6.2.05

...Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc

Porra, dez minutos sozinho e já volta tudo?

Sim, o que eu esperava era verdade: com o fim do ócio e a conseqüente diminuição do tempo disponível para se pensar, parecemos sofrer menos. Na verdade é só a consciência de nossa dor que em realidade diminui, mas isso já basta para – pelos cinco dias úteis – tirar um pouco do peso de meus pulmões e do sangue de minha boca.
Mas com dez minutos sozinho já volta tudo. Você foi pra escola, ficou lá depois conversando, correndo, pulando, dançando tango, empurrando meninas indefesas para a morte certa. Depois você foi na casa de seu amigo, assistiu um filme, conversou, leu, levou sua amiga até a casa dela, voltou pra casa, falou com sua mãe, tomou banho, ligou pra outra amiga, checou e-mails, mandou um e-mail desejando feliz aniversário para um amigo que você não vê há muito tempo. Ainda foi jantar com a família, ficou lendo revista, leu livros, foi buscar livros na casa de seu pai. Ah, Mrs. Dalloway! Always giving parties to cover the silence! Finalmente, voltou pra casa para ser recebido pelos dez minutos que te fazem lembrar da realidade.

[Que realidade? De respostas para essa pergunta essa ratoeira já está cheia. Nota do Editor. Que tem bigodes.]

E esses minutos voltam como um rio selvagem que quebra a Itaipu e água-se pra todos os lados possíveis e imagináveis: afinal, durante a eventiva semana, novos aspectos da realidade passaram a fazer parte do meu eu, novos conhecimentos novas memórias novas vontades novas perspectivas. Tudo isso vai aumentando de número, só diminui o tempo que vai acabando que um dia eu vou morrer e tudo isso se foi – se eu não aproveitar bem, tudo isso se foi que um dia eu vou morrer o tempo que vai acabando só diminui.
Lá no Canadá, minha mãe comprava quando ia ao (e não “no”, já que o corretor do Word me proíbe de cometer erros ortográficos ou gramáticos, que sujeito boniiiiiiito) supermercado um pote de 500mL de iogurte de blueberry com pedaços da fruta. Aí, quando eu estava meio tristonho, eu pegava uma colherinha e ia comer o iogurte direto do pote, enfiado em algum canto da casinha. Ô, que até melhorava, até, sabia? Um canto gostoso era a janela do meu quarto-sótão, a que dava para a rua. Era meu lugar. Lá era o Canadá, até, sabia? Eu olhava para a rua em frente, para a outra rua em frente, a afluente da primeira, a primeira era a minha rua, a segunda não. E tinha as pessoas, os pássaros, as árvores que iam mudando ao longo do ano, o chão com sal no inverno, a Mountain, o templo, o seveneleven, as casas vizinhas, os jardins das casas vizinhas, o telhadinho, o frio, as linhas eléctricas (na verdade eu não lembro de linhas eléctricas. Tinha?), os carros, uma janela tão pequenina, se eu pudesse eu ia pro telhado mas a janela era pequenina que nem a Alicê.

Quando eu morrer não me chores,
Deixo a vida sem sodade;
– Mandu sarará,

Tive por pai o desterro,
Por mãe a infelicidade,
– Mandu sarará,

Papai chegou e me disse:
– Não hás de ter um amor!
– Mandu sarará,

Mamãe veio e me botou
Um colar feito de dor,
– Mandu sarará,

Que o tatu prepare a cova
Dos seus dentes desdentados
– Mandu sarará,

Para o mais desinfeliz
De todos os desgraçados,
– Mandu sarará...

[Nota do Editor Que Tem Bigodes: eu sou um gato sorridente. Sumo e re-sumo. Ressumo e resumo. Rezumo zumo zumas maisumas. Mais umas vezes sumo e re-sumo. Sobra só o meu sorriso pontudo. Sempre sobra o meu sorriso pontudo, que sempre sobre! o meu sorriso pontudo. Pontu! Tù! Un, Deux, Trãããã. Sempre sobra ele, pois sim, rezumo zumo, e a Alicê fica oiando pra ele com cara de riacho maduro. Mas, claