31.7.04

Sob uma ponte sobre o Tietê, um andarilho varria a sua casa.

Na Tailândia, morreu nenê e a gente chora vendo a mamãe sofrer.
O Brasil e o Japão fizeram um acordo para a despoluição do rio tietê.
Estão enchendo-o de concreto.
CONCRETO! Muito concreto sempre.
É tudo rígido, feio, cinza, concreto, concreto.
§ Feio! §
£ Bonito! £
Feio feio feiô
Boni'boni'bonitô
Disseram-me que eu não tenho nexo
Disseram-me que eu não pontuo as coisas
Disseram-me que eu dou medo
Disseram-me que eu sou eus
Troque os eu por yuri
Não sou Yuri.
Sou um pato
e estou na ratoeira.
Mas sou também Yuri.
Por que é tudo duro
?
Se eu cair no chão, vou machucar o nariz. A testa. A boca. O queixo.
Sangue.
Sangue vai se misturar com concreto e ninguém quererá bebê-lo.
Será apenas sangue. {Ler a última frase das seguintes formas: a- anúncio de atração na Tv, não percam. j- gemido num ato sexual ç- último sopro de vida w- um cientista louco pensando alto suas idéias malignas x- uma moça, ao seu amor, num tom esperançoso como uma fuga h- ópera u- ansioso g- enojado v- indiferente l- preocupado q- como bem quiser}
E em pouco tempo o sangue sumirá, transformar-se-á.
Oconcretobemquepoderiatambémmemachucarmaisseriamente. Eu morreria. Morreu na contramão atrapalhando o sábado. Teríam nojo de mim. /edoconcreto/
Pouco a pouco meu corpo decomporia-se sem que tocassem em mim.
Um grande fluxo de de meus restos.
pessoas desviarse-íam
Eu federia. Eu fedo.
O rio Tietê fede.
O mundo fede.
Você fede.
Fedido fedelho fedegoso fedegosma
Gosma!
Uma das primeiras etapas da decomposição de corpos após sua morte é a gosmificação dos olhos.
_Mas os olhos já são gosmas_
Meus olhos são imperfeitos.
O concreto é imperfeito.
vocênemsabeoqueéperfeiçãoseuyuri
Talvez aquele homem sob aquela ponte sobre aquele rio varesse meus restos e limpasse a poça de gosma ocular e sangue. Ou simplismente saísse dali para um lugar que não fedesse mais que o fedor ao qual ele já se acostumara.
Quanto esperma para se fazer um filho.
Quanto suor paro o essencial.
Quanto milho pra fazer uma só broa.
Quanta água para que se tenha sal.

Uma máquina gigantesca =ouminúscula= transportava terra, fezes, esperma, suor, milho, broas, filhos, corpos, gosmas, sangue.
O Rei pode sim andar a Cavalo.
Cavalos trotam. Não andam em éle. pocotopocotopocotopocotopocotopocoto
E daí que eu não pontuo da forma padronizada. Eu a conheço. Conhecendo-a, sinto-me no direito de abolí-la. Padrões são monótonos ° mono= um, único ; tono= tom, nota musical, som invariável quanto à altura.°
e
limitantes. Abolindo-os, as possibilidades são ilimitadas. Todomundogostariadefazerumacoisaquenãosabefazer. Masaspessoasquesabemfazeraquiloqueagentenãosabefazertambém nãosabemfazeraquiloqueagentefaz. Eutôfalandorápidoassimporqueeuquero, porra!
Vem cá meu bem! Vem cá meu bem!
Por que não se pode amar?
Por que não se pode amar?
O amor é proibido, dificultado, monstrificado, temido, complexado, escondido, arruinado.
Mas
O amor é necessário, natural, possível, ilimitado, simples, beneficamente incompreensível.
Ora, d e i xe m - me amar!
Correr
Correr correr correr correr correr corrercorrercorrercorrermorrercorrermorrermorrermorrermorrercorrer
gritoooooooooooooooo
As taças de vidro trincaram.
Os ossos meus trincaram com o maldito concreto. Bati o nariz, a testa, o queixo, fiz a poça de sangue e trinquei o crânio. Mais gosma. Atravessa o crânio, as dermes todas, as coisas todas. E escorre também. CINZA como o concreto.
CINZA
?
Cinza? Não sei. Nunca vi. Já vi. Não como o concreto.
O concreto é incomparável. É o cinza da insignificância. A morte não. A morte é branca, branquíssima! ou vermelha. É o cinza da informidade.
Prefiro o azul que passa pela atmosfera; ou o verde da Amazônia, ou a negritude da noite; ou o amarelo dos pintos das galinhas. Ou o branco dos dentes não brancos. Ou o roxo da terra vermelha.
Mas o concreto é cinza.

O queijo suiço flutua no céu.

1 Comentários:

Blogger Ozzer Seimsisk disse...

Há vários erros conjunturais nesse texto, mas, acho que, de modo geral, é admirável.. ... .

5/8/04 19:02  

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