31.5.06

Criei coragem e vou sumir

Quer uma força?
Vai lá e chora
Ficou forte?
Adeus, cai fora.

29.5.06

Encontro e Despedida

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Nunca gostei do Pequeno Príncipe.




O sentido da vida eu sigo encontrando. Só não sei mais com quem vou dividi-lo.

28.5.06

Conversa com a mãe

- Então é como se vocês estivessem se dando um tempo?
- Não. Porque se eu disser que é isso, eu vou criar esperanças de que podemos voltar.

Nós choramos.

- É uma possibilidade, mas você não pode contar com ela.

25.5.06

E tinha aquela que, em 1999, quando eu estava na 4ª série e o Palmeiras jogava contra o Manchester United pelo Mundial Interclubes, criticou e discursou contra meus colegas, sãopaulinos, e corinthianos que torciam contra o Palmeiras, incitava em nós um nacionalismo obrigatório e dogmático. Tome: ninguém deixou de torcer.
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Vinícius de Moraes

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Quem sabe, não é?
Quem sabe tudo muda.
Por que não ir para o Exército?
Um ano...

Por que não?
O que nos prende?
O que nos incomoda?

Esses seus olhos que acabam sem me dizer nada.
Esse automatismo, a rotina...

Automático, incômodo, estranho, alheio.


O que será, que será?




PS. Não implorem por meu voto.

14.5.06

Glória ao Pai, ao Filho e ao Relógio de Pilha

IMAGEM:

A visão é de quem está na platéia do lado esquerdo e em algum lugar próximo à quinta fileira.
No canto do olho direito, uma mulher cuja pele pressiona o crânio.
No primeiro plano, filha, esposa e marido abraçados com as mãos nos bolsos traseiros das calças jeans (as três calças diferentes).
Mais à frente, um homem quase velho e quase careca fala discretamente ao celular.
À direita, um homem muito alto abre um bocejo imenso.
Ao fundo, uma mesa, um padre e diversos ícones.
À esquerda, um painel branco.

AÇÃO:

Mulher passa pelo corredor central religiosamente carregando um relógio de pilha. Cerimoniosamente, o relógio é colocado em posição de destaque no painel branco.



A missa prosseguiu e o relógio continuou funcionando.
Se pára... Deus queira que não!

11.5.06

A você, babaca, minha paixão

às vezes você fala certas coisas que me dá vontade de te esganar... como você tem a cara de dizer essas palavras?

(essas palavras são minhas)

9.5.06

...

saco...

...

Desisto.

Não sei de quê.
Mas desisto.

(...)?

Estou esperando... vamos lá, estou esperando!
Como você demora...

Não devia me importar se fui desprezado por Deus, mas me importo.

Não devia me importar por perder o dia das mães (um dia comercial, artificial etc.), mas me importo.

Não devia me importar com o pouco tempo que tenho pra ver vocês (a vida é assim mesmo, as pessoas não vêm seus amigos, não é?), mas me importo.

ponto.

adeus batucada, adeus batucada querida... (e guardo no lenço [ou no lençol?] uma lágrima sentida)

Sabe,
você foi a primeira pessoa que vi como amiga
você foi a primeira amiga que me vi amar
agora não sei se ainda te amo...

Adeus, meu lindo amor (eu vou embarcar...)

Antes eu achava que estava prolongando minha paixão por Você por orgulho amoroso, só por teimosia, por não querer largar.
Percebi que não: continuo apaixonado por ti porque não tenho o que fazer depois de perder essa paixão. Não tenho para onde ir. Me desapaixonando, passaria a ser nada.
Então ainda te quero. Paixão, paixão mesmo, doença do amor possível-impossível.

...

Desafio Deus. Falo com Deus diariamente. Às vezes, então, acho que acredito em Deus, e só não admito porque sou orgulhoso do meu ceticismo. Mas não: quando realmente penso na possibilidade de crer, percebo que é ridículo, absurdo.

A todos os que acreditam que Deus existe:
Vocês são idiotas cegos (a ênfase está no 'idiotas').

...

De que adianta, então, querer ser ator? A Arte não é o sentido da minha vida. Estava enganado.

...

Yoshi Oida nos ensina que mudar nosso físico nos ajuda a mudar nossa mente e emoções: diz para abrirmos nosso corpo quando estamos nos sentindo mal, desesperados, e assim nos sentiremos melhor.
É verdade. Eu já tentei, é verdade. Alegria e tristeza são controláveis.
Mas eu não quero estar alegre, prefiro estar triste, não quero ser alegre.
Eu quero ser feliz.

...:...

Felicidade existe ou não?

