7.11.05

Um Dia Qualquer Em Que Te Vi
ou
Madrigal Falsamente Narrativo

Hoje voltei Àquele lugar
Onde encontrei Você outro dia
Só pra contar Qual era a distância
Entre nós dois Naquele momento
Em que te vi: Eram trinta e quatro
Todos os passos A nos separar
Contando a curva Que há no caminho,
Mesmo que o olhar Tenha sido reto
— Contam os passos São eles que agem
E não a luz Que é o que nos une
Já que é só ela Que de você vejo.

A visão foi, como sempre, meu fim.
Eu paralisado, sem respirar.

Tive de desviar do meu
caminho, Passei a andar sobre a
grama, Dei a volta naquela
árvore Pra não ter que falar com
você.
Claro que fui falar com
você, Mas às vezes é preciso
desviar Para fingir que não é
preciso Se submeter àquela
voz Que diz que a minha
vida Não existe de
verdade Sem eu te ter
comigo.

E é claro que fui falar com você;
Eu apaixonado a te respirar.

Você não me viu
Eu te falei oi
Você me abraçou
Eu deixei
Tudo continuou
Tudo estava normal
Ninguém reclamou

E eu acho que morri naquela hora,
Ali, com você bem na minha frente.

Não sei se me alegro ou entristeço
com seus abraços.
Passo o dia e a noite sonhando
com seus abraços.
Colado ao seu corpo me embebedo
com seus abraços.
Sabendo que te verei eu conto
com seus abraços.
Sempre tristes e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre mortos e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre longes e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre gelos e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre poucos e quentes aqueles
seus abraços.
Sempre secos e quentes aqueles

Seus abraços, e eu aqui tão úmido.
Transbordo sobre mim mesmo-sozinho.

Dialoguinho eu x você:
— Sim. Quando?
— Sim?
— Sim.
— Tá, sim...
— Sim.
— E se não?
— Sim.
— Não?
— Sim.
— Mas...
— Sim.
— Sim.

E no final meu sim prevaleceu.
Mas eu queria que fosse o seu sim.

Agora acho que estou almoçando.
Você conversa com minha paixão
— Outra paixão que não você.
Você conversa com essa paixão
— Só intelectual, não como você —
Com a facilidade que eu não tenho
Pra falar com você (que fala, sim,
Comigo com tal naturalidade).
Não sei dizer sobre o que vocês falam
Mas gosto de assistir seu rosto assim,
Com movimento, rindo, com seus músculos,
Não como na foto sua que tenho.

Seu corpo se move muscularmente
E eu te adoro mais e mais e mais.

Agora você vai... embora
Te digo, triste... tchau
Você me dá um... abraço
E eu sinto os seus... movimentos
E eu sinto os seus... músculos
E eu sinto os seus... tecidos
E eu sinto os seus... calores
Mas não posso sentir seus... sentimentos
... e sensações
E, sem que você saiba,
Eu assisto a você indo embora,
E eu assisto a você indo embora,
E eu assisto a você indo embora...

07/11/05

P.S.: Pouco depois de escrever esse poema, vi você. (É claro, me desconcertei, sofri, quis chorar, não consegui mais prestar atenção em nada, quis morrer ou desaparecer, voltar a ser só um aglomerado de átomos, mas não é isso que importa agora.) Vi você chegar e se colocar próximo às pessoas com quem eu estava. Mas elas pareceram não te ver, as que te conheciam e as que não te conheciam. Você nem devia estar ali, não fazia nenhum sentido. Você ia e voltava e aparecia do puro ar. E eu vi, vi mesmo, e eu realmente espero que não tenha sido uma alucinação – eu não estou pronto para enlouquecer.

P.P.S.: Eu não coloquei no poema desta vez porque não era a intenção, mas sempre é bom repetir: eu não sei fazer poemas.

1 Comentários:

Blogger yuribt disse...

Artur...

É mesmo muito difícil a gente chorar quando quer realmente querer chorar.

8/11/05 17:34  

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