30.11.05

Para duas pessoas

1.

As férias efetivamente têm início quando eu me percebo obrigado a dormir para não ter de pensar. Sempre tive medo das férias. É certo, foram nelas que aconteceram alguns dos grandes fatos da minha vida – mas são todos fatos abstratos e absolutamente internos à minha cabeça, jamais fatos de verdade, factos, feitos, fazidos por alguém que faz. Portanto, não são fatos, são pensamentos, descobertas e desenvolvimentos intelectuais. Acho que o ser humano sozinho não consegue fazer o suficiente para não pensar demais – ele sempre precisará de outros galos que peguem pelo bico seu fio de existência e teçam um fazer róseo como a aurora cacarejada pelo mais viril dos aves. (Certas pessoas, contrárias à idéia da dicotomia mente-corpo como caracterizante do ser humano, podem discordar da diferenciação entre fazer e pensar, mas que há, há.)
Foram dias intensos os primeiros das minhas férias (definidas como período após minha última prova, ou seja, na conotação oficial do termo), os teatros (três) me proporcionaram duas semanas de atividade fazida, e ainda o vestibular prolongou tal período até domingo.
Deve-se, no entanto, fazer um parênteses: sexta-feira e sábado. Não fiz nada, passei os dias em casa, e foi um inferno. Mas não dormi para não pensar. Não fiz nada. Não estudei, não li, não vi tv, mal comi. Dois dias passados andando pela casa sem nada fazer ou deitado na cama, pensando. Sofrendo, chorando bastante. Acordei na sexta-feira com um humor até que bom, mas o que recebi me derrubou do penhasco direto nas pedras pontudas. No momento em que eu ia bater – o som eletrônico, horrendo mas ironicamente salvador. Um barbantinho segurando meu pesado corpo, me impedindo de me estraçalhar. Uma respostinha. Uma resposta adiadora, terrivelmente assim. Mas uma resposta que me permitiu agüentar mais dois dias. ...Sua.
Segunda-feira foi um dia maravilhoso.

Tenho uma vontade secreta
Escondidinha de vergonha
Na curva da minha boca.
Uma vontade verdadezinha
Que às vezes julgo mentira
De uma má vida sozinha.
Uma vontade mensagenzinha
Sintaticamente curta
Mas, se verdade, aguda.
Tenho uma vontadezinha
Inteira no diminutivo
Uma vontadezinhazinha.

Uma vontade nanica
Como você também é.
Dizem que muito pouco
Nada jamais pode ser.
Mas pouco segredo
Explode quando dessegredo.

Uma vontade secreta,
Pequenininha, singela,
Quanto poderá crescer
Somente por ser real?
Não é uma mensagenzinha
Assim, para ser escrita
Em aberto, à distância,
Sem nem olhar sua pele (alí) onde ela fica mais rosadinha.


Devia ter te falado aquilo na segunda-feira. Acho que não vou ter mais coragem de falar. Mas foi bom, foi imensamente bom, foi o melhor dia que eu tive nos últimos tempos. Me esqueço como é bom conversar! Falar de verdade, com a voz e a garganta e a respiração minha, carregando meus micróbios e hálitos e meu calor. Odeio aquelas mensagenzinhas de texto, mesmo estando viciadas nelas – elas são tão mais fáceis! Tão impessoais... falsíssimas, no que diz respeito à vontade lingüística. Aquela praça, já estava maravilhosa antes de você chegar. Tive prazer até com o constrangedor início, em que ninguém sabia exatamente o que dizer, ou como dizer, ou pra que dizer. Duas horas é tão pouco tempo! Mas deu pra falar muita coisa que precisava ser falada. Pensar também, mas não no sentido ruim do pensar, no sentido que me faz querer desistir de tudo, pensar no sentido criativo, que pode até produzir uma esperançazinha. Você é, Marina, uma esperançazinha. Como que caiu de uma daquelas árvores dentro da minha cabeça, mas bem aos pouquinhos. Precisamos fazer isso mais vezes. Não que tenhamos falado de coisas que eu nunca falei na minha vida, ou que não esteja nas minhas conversas mais atuais. Mas faz diferença falar com você, acho que você é a única pessoa que me entendeu mesmo estando a dois palmos do meu rosto. E, afinal, é com você que eu quero falar. Espero um dia poder falar mais este segredozinho – depois de um segredozão contado anteontem.
Mas realmente estava de bom humor anteontem. Um presente do acaso, talvez para compensar as mil vezes em que ele me jogou um pacote de merda na cabeça. Foi bom, finalmente, te abraçar depois de tudo falado! E não chorei, impressionantemente, surpreendendo a mim mesmo, não chorei em momento algum. Não choro há alguns dias. Novembro! Se você pudesse não ir embora! Sinto que dezembro me trará algo diferente.
Marina.
Marina, quando eu for pra Campinas eu te deixo meu endereço.