Existem dois tipos de cosmovisão: aquelas que se baseiam na relação sinonímica viver=sofrer e as que partem do princípio da felicidade possível. No budismo ou no cristianismo medieval, a prática ascética era pra garantir a única felicidade imaginável: a da não-vida. Se tantas pessoas acreditavam na inexistência da felicidade, como será possível que ela exista (vejam bem, o contrário não vale: muitos acreditarem na existência é apenas como muitos acreditarem em Deus: fraqueza, fuga...).
Mas eu acredito (aliás, acho que existem dois níveis de acreditar: em um nível, todos os seres humanos acreditam em felicidade... só não sei quanto ao outro...)

...

Não queria me importar com a beleza. Mas me importo.

7.5.06

Tem razão, eu preciso sacrificar algo.

Eu sacrifico vocês. A partir de agora, não somos mais amigos, não tenho mais amigos. Só "velhos amigos". Continuarei vendo vocês. Mas não há mais amizade. Sacrifico o pouco Amor que tive na vida.

Volto a ser sozinho. Completamente.

4.5.06

- Não, melhor não - disse Ludmilla. - Eu posso falar de Manuel sem bancar a mãe-coruja. O teatro e a maternidade não se associam muito bem, e além disso já é tarde.

- Não é tarde, Lud. Até agora não quisemos, de acordo, mas não sei, você temuma maneira de falar de Manuel e depois, que diabo, as soluções sempre se encontram, eu não vou ser o pai ideal, isso é verdade.- Já é tarde - repetiu Ludmilla bebendo o chá sem olhar-me. - Agora não, Andrés.

Tomei-lhe a xícara, deitei procurando o calor, os pés de Ludmilla passearam pelos meus, cachorrinhos mornos. Francine, evidentemente. Era fatal. Mas não apenas isso, Ludmilla tinha fechado os olhos e deixava que as mãos de Andrés a acariciassem vagarosamente, desenhando-a na escuridão, em algum momento Andrés acenderia novamente o abajur, nunca fizeram amor às escuras, tinham que se ver, tinham que estar ali, negar qualquer um dos sentidos teria sido como cuspir na cara da vida, e não se tratava somente de Francine, se bem que também, pois se se deixavam levar e faziam um filho dava no mesmo que o pai fosse Andrés ou qualquer outro, ainda que não existisse qualquer outro, dava no mesmo porque Andrés iria e voltaria, Francine ou alguma outra dava no mesmo, no fundo não seria ele o pai dessa criança, acabava de dizer que não seria o pai ideal, nesse terreno era incapaz de mentir, estava lhe oferecendo algo que não assumiria jamais completamente. Que importava agora, melhor dormir, mas eu não queria que ela dormisse assim cansada e triste, três atos cada noite e matinê aos domingos, apesar disso não podia deixá-la ir assim ao léu, é claro que era Francine, o íncubo ruivo em plena noite.

- Sim, também por isso, por sua maneira de ser e querer explorar-me - disse Ludmilla. - Tampouco Francine quererá um filho seu chegado o momento, é muito
inteligente, quase tanto quanto eu. Durmamos, Andrés, estou morta. Não, por favor, me sinto como esses maços de cigarros de Gómez. Ah, prometi a Susana que iria ajudá-los a preparar outra remessa.

- Está bem, teremos que juntar as guimbas - disse-lhe -, parece que agora vai
se tornar a nossa atividade mais apaixonante.

- Não seja idiota, não leve a coisa assim.

- É a conclusão inevitável, ter querido tanto na vida, procurar todo o seu sentido, e descobrir que vamos direto para um monte de fósforos queimados, algo assim. Frases, já sei, mas também a verdade, Ludlud, porque teria sido tão simples e tão recomendado não dizer nada a você, não falar nunca de Francine ou de qualquer outra mulher.

- Mas sim, bobo, para que voltar a isso. Não é que eu junte as mãos de admiração diante de seu desejo de franqueza, que no fundo é uma maldade que busca corroer as coisas a todo custo, mas esse problema já foi falado até não poder mais, Andrés, o que acontece é que eu devia ter um filho com você antes, quando éramos somente nós dois e exatamente por isso não queríamos ser três, não queríamos berros e fraldas sujas em casa, você precisava de ordem, de calma e de baudeleire e eu ensaiando no espelho, todos os perfumes da Arábia não poderiam apagar, etc. Narcisos aliados, perfeitos egoístas assinando um pacto para sentir-nos menos egoístas por adição. E em vez do temido terceiro mijão e mamador, voilá que chega Francine fresquinha da universidade e da haute couture, com seu carrinho vermelho e sua livraria e sua liberdade. Posso compreendê-lo, mas nem ela nem eu aceitaremos nunca seus cilas e caríbdis, mas não quero um filho, já não. O dia em que o metabolismo me peça forte demais, como parece que aconteceu esta noite, irei para a cama com o primeiro que me der na telha, ou irei ver Xavier para que me insemine como se eu fosse uma vaca. Good night, sweet prince.

