vão lutar quando nós estivermos mais afim de cantar em conjunto.

Porquecantaremconjuntoéentraremacordoprofundosobreaintimidadedamatéria, produzindoritualmentecontratodoruídodomundoumsomquediminuiograudeincertezadouniverso.