25.7.04

Alguma coisa desse naipe:

"Eu tive uma vida antes disso."

Não te parece estranho que eu tenha tido uma vida antes disso? Que, antes isddo começar, outras milhares de coisas começaram? Estas não são as minhas primeiras palavras... Tenho pilhas, pilhas e montes de palavas escritas, de cadernos, fichários, blocos de notas, arquivos do NotePad e do Word. Néanmoins, mes enfants, não consigo lê-los! Palavras, palavras e mais palavras vazias cheias de significados, milhares de mensagens de ICQ, gigabytes de e-mails guardados, neverending bookmarks e favoritos. Agendas com escritos e diários com significantes cujo significado eu mesma desconheço! Tato, tato, tao. Sei de coeur a maior parte dos meus poemas, de tanto que os li e reli tentando buscar em mim mesma uma significância qualquer. "Quero que saibas, senhora, que ainda hei de escrever as mais terríveis histórias para que as possas ler." Idalina, despezei-a mas fui uma das poucas que veramente gostou dela... "Como pode alguém entender a minha dor? Essa do que me tortura é uma rosa-negra em flor." Un. Indeed. Milhares de palavas de sofrimento. Leio-as e releio-as em minha mente.

Tudo isso, passado.

Sem importância nenhuma. Não consigo compreender esse sentimento de vazio ao olhar para o passado: repulsa.

Me incomoda pensar no passado. Andando ao teu lado, me vejo divagando sobre estas águas que não voltam mais. Tentando arrumar um algo qualquer para falar, só posso me lembrar dos amigos que perdi, dos primos que não vejo há tempos, dos melhores amigos, irmãos escolhidos e amados como as estrelas de uma mesma constelação, que se tornaram apenas amigos, e dos amigos de amigos que nunca foram sequer amigos de verdade...

As cenas que me vêm à mente, de lutas de espadas, jogos de futebol, basquete, handball, Imagem&Ação, baralho, video-game, de arrumações da casa, faxina, férias em Ubatuba, passeios de bicicleta, tiração de gesso do braço, brigas e mais brigas e mais brigas, cabulagens de DELF para ir na Ação, ratas e mais ratas, históias em quadrinhos, filmes, livros, baladas, baladinhas de sexta-feira na Kiki, "levar cerveja", cheiro de maconha, folhas de plátano, montinho, ombrofight, footfight, "do not talk about fight club", magnum, ser mosca... São... são apenas lembranças plenas vazias de significado. Elas são apenas uma indicação do meu passado. Meu passado. Um arauto da morte. E mesmo isso é uma lembrança dos arautos de Murphy — apenas um amontoado de significâncias que para qualquer outro são apenas significantes sem significado. Para mim, porém, são os rabiscos que adornam a moldura de um quadro.

É isso que meu passado é: um quadro.
Todos aqueles fatos, não encaráveis como coisas, servem apenas para compor um quadro já formado. Já formado. Não te dói saber que esse quadro está formado? Assim é minha vida: ela passou inteira, até isso, em formação, mas agora, é difícil para mim dizer que ainda faltam algumas pinceladas nesse quadro.

Mas faltam.
Sei que tudo o que eu fiz não foi em vão: toda aquela dor, todas aquelas bobagens, as noites cheias de crianças bêbadas de sono e coca-cola, trocando macarrão por pizza, brincando de pique-alto, rouba-monte, rapa-manilha, contando piadas, confundindo satélites e estrelas, caçando vagalumes e ovos de Páscoa. Mas, no final, nada disso importa. É apenas um plano de fundo: todas as manias de Monk que desenvolvi com o passar dos anos, todos os valores, todos os referentes! É preciso tempo para se criar referentes! Tempo, quero dizer anos. Como posso aguentar te conhecer como se te conhecesse há anos, quando, no fundo, te conheço de verdade há, o quê? cinco meses? O resto, o resto todo é apenas resto, escória. História. E, entretanto, começo a criar um passado contigo também. Um dia, poderemos olhar para trás e achar tudo extremamente engraçado.

Eu queria ser capaz de conhecer todo mundo como conheci meus velhos amigos, há oito e meio, quatro e meio, três, dois, um ano. Mas não posso. Algo mudou. Algo torna esse último ano completamente diferente. E não sou apenas eu.
Não te parece estranho pensar que eu vivi a minha vida antes disso?
Eu preferia a sensação de estar vivendo aquilo, por pior que fosse, à de lembrar, sem emoção nenhuma. Um, dois, três, quatro, oito, quinze anos. Tudo passou tão devagar.
Na verdade, eu até compreendo. O começo do ano parece parte do meu passado. Viagens à Cajaíba remontam a doze ou treze anos de família. Os primeiros olhares, as primeiras conversas, as primeiras festas. As primeiras baladas com músicas antigas e novas, as danças de velhos amigos mais velhos. As bobagens com vinhos e pingas, pizza, pinto na bosta, Máfia... Parece que eu conheço Máfia há tanto tempo! Um lapso: parte disso parece recente, parte parece tão antigo.

O passado é um lapso, um lapso. Catso, não sei o que pensar, seus patsos. Parte disso parece ainda estar vivo, num último sopro ou respiro. Peixe.

Patsos não comem queijo. Com certeza não comem a melhor parte do queijo, que é a casca. Não podem comer o queijo parmesão que é o melhor queijo. Saí dessa maldita ratoeira; vamos ouvir músicas desconexas debaixo de uma mangeira, comendo creamcracker com maionese de atum enquanto o veileiro balança, balança...

A verdade é que tudo parece distante quando estou contigo, que nunca foste parte integrante de nada disso. Capicce?

O penguím está na torradeira, vai virar torrada.

Interprete como quiser.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home