- E eu, Lud? Por que continua me tolerando se não pode aceitar minha maneira de viver? Minhas maneira de querer viver, melhor dizendo, que se esmaga em cada virada.

- Porque o amo muito - disse Ludmilla, e por uma dessas astúcias do idioma o muito tirava quase toda a força do amo e era verdade, amava-o muito porque era bom e alegre como um gato e cheio de projetos irrealizáveis e discos de música aleatória e entusiasmos metafísicos e pequenas atenções, ele lhe vestia as jornadas, pendurava cortinas coloridas nas janelas do tempo, brincava com ela e se deixava brincar, saía com Francine e voltava com as obras completas de Roberto Arlt, e além disso o tempo fazia das suas, o costume se instalava, o apartamento tão bonito, já não havia nada para aprender nem para ensinar, bastava a saúde e rir muito, andar por Paris de braço dado, ver os amigos, Marcos, o cordovês distante e lacônico que agora começava a vir com freqüência, a falar, a trazer Lonstein, a contar-lhes da agit-prop, das confusões, das caixas de fósforos, quase como se fosse somente para ela se bem que Andrés se acreditasse diretamente envolvido, e porque quase, polaquinha hipócrita, acabava de senti-lo ainda o sentia como na pele, a voz entediada e cordovesa de Marcos falando sobretudo para ela, para que começasse a saber o que acontecia que não era muito mais de uma ou de outra maneira a Roda, polaquinha.

Sentia-a distanciar-se, virar de costas, good night sweet prince, good night, little thing, acariciei-lhe as costas, a bundinha, abandonei-a ao sono ou à insônia, como sempre depois de tantas palavras a desejava, mas sabia que essa noite só encontraria um mecanismo resignado, tudo menos isso, go to sleep sweet prince, realmente estão malucos com seus fósforos, e pensar que em Briafa, mas não, tchê, vai ficar sem dormir e Lonstein com seus deuses do caminho, algo não funciona, irmão, podia ter ficado em casa e escutar Prozession, por que ir na onda de Marcos, estão loucos, não me coloque o cabelo nos olhos, Ludlud, oh desculpe, estava dormindo e sonhei algo, não seja boba, eu gosto do seu cabelo, durma, esqueça, sim, Andrés, sim.

CORTÁZAR, Julio. O Livro de Manuel; tradução de Olga Savary. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. pp. 99-102.

1.5.06

Como eu poderia "ser melhor que isso" se eu sou isso?

Algumas pessoas parecem achar que eu invento tudo na minha cabeça, toda a dor, toda a solidão, e que seria só mudar de 'atitude' para encontrar a felicidade e o sentido da vida. Assim seria fácil, não? Acontece que é de verdade o que eu sinto.

É de verdade minha solidão, é de verdade minha falta de vontade de viver, é de verdade minha paixão por você, é de verdade minha dor por estar sempre tão longe das únicas pessoas que me alegram um pouco, é de verdade meu desgosto por odiar a faculdade que eu sei que é a que eu quero fazer, é de verdade minha vontade de me matar, são de verdade minha raiva e minha frustração, é de verdade o vazio que eu sinto e que não consigo extinguir por mais que eu tente.

Há alguns anos eu costumava falar com Deus antes de ir dormir, e pedir pra ele propiciar minha felicidade. Passou o tempo, eu deixei de acreditar nele, e se falava com ele era só pra xingar num momento de raiva extrema. Há mais ou menos um mês eu voltei a 'rezar' pra ele toda noite, mas o que eu peço agora é que ele permita que eu morra durante o sono e não precise acordar.

É também quase um sono ir pra São Paulo durante o fim de semana e ver vocês... mas mesmo isso já está perdendo a força: nos vemos uma vez ou duas, por pouquíssimo tempo, e o resto dos dias eu passo sozinho no meu quarto. Chorando.

Me parece que eu tenho três possibilidades: vir de vez pra Barão e esquecer vocês. Ir de vez praí e desistir da faculdade. Ou continuar como está.
Não consigo ver felicidade em nenhum dos caminhos.
Aí surge a quarta possibilidade. Algumas pessoas (até você...) já me disseram que eu tenho ou tive muita coragem, e blá blá, mas agora eu só queria ter coragem pra me matar.

Podem dizer que eu estou exagerando, que estou sendo adolescente, sei lá o quê.
Mas eu não tenho vontade de viver.

Desespero...

Chega, por favor. Chega.