2.

O que acontece quando se vive bons dias em meio a uma hierarquicamente superior infelicidade é curioso. É claro que não me esqueci de Você em momento algum. Seria impossível, e cada vez mais. Pensei em você, falei sobre você – para quem sabe o que você é pra mim, pra quem não sabe, pra mim mesmo, pra quem nem te conhece (quem te conhece só como algo pra mim ou quem te conhece só como alguém). E foi inusitado o prazer que senti quando falei sobre você! Há quanto tempo não pronuncio tantas exclamações... e exclamações tão criativas! Exclamações eróticas, vívidas, não mórbidas!
Não te vejo já há tanto tempo. Na verdade, uns três dias. Vou te ver hoje. Vou me sufocar com sua beleza, me drogar com a visão do seu sorriso, me embebedar com um curtinho abraço de oi. E me sinto tão ridiculamente apaixonado que tenho vontade de gritar! Gritar que te adoro e gritar simplesmente, um grito grutural sem palavras! Patético, sim, eu admito, patético e ridículo e esdrúxulo e proparoxitonamente absurdo!

Tenho um pequeno prazer
Que repito e repito às vezes
Quando consigo me dar prazer.
Repito-o e repito-o também,
Algumas vezes, quando
Não consigo evitar.
É pensar em você e no que
Você deve estar fazendo
No exato momento que vivo.
Imaginar, se necessário,
Contanto que possa sentir
Que vivo o mesmo instante que você.

Agora você pode estar
Talvez descansando.
Talvez esteja conversando
Fazendo algo, se divertindo.
Ou se preparando – talvez
Esteja agora mesmo no banho...

E, se estiver no banho
Após tirar a roupa
E a água cai sobre você,
Quero a água, não sua nudez.
E, se não estiver, tudo bem
Também é bom não saber
E ver você de surpresa
Sua beleza continuará (sendo) a mesma se eu não estiver certo.


Mas houve, também, algo que me incomodou. Sim, é claro, claríssimo até, que eu nunca poderei te ter. Mas dói como se não fosse claro. E dói ouvir isso, com outras palavras, da boca de alguém que te conhece. Dói tanto. E foram dois dias alegres e foram alegres meus pensamentos em você, mas também doeu. E dói agora pensar nisso. Sonhei com você esta noite. E agora me pergunto e concluo que sim: você deve saber o quanto dói um suspiro.
Será(fim) que você lê isso daqui? Já tive indícios de que sim... e de que não. Não sei se quero que leia ou que não. Se ler, poderá dar uma espiadela dentro de mim, mesmo que não saiba que é de você que eu falo [o autor do texto propõe um exercício para quem o lê, seja quem for, conhecido ou não, menina ou menino, adulto ou jovem, sabedor ou não de quem é Você na verdade: imagine que você sabe que você é Você... só imagine. Talvez seja, mesmo... mesmo se não for, espero que sinta algo esquisito (não necessariamente ruim)]. Poderá ver o que eu queria que você visse por querer, o que eu queria contar pra você no seu ouvido, o que eu queria gritar pra você no seu ouvido, o que eu queria beijar em você, marcar com fogo na sua pele que te adoro e que sofro tanto por você e que me permito ser ridículo por você. Se não ler, não precisará se preocupar com meu sofrimento, ou ainda, não precisará ser indiferente, não precisará fazer algo ou saber que não está fazendo nada quando talvez devesse estar, se não ler não estará sendo indiferente justamente por ignorância... Se ler, talvez sinta algo. Por mim? Não esse algo, mas algo. Queria tanto saber que você sente algo por mim. Amizade (mesmo eu não sabendo o que significa amizade), que seja.
Acho que esta noite haverá uma confusão dentro de mim. Acho que me sentirei contente de te ver, mas também acho que sofrerei ao te ver distante. Enfim, odeio festa, mas te adoro, e agüentaria mil festas por você. Agüentaria tanto por você... mas já passou o tempo em que fazia promessas. Faço-as pra mim, no máximo, e não necessariamente as cumpro. Digo que agüentaria tanto por você não prometendo agüentar se puder te ter, mas só por falar. Desistiria de muito por você. Acho que desistiria do meu futuro – e já pensei bem nisso. Desistiria da minha sanidade, da minha dignidade. Sou ridículo.
Algo curioso: sofro muito perto de você, te vendo de longe, pensando em você em sua ausência ou presença, mas não quando converso com você. Quando converso com você o universo silencia seu buzinar incessante e eu sou contente, tão contente, e já nem preciso gritar que te adoro. Te adoro. (Apenas?)

26.11.05

Compor

Compor uma música cheia de bolinhas e tracinhos que por algum motivo obscuro ou por qualquer capricho divino dos Homens tem um significado e pode ser tocado em uma ampla variedade de instrumentos que produzem vibrações sonoras de formas tão variadas quanto.
ouapenasescreveroquemedernatelha
Sabe?
Velha, eu quero te beijar - mas ao mesmo tempo, quero erguer minha perna e te dar um coice.
Ai! minha perna.
ouapenasescreveroquedernatelha
Acho, na verdade, que aquilo que eu escrevo assim não parece tão importante. Ao menos. Não sou.

Vomitar de dia.
(Talvez apenas à noite, quando estiver com sono.)

Dora rainha do frevo e do maracatu


D!ora!
Oh! Dora!
a g o r a.

[-post abortado-]

[-trecho de e-mail - inserido em 30/12/2005, às 22h07]

(...) eu paro dois compassos antes do fim. Ninguém percebe. Eu guardo meu violino. Eu acho que ninguém faz arte só para si mesmo. No ensaio de ontem, Mali, você tinha que ver um coro infantil que foi cantar com a gente pela primeira vez. Que fofos! Eles tinham uma voz fina e depois de uma música, ficaram cansados e sentaram. Eles ficavam olhando para nós maravilhados. Coloca o dedo no tatuzinho, ele se enrola. Mais ou menos isso. Foi assim que eu resolvi tocar violino. Liguei na TV Cultura. Alguma orquestra. Um close no violino. Mãe, eu quero tocar isso aí.Será que alguma daquelas crinças olharam e falaram, mãe, eu quero tocar flauta, eu quero tocar, violino, eu quero tocar aquela coisa grande! Talvez. Tinha um molequinho de olho azul. Um outro neguinho, cabelo curto. Uma menina gorda e uma outra que tinha muita vergonha.Tocamos uma peça chamada Ricercari, extremamente difícil, mas muito bela e intensa. Cinco minutos de atenção total, tempos contados e marcados pelo regente, desritmia com todos os outros naipes. Termina com uma nota sol bem grave, corda solta. O arco vai para baixo uma vez e sobe cada vez mais intensamente até que o regente fecha a mão e todos os arcos se desligam das cordas e elas passam a vibras quase ontologicamente; os arcos vão para cima num êxtase inexplicável.

25.11.05

Eu pingo
enclausurado

em uma festinha sufocante
para mim mesmo

nas festinhas sufocantes,
o parente inválido é posto
sob colchões
sobre os quais
bebem e divertem-se
seus familiares
enquanto o sufocado
já nem se debate
inválido
de debaixo dos colchões
apenas - apavorado -
(e a partir de determinado momento,
desiludido)
aguarda o futuro
nem o corpo
nem a alma
puxam-se
um ao outro
desistindo do presente
e de julgamento qualquer que seja
desiste de si mesmo
mata-se antes do assassinato

Você precisa falar comigo

Não leia, ou leia, Marina

Eu ia fazer um post compartimentando em capítulos tudo aquilo que eu sinto que preciso dizer neste momento. Mas seria mentira – tudo se mistura, na verdade meus mil sentimentos problemas e pensamentos são frutos de uma só fecundação. Só que eu não sei qual fecundação é. Não sei que processos inconscientes vieram gerar em mim o que eu sou hoje. O que eu sou hoje? Um projeto de gente, algo que foi arquitetado por um vento ruim, desenhado tempo após tempo na areia fina de uma praia inóspita, mas sempre um desenho não realizado, não transformado em edifício (orifício...?). Porque às vezes eu acho que eu sou impossível. Como se meus ângulos e medidas não fossem aceitos pela física – a construção não agüentaria em pé, então não se a realiza. E já o desenho não se agüenta, percebe-se o desequilíbrio básico – talvez desejado conscientemente pelo artista-vento. Um desequilibrado. Sempre achei que sou louco (e não num bom sentido), e minhas ações nos últimos dias só vêm me confirmar isso.

Eram assim os dias que eu gostava. Sem sol, nublados, cinzentos, feios. Porque nos dias bonitos há tanta luz que eu não consigo me ver. Não que eu realmente consiga me ver nos dias sem tanta luz, mas já é um pouco melhor, um pouco menos inexistente o meu ser. Hoje eu não estou gostando. Estou me vendo e estou insatisfeito com o que enxergo. Às vezes é melhor a gente não se ver. Por isso odeio espelhos. Por isso quis me convencer, há mais de dois anos, de que odiava alguém, por isso nessa ocasião briguei e gritei com a pessoa. Depois pedi desculpas. Na minha situação atual, ainda não pedi desculpas. Sou péssimo com isso. Porque não sei se vale alguma coisa pedir desculpas sem alguma explicação maior. E eu não tenho essa explicação.

Você parece ter essa explicação, mas acho que você está enganada quando diz que sabe o que é, o que eu ou você fiz ou fez. Porque eu realmente não sei o que foi. Não digo que foi apenas uma brincadeira, claro que não foi, mas eu não consigo entender de onde veio toda aquela raiva, a repulsa, a vontade de ir embora e nunca mais te ver. Ontem, às onze horas da noite, estava eu sozinho no camarim, chorando. Pensei em você e aquilo se dissipou. Mas não consegui mudar meu comportamento. Hoje acordei pensando em você novamente. Daí, li seu e-mail, seus posts, enfim. Espero que você não leia isso agora, pois eu mesmo disse que não queria falar com você assim, por escrito, que queria pelo menos uma vez existir concretamente. Onde? Onde é uma palavra que sempre me agradou. O que, Por que, Quando, Para que, Quem, Como, tudo isso tem no mínimo um sentido abstrato, imaterial. Onde não. Tem gente que usa onde para as coisas mais absurdas. A mente não é um onde. Onde é concreto, onde é corporal. Quero existir onde. Então se você leu isso, pode continuar lendo, mas não deixe que isso vire tudo.

“Se fossemos todos retas”. Existem três possibilidades de posições relativas entre retas. Duas retas podem ser iguais, mas só são iguais quando são a mesma, e portanto isso não é, de verdade, uma posição relativa. Podem ser concorrentes: duas retas se degladiando, mas em um ponto se encostam. Ou paralelas, não há concorrência, mas somente uma imutável inexorável distância. Talvez sejamos todos curvas, e possamos ter dois ou mais pontos se cruzando. Às vezes, idealizo a relação que a senóide tem com o eixo das abscissas. Desejo, no fundo no fundo, que duas retas possam ser iguais sem serem a mesma. Desejo o absoluto. Mas quando fiz um pedido ao absoluto, ele não me respondeu.

Hoje começaram realmente minhas férias, ontem eu cumpri minha última obrigação neste colégio. Não sei o que vou fazer em dezembro – tenho medo de dezembro. Sempre tive muito medo das minhas férias, mas essas... muito a resolver no ócio das férias. Tenho medo de ficar, como sempre fico, dias e dias e dias sozinho em casa, ruminando uma bile escura dura como borracha. Medo de me quebrar em tantos pedaços que, desta vez, eu não consiga juntar antes de voltar ao convívio humano. Medo de deixar as questões sem resposta. Também falo das questões de português, matemática, que terei de resolver em janeiro. Também falo das questões teatrais que terei de desenvolver se quiser ir para Campinas. Mas, obviamente, falo antes de tudo das questões pessoais, que nunca fui muito habilidoso em responder. Se não respondê-las, será que perderei todas minhas amizades ao mudar de cidade? Que salvação terei?

No fundo, sou muito impossível. Não sei como viver. Já admiti: não sei amar, não sei ter amigos, não sei ser membro de uma família, não sei conversar, não sei ser gente. Não sei ser feliz, e mesmo assim sinto que, se um dia me for dada a oportunidade, serei mais feliz do que qualquer pessoa jamais imaginou. Mas como fazer isso? Como me dar a oportunidade? Será que eu vou pra sempre depender da boa vontade do acaso? Não consigo tomar meu destino em minhas mãos, sendo o único responsável por ele, ele não me obedece quando ordeno ou peço que ele mude de direção, faça tal outro caminho.

Tinha muito mais o que falar, mas não quero continuar.

Depois eu falo pra você

Se nós não morrermos antes.

Fim.


(Consegui fazer um post inteiro sem falar de Você. Mas ainda estou apaixonado por você. Não que você fosse achar que não, porque você nem sabe que sim. Mas é sempre bom lembrar.)

Por favor

Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado?
dezprezar quem te quer bem?


É sempre frustrante escrever o que você já sabe.
Espero que eu saiba também, o que agora escolho saber. É estranho como tenho poder de escolha, neste caso, precisamente por não saber se o que sei é a verdade. Se soubesse, eu escolheria saber a verdade. Mas isso também, é impossível.

Então vou colocar um poema que fiz por você no meu aniversário, quando você não evitava falar comigo.

Não sei porque me sinto assim feliz
Talvez seja a consciência
da transparência
dos seus olhos sensatos e viris
e minuciosamente intencionais
todos os seus olhares e os seus gestos
e o seu falar de amor que é tão humano
e desumanamente ateu, profano
corvo poetano a grasnar
nunca mais
(...)"


