25.3.05

"Who wants to live forever?"

Vamos, falem. Falem mais uma vez. Façam-se ouvir. O que quiserem. E eu vou me calar.
Droga. Correndo nestas veias. A carne é fraca, tremendo que nem vara verde. Verde. A garganta queimando. O pulmão parece que vai implodir. As veias e artérias pulsando, pulsando, pulsando. Os olhos vermelhos, o sangue aflorando depressa, depressa! A carne finjindo que vai sangrar, os tendões expostos. A dor.

Por que estou escrevendo isso? As rodas giram muito devagar... As contas em meus pulsos. Resmungo entristecida. Aquilo não era mesmo um lixo. Talvez eu até tivesse voltado atrás. No fundo, não importa. Somos todos idiotas, mas não importa. Os homens brigando, mamãe, eu vi! Tinham sangue nos olhos, e rosnavam que nem feras. Se fossem morrer, urrariam sem dizer palavra. Palavra, mãe! Gritos surdos, Pedrinho caindo na água, seu pulmão pequeno buscando ar em desespero, os braços procurando terra, até que. A baiana na Baía de Guanabara até achou que ele estava vivo. E o pai pensou tanto, que o matiz natural da decisão se transformou no doentio pálido do pensamento. Eu, internamente, chorei pela morte do menino. Ser ou não ser, Marília? Será mais nobre sofrer na alma estas pedras, funcionárias, sem amor? E os arquivos, Carlos? As caixas de papéis violados, feridas suas carnes brancas com facadas de tinta preta?! Que cortejo é este, meu Deus, que avança com sanfonas de morte e dança pela estrada, seguindo o trem que passa como um discurso irreparável? Foram as histórias, já, todas contadas? E a minha história, Carlos? Como tirar a flor? Será mais nobre se armar contra um oceano de dificuldades, para em combate dar-lhe fim? E que fim? O que nos acontece, que tem a ver conosco?! Somos apenas marionetes, dançando ao som da música de nossos destinos? Somos filhos de Deus? Somos loucos raivosos, perdido o sentido da vida? E tudo isso pra quê?

Calo-me num assustador silêncio de arrepios. O mundo ruidoso não me responde, será? e se cala aguçando minha loucura até o limite da razão. Me calo, desorientada. Até quando vamos sepultar o amor...

Quem quer viver para sempre?

O mundo respira, o tempo desfaz-se em névoas? Não se preocupe, um dia você saberá o que sentiu no momento de seu nascimento. Não se abrigue, a chuva cai para molhar. A chuva, a chuva a mesma história de sempre. As gotas caindo qual sangue na terra, brilhantes e transparente. Um Gavião voando lá no alto nos observa, protetor. O Lince murmura que "Sora wa himitsu desu" e silencia-se novamente, a esfinge. Os sonhos fecham suas portas. O sol oculta-se sem querer, o dia finje que renasce. O tempo se desanuvia. Tudo sorre, tudo esmoresce. E cai, sorrindo, desaparecendo. A alegria desperta de repente. Quem quer abraçar a vida?

O para sempre era um para sempre meio relativo. É mesmo. Sempre.

Seus olhos castanhos me olhando meio provocadores. Quem é você?

O Urso pergunta mais uma vez. Urso, me ensina o teu Silêncio! Eu acho. Encontro. Sofro. E rio na delícia da minha solidão. Que não é solidão. Não é. Rio, que eu queria, mas não ela se. Se. Ouçam desta vez. Eu quero viver para sempre...





"The universe is shouting."

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