6.8.04

Ensaio sobre a Normalidade

O pato saiu da ratoeira. Escrevamos isso bem grande, notícia manchete de jornal, outdoore-se, grite-se (sim, gritar, lembram, Cazuza, Florbela Espanca, palavrão?).

Manifesto do Partido Anormal.
Disse a Paulinha uma vez que escrever manifestos dá errado. Que só o que vem fluidamente, sem forçar a barra, encontra algum espaço na concorrida efetividade. O anormal é ser normal e vice-versa ao contrário Fausto Doente.

Normal. l - Norma. Regral. Leial, leal. Fiel. Fidelidade. Mundo cão, vida cã, cãs - cãs. Branquidão. Mundo cão, Marina, não responda. Não pense. Mundo cãs. Normal. Branquidão. Branquial. Braquial. Peixes. Escamas, mar. Wish I could be part of that world. Lagostas cantando. Anti-natural. Statu quo, contra a essência, contra o ser, a natureza. Contra a natureza não é o que se diz normal ou vice-versa. Uma figueira não levanta a saia e sai andando. Bullshit. Você que nunca viu. Sai, se sai. Marina sabe.

Uma figueira - até onde sabemos - é um ser-em-si. Nós não. Aceitar nossa natureza sem qualquer questionamento. Isso é ser normal. É abrir mão de nossa liberdade - e não liberdade pela liberdade, mas pela humanidade que é a única coisa que importa em todo esse mundo. Felicidade não importa. Queremos, claro, eu também quero. Quero muito. Mas não é importante. Importância só existe na humanidade livre. Acho. É, acho.

Muita gente afirma a própria anormalidade, não ser normal (coisas diferentes), etc. O anormal é ser normal é ser anormal é ser. Um poema é um poema é um poema. O normal é ser anormal é ser anormal é ser paquiderme é ser violoncelo. O normal é ser longitudinal é ser O Visconde Partido ao Meio é ser estou confuso com o blogger.

Whatever, né?

Pontuação, língua portuguesa, gramática, normas. Não são inúteis. Vejamos qualquer grande escritor modernista, pós-modernista, comunista, niilista, macarthista. Não são inúteis. Eles não desobedecem as normas. Não é anorma, não é antinorma ou desnorma, é metanorma isso, isso. Isso.
Isso.

Isso.

Eu não sou anormal. Sou metanormal. Para tal, sou normal antes. Antes, atenção ao tempo e espaço. Metanormal está para a norma como a Metafísica está para o físico.

Um abraço, desligue o telefone. 'Desligue', não, 'desliga', você está narrando. Narrativa épica. Brecht.

Estou fazendo um post errado.


Poxa. Sou normal. Descoberta profunda e filosófica para uma sexta-feira noturna. Admita, você também quer ser normal. Normal, ser-em-si, físico. Metanormal, ser-para-si, metafísico. Amar é ser normal. Ser normal é ser em-si. Ser em-si é perder a liberdade sem ganhar a opressão. Perder a liberdade sem ganhar a opressão... é amar. Não é a toa que dizem "não escolhi amar tal pessoa". Não é a toa que nos machucamos por amor. Amos. Amós.

Nazista!
Fascista!
Stalinista!
Comunista!
Totalitarista!
Veado!

Ismo. Tendência a. Caminho a.
Esmo. Sem rumo. Sem caminho.
Ermo. Não-lugar. Não-caminho.
Elmo. Defesa. Des-caminho.

Espelho, espeto.

Me chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam o país inteiro num puteiro, porque assim se ganha mais dinheiro.

Estar sem óculos é bom. Muito. Não ver. Cortázar.

"História Verídica
Um senhor deixa cair ao chão os óculos, que fazem um barulho terrível ao bater nos ladrilhos. O senhor se abaixa aflitíssimo porque as lentes dos óculos custam muito caro, mas descobre assombrado que por milagre elas não se quebraram.
Agora, esse senhor sente-se profundamente grato, e compreende que o acontecimento vale por uma advertência amigável, de maneira que se dirige a uma ótica e compra logo um estojo de couro acolchoado, com proteção dupla, como precaução. Uma hora depois deixa cair o estojo e ao abaixar-se sem maior preocupação verifica que os óculos viraram farelo. Esse senhor leva tempo para compreender que os desígnios da Providência são insondáveis e que na realidade o milagre aconteceu agora."

História verídica. Conto de Julio Cortázar, na coletânia Histórias de Cronópios e de Famas. Parfait. Suflê.

Isso é o que eu digo, se fôr. Nonada. Travessia. 8 deitado.

8 deitado me lembra antiecologicidade!

Ensaio sobre a Normalidade. Sigamos o padrão saramaguiano. Inventemos brevemente, pois não temos tempo nessa nossa agitada rotina capitalista para ler romances ou ensaios, muito menos ambos ao mesmo tempo.
Um dia, naquele mesmo país da cegueira e da lucidez antitésicas, todos acordaram normais. Não fez nenhuma diferença, porque os estranhos eram normais. Metanormais. Fim. Genial, prêmio nobel. "Todo mundo ganha o prêmio nobel". Não vejo você ganhando.

Agora Ensaio sobre a Torta de Limão.

De limão rosa.

Massa crocante.

Suspiro.

Suspiro,
com um sentido diferente.

Com cheiro de leite condensado.

In a Vanilla Sky.

Pôr-do-Sol, num mundo só pra mim.

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