Eu nunca poderia contar o sonho que tive contigo. Você ficaria bravo, talvez até triste, e fingiria que me odeia ou me despreza. Talvez nem fosse de todo fingimento.
Queria não ter tido aquele sonho. Queria não ter sentido tanto prazer no ódio daquele sonho. Também queria não ter sentido sua falta, dentro e fora do sonho - acho que as coisas não acontecem do jeito que queremos.
Dizem que pouco amor não é amor, mas eu não me importo. Parece que eu sou só amor. Não vejo mais nada em mim que realmente valha tanto a pena. Você me disse uma vez (não sei se se lembra, foi há tanto tempo...) que me admirava. Queria saber que tanto você me inveja e admira. Talvez minha estranha capacidade de perseguir o sofrimento, de gostar de sofrer? De fazer o que não posso, o que não traz bem a ninguém? O seu sofrimento, querido, é meu também. Sofro por ti, nunca sofri tanto quanto por ti!

Eu queria parar de fingir que não sei de nada. Assumir que sei, de verdade. Responder com franqueza, com sinceridade, o que acho, o quero achar. Mas dizer o que me vai pela alma sempre parece que vai causar mais dor, mais desespero. Porque eu te amo, eu te quero, você é que não entende! Nem pode entender! E você me odeia por isso, e eu te odeio por me odiar? ah, mas você é um louco! Um amante! Eu sou um demônio moi même! Eu sou Raksha, a demônia, a mãe-loba. Ou será que somos todos assim? Será que eu só pude ver o demônio dentro dele porque ele foi o único realmente sincero comigo? Ou será que eu é que me recuso a ver os demônios das outras pessoas? Será que você também é um demônio?

Desculpa... Não, você não pode me desculpar. Nem devia me perdoar quando eu pedir perdão, mas eu vou pedir mesmo assim, porque além do amor tenho fé, ou talvez eu goste de enganar a todos... Perdoe-me, por favor. Foi loucura. Foi um impulso maldito. Foi loucura. Foi um desejo mau revolucionário, mal contido, mau. Perdoe-me.

"Diante de coisa tão doída
Conservêmonos serenos
Cada minuto de vida
Nunca é mais, é sempre menos
O ser é apenas parte
Do não ser, e não do ser
Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer"


Eu quero esperar que você nem saiba do que estou falando; mas parece demais esperar algo assim, dadas as circunstâncias.

Porque eu não sou como você

Cortar.
O mundo lentamente se divide
nos olhos semi-cerrados da atônita
multidão inconcebível
miseráveis
corsos
Corte-os!
Matar e deixar que o sangue
ah, o sangue - correr
por teus seios e boca
teu ânus
teu corpo inteiro
ah, não me fujas! - atar
meus pés e mãos
aos teus
não me fujas mais!
[24/11/2005]

...e portanto não te odeio, nem tento.

19.11.05

Que ninguém se esqueça de que eu escrevi um post camado "Serafim"

Nunca.
Nunca.

Talvez o nunca
Seja parente do nada.

Nunca.

De quem é parente
A dor que eu sinto?

O infinito dá as costas pra mim.

Um grito de não
Pronunciado com um sorriso
Pelo conjunto das coisas
Que me conhecem mas que eu não conheço.

Nunca:
A palavra que Você
Jamais me dirá

E dói tão mais assim.

Subentendida em seus movimentos.

Nada
Como posso dizer
Que nada há entre nós
Se uma distância eterna nos separa?

Nunca há entre nós
Nada
Nunca.

E é, sim, tudo muito claro
Tudo muito lógico
Tudo preto no branco
Nada complicado:
Nunca
Nada
E pronto.

Nunca, nada. Nada, nunca. Nunca, nunca, nunca...

A vida escapa de meus olhos pouco a pouco
Porque nunca
Jamais
Me será permitido ter vida em meus olhos.
A sua vida é tudo o que eu quero.

17.11.05

Each night before you go to bed

(And the darkest hour is just before dawn)

Toda noite e todo dia eu faço uma aposta implícita com Aquele deus em Quem eu não acredito, ou talvez seja uma aposta com o Destino, ou com o Cosmo - qualquer entidade absoluta que queira ouvir. Há um calculo pascaliano de possibilidades e conseqüências. Você pode (1) gostar de mim secretamente, (2) vir a gostar de mim num futuro próximo, ou (3), mais provável, jamais vir a gostar de mim.

Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria.
Se eu pudesse ter certeza (e não aquelas certezas provisórias de que todos somos capazes) de que a opção (3) é a vencedora, então eu já teria me matado. Não que eu não vá fazer isso só porque não tenho certeza, mas ainda não aconteceu, obviamente.

Então eu aposto nas possibilidades (1) e (2). Chego a ter certeza delas - apesar de ter também certeza da (3). E espero dia após dia o momento em que você me dirá que meu inferno acabou. E tenho tanta certeza de que esse momento virá que quando te vejo passo mal por você não dar dicas de que dirá tal coisa. Mas dirá, claro que dirá, por que não diria?, seria absurdo.

Tenho tanta certeza que não sei o que falar, não tenho o que dizer, o que escrever. Tento fazer poemas pra repetir que te adoro, mas fracasso dia após dia. Não há o que teorizar.

Mas tenho tanta certeza, também, da (3). Isso é o que deveríamos chamar de "múltipla escolha", porque não só as opções são muitas, mas minha opção é por três simultâneas ocorrências. É, portanto, uma opção falsa.

Minha certeza da (3) me faz ter vontade diariamente de me jogar da janela. Você sofreria, talvez, mas eu não sou ultra-romântico o suficiente pra fazer disso um poema. Você sofreria mas eu não mais existiria, então no fundo tanto faz. Acho que o que vale a pena mesmo é me matar. Mas a (1) e a (2)...

E quando eu canto pra você você está olhando para o outro lado...
e eu canto tão baixinho...

E então eu converso com você pela 70ª primeira vez e canto alto, ALTO, mas você não me escuta, quem sabe você ensurdeceu? ou emburreceu?
Mas você é ainda a perfeição.

Só queria ser feliz. É isso o que eu digo faz mais de um ano aqui nessa coisa azul inútil. Só quero ser feliz.

Mas acho que nunca serei.

A pergunta é: suicido-me agora, depois das primeiras fases do vestibular ou depois das segundas fases?

Queria passar o ano-novo com você, te abraçando e sabendo que esse ano, fosse o que fosse, seria BOM porque ao menos começou comigo ao seu lado.

Mas eu nunca aprendi como ser feliz - e afinal deve ser de algum modo culpa minha que eu não consigo sê-lo.

Será que você não podia uma vez na vida olhar pra mim de um modo diferente?

Não, não pode.

Sabe, sem você nada tem graça.
Por isso eu estou pouco me fudendo para o teatro.
Por isso eu não estou nada preocupado com o vestibular.
Por isso que eu vivo minha vida sem me deixar atingir.

Nada vale a pena sem você.

Queria gritar que te amo mas não posso te amar sem você deixar.

Então deixo minha janela aberta quando vou dormir, porque assim posso fingir que posso gritar, e posso ouvir os gritos dos bêbados do bairro que me mostram o estado decadente em que eu um dia estarei se não tiver me suicidado dignamente antes.

9.11.05

Situação III
ou
Soneto doentio

Aumentam os delírios com a febre;
No frio me faz mais falta seu calor.
Na dor minha cabeça está mais leve —
A mente solta te olha com ardor.

Os germes fluidos sujam sua Idéia,
Te fazem tão doente quanto eu.
Nos une a cama — e como a luz da vela
Tremula o imaginário corpo seu.

Assim com grande força te procuro
(Nublada por bactérias minha mente).
Pareço poder ver nosso futuro

E disso às vezes me reencontro crente,
Mas basta qualquer um com o olhar duro
Pra ver que desvario insanamente.

09/11/05
P.S.: (ficou ruim...)

8.11.05

A óbvia excepcionalidade
ou
Madrigal necessário

Não preciso escrever.
Não preciso desabafar,
conversar com alguém,
articular, que seja.
Não preciso chorar
(mesmo assim, choro).
Não preciso de motivos para sorrir.
Não preciso de amigos
de segurança
de auto-afirmação
ou estima.
Não preciso de alguém
que me guie pelo escuro.
Não preciso ser lido,
ouvido, não preciso
que acreditem em mim.

Não preciso ler romances
nem mesmo poemas
Não preciso conhecer filosofia
ou entender como é o amor.
Não preciso comer os sonhos
que minha vó fazia na minha infância
(Não preciso abraçar
minha vó antes que ela se vá).
Não preciso da beleza das flores
quase sem perfume, da pureza da chama
em que se consomem os diamantes
mais límpidos.
Não preciso do calor do travesseiro,
do cheiro do meu cabelo lavado,
da música do quarto vazio,
do gosto de pasta de dentes,
da visão de minhas pálpebras fechadas,
da sensação absoluta e total que se tem
pouco antes do sono e logo após o sexo.
Não preciso do cheiro de café
na loja de chocolate, das
músicas que me fazem pensar em você.
Não preciso, até, sentir
sua respiração em minha orelha
quando você me abraça.

Mas preciso de você —
— Perdoa-me por ser tão banal!

08/11/05

7.11.05

Um Dia Qualquer Em Que Te Vi
ou
Madrigal Falsamente Narrativo

Hoje voltei Àquele lugar
Onde encontrei Você outro dia
Só pra contar Qual era a distância
Entre nós dois Naquele momento
Em que te vi: Eram trinta e quatro
Todos os passos A nos separar
Contando a curva Que há no caminho,
Mesmo que o olhar Tenha sido reto
— Contam os passos São eles que agem
E não a luz Que é o que nos une
Já que é só ela Que de você vejo.

A visão foi, como sempre, meu fim.
Eu paralisado, sem respirar.

Tive de desviar do meu
caminho, Passei a andar sobre a
grama, Dei a volta naquela
árvore Pra não ter que falar com
você.
Claro que fui falar com
você, Mas às vezes é preciso
desviar Para fingir que não é
preciso Se submeter àquela
voz Que diz que a minha
vida Não existe de
verdade Sem eu te ter
comigo.

E é claro que fui falar com você;
Eu apaixonado a te respirar.

Você não me viu
Eu te falei oi
Você me abraçou
Eu deixei
Tudo continuou
Tudo estava normal
Ninguém reclamou

E eu acho que morri naquela hora,
Ali, com você bem na minha frente.

Não sei se me alegro ou entristeço
com seus abraços.
Passo o dia e a noite sonhando
com seus abraços.
Colado ao seu corpo me embebedo
com seus abraços.
Sabendo que te verei eu conto
com seus abraços.
Sempre tristes e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre mortos e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre longes e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre gelos e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre poucos e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre secos e quentes aqueles

Seus abraços, e eu aqui tão úmido.
Transbordo sobre mim mesmo-sozinho.

Dialoguinho eu x você:
— Sim. Quando?
— Sim?
— Sim.
— Tá, sim...
— Sim.
— E se não?
— Sim.
— Não?
— Sim.
— Mas...
— Sim.
— Sim.

E no final meu sim prevaleceu.
Mas eu queria que fosse o seu sim.

Agora acho que estou almoçando.
Você conversa com minha paixão
— Outra paixão que não você.
Você conversa com essa paixão
— Só intelectual, não como você —
Com a facilidade que eu não tenho
Pra falar com você (que fala, sim,
Comigo com tal naturalidade).
Não sei dizer sobre o que vocês falam
Mas gosto de assistir seu rosto assim,
Com movimento, rindo, com seus músculos,
Não como na foto sua que tenho.

Seu corpo se move muscularmente
E eu te adoro mais e mais e mais.

Agora você vai... embora
Te digo, triste... tchau
Você me dá um... abraço
E eu sinto os seus... movimentos
E eu sinto os seus... músculos
E eu sinto os seus... tecidos
E eu sinto os seus... calores
Mas não posso sentir seus... sentimentos
... e sensações
E, sem que você saiba,
Eu assisto a você indo embora,
E eu assisto a você indo embora,
E eu assisto a você indo embora...

07/11/05

P.S.: Pouco depois de escrever esse poema, vi você. (É claro, me desconcertei, sofri, quis chorar, não consegui mais prestar atenção em nada, quis morrer ou desaparecer, voltar a ser só um aglomerado de átomos, mas não é isso que importa agora.) Vi você chegar e se colocar próximo às pessoas com quem eu estava. Mas elas pareceram não te ver, as que te conheciam e as que não te conheciam. Você nem devia estar ali, não fazia nenhum sentido. Você ia e voltava e aparecia do puro ar. E eu vi, vi mesmo, e eu realmente espero que não tenha sido uma alucinação – eu não estou pronto para enlouquecer.

P.P.S.: Eu não coloquei no poema desta vez porque não era a intenção, mas sempre é bom repetir: eu não sei fazer poemas.

2.11.05

Tempos negros

Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fonte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Bertolt Brecht
(tradução de Manuel Bandeira)

I - Dos meus tempos negros: A estrela, de Manuel Bandeira

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia


II – De ser um formando em tempos negros

Mas eu não estou triste. Eu sei, eu sinto, que existe em mim uma tristeza por estar me despedindo de toda essa fração de mim que foi o colégio e as pessoas com quem, nele, convivi. Mas eu não estou triste, essa tristeza existente não me atinge, não me alcança, apenas me tangencia numa raiz imaginária. E me é estranho ver as pessoas choramingando, chorando, berrando. Por que não posso chorar também? Antes, achava que ia chorar muito, mas muito mesmo, era o que tudo indicava. Mas simplesmente não consigo sentir a tristeza que em mim há. Não faz sentido, mas é justamente isso: não faz sentido, não tem importância. Ficou indiferente. É como se não tivesse acontecido tudo o que aconteceu nesse colégio... só o que aconteceu nesse colégio foi eu te conhecer...

III – De fazer teatro em tempos negros

O teatro sempre foi o que mais fez sentido em minha vida - não é à toa que eu resolvi ser ator da vida. Mas agora nem isso faz sentido pra mim, e eu passo os ensaios dos meus três grupos querendo que o ensaio acabe, e pensando em você. Não consigo me concentrar, me doar para o trabalho, não consigo ver no teatro a maravilha artística e existencial que encontrava nele ainda em junho. Lembro-me da minha viagem a Campinas, em que me parecia tão claro o que eu queria: ser ator. E pronto. Agora, me é estranha essa possibilidade. Enfim, não quero ser nada. Quero você. Quero você. Quero você. Não quero, NÃO QUERO ir pra Campinas, se isso significar te deixar aqui, mas que direito terei eu de falar isso, "te deixar aqui", não te TENHO aqui para te DEIXAR. Perdoe-me minhas palavras impróprias. É que te quero.

