6.1.06

Poema inútil de título tautológico
ou
Vida inútil de título enganoso

1.

É a luta mais vã
A cada manhã:
Lutar com palavras,
Lutar com afã;

Do modo que for,
Lutar, afinal,
Da luta do autor
À do agressor,
Lutar, como for,
Lutar, como for.

Lutar, por que não?,
Lutar pelo amor,
Igualmente vão:
Lutamos, então,
Com dores na mão,
Com tola paixão,
Em cega prisão,
Em prostituição,
Em só solidão,
O eterno refrão
Da masturbação.

Lutamos sem crer
Naquilo que é óbvio:
Que vamos morrer
Sem nunca colher
Sem nunca colher
Sem nunca colher.

Assim, lutaremos,
Ainda e pra sempre,
Em vão lutaremos
À sós lutaremos
Enfim lutaremos
Vivos lutaremos
Sem nunca viver.


2.

O que pode fazer o poeta
Ao saber que a verdade mais certa
É sua impotência e hipocrisia?
O poeta que faz poesia
Denunciando que é hipocrisia
Fazer o que faz e lutar?
Aquele que escreve uns versos maus
Que ele próprio confirma, afinal,
Serem inúteis serem estéreis?
Que pode o hipócrita fazer quando
Descobriu que todo seu encanto
É justamente a falsidade?
Quando, elogiando toda inação,
Porque sempre lhe respondem não,
Está lutando, como for.

3.

É vã a luta por ti.
Igualmente vã a dor.
É vão, assim, meu amor.
E é vão, tão vão, se te vi.

Inútil estar aqui.
Inútil gritar por algo.
É vão implorar por algo.
E é vão, tão vão, se te vi.

A dor é vã igualmente.
Não há verso que acalente.
Nada de útil já li.
E é vão, tão vão, se te vi.

Gritar por algo é sem uso.
O esforço por ti obtuso.
Algo Absoluto se ri.
E é vão, tão vão, se te vi.

4.

Mas sei que, tão vão, te vi.
Sei que, só isso: te vi.
Que envergonhado te vi.
Dane-se o resto: te vi.

De um jeito que nunca te havia visto antes.

05/01/06

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