IV – Do ato de escrever em tempos negros

Antes de querer ser ator, queria ser escritor. Então, escrevia. Desde sempre gostei de escrever e escrevi, coisas mil, historinhas, historietas, histórias, historiões (inacabados). Escrevi diversos contos, comecei a escrever um romance, e modéstia à parte (porque, me desculpem, eu acho a modéstia um sentimento meio apodrecido) eu gostava um tanto do que eu escrevia. Mas não consigo mais escrever coisas que eu goste. Escrevo posts para o pato, alguns poemas ruins, alguns textos poético-prosáicos sem graça, nada com qualidade literária. Mas são os textos mais verdadeiros que eu já escrevi na minha vida. "Serafim" foi o texto mais verdadeiro que eu já escrevi na minha vida. "Madrigal hesitante" foi o texto literário mais verdadeiro que eu já escrevi na minha vida. Só porque eu escrevi eles pensando em você, pra você. Queria escrever um grande épico em que eu sou representado pelo Centauro e você pelo Serafim, seria uma estória grandiosa, musical, lírica, bela, trágica, com um fim terrível de fazer chorar os mais insensíveis leitores. Mas é claro que nunca escreverei isso.

VI – De estar em tempos negros em tempos negros

Sempre fui alguém que se preocupava demais com o mundo em que eu vivia. Sempre tive uma posição política clara e definida, sempre fui crítico quanto à nossa sociedade nojenta, sempre uivei contra o que considerei errado, sempre defendi (e às vezes até propagandeei) meu ideário de esquerda. Mas não consigo mais ter tudo isso em mim, fazer tudo isso, me preocupar com tudo isso. Ainda tenho um certo senso crítico, mas meu discurso político (no amplo sentido da palavra "político") me parece só formal, superficial. Me sinto culpado por não me importar, por estar indiferente quando me apontam as injustiças capitalistas, por ser tão hipócrita. Mas, que surpresa, só consigo me preocupar verdadeiramente com você, só consigo pensar em você, só consigo falar com verdade sobre você, só consigo me interessar por você, e estou ficando louco.

VII – Dos seus tempos negros: O impossível carinho, de Manuel Bandeira

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor –
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

1.11.05

Impublicável - não leia

Por que eu não desisto logo, de uma vez por todas
de uma vez por todas
por que diabos eu não desisto agora, neste exato instante de qualquer coisa
de ser fiel aos meus princípios,
de ter princípios,
de tocar violino.
Afinal, por que diabos eu não páro de tocar violino, se eu não consigo, e agora virão todos e dirão, não... você toca bem e tudo isso. Mas eu não estou a fim. Não senti prazer algum tocando ontem à noite. Nenum. Estava preocupado demais. Não consegui. Não senti prazer e não consegui tocar. Como eu vou me mostrar assim?
Por que eu não desisto de tudo mesmo.
Não consigo fazer nada.
Nada como eu esperava.
Como eu achava que podia.
Ou uma coisa ou outra.
Agora nenhuma.
Não quero mais nada.
No entanto, vou jantar correndo e vou ensaiar. Preciso ensaiar. A orquestra por algum motivo obscuro depende de mim. Mentira.
Mas eu vou. Não vou poder tocar junto à orquestra, prque terei que tocar em oputro lugar, muito pior. Um lugar onde eu não gosto de estar. Não importa quantos prêmios lindos eu ganhe. Não gosto, não quero, não sinto prazer.

Estou cansado.

E vou, de qualquer forma, ao ensaio de amanhã. Ensaio de teatro. Que até me dá um pouco de prazer, mas não dá certo. Que diabos fazer um velhaco ridículo.
Por que eu não desisto das aulas à tarde? Por que eu não deixo de lado minhas responsabilidades quaisquer que forem elas?

Por que eu não abro uma janela
para a moral arejar??
(ou finalmente reconheço que faço isso mais freqüentemente do que imagino)

Deve ser mais fácil. Deve ser bem melhor. Aí eu desisto de tudo logo. Não desço no ponto certo. Vou de ônibus até o metrô. De metrô até a rodoviária, pego qualquer ônibus e esqueço de mim mesmo perdido no meio de qualquer coisa.
Ou saio de casa e sento no meio da rua e me coço feito um cachorro. É muito mais fácil ser um cachorro. Ética é coisa de filósofo, um grande sábio dizia.

Vai ver o Brás estava certo.
Por que responsabilidade?

Se cada um de nós é superior a todos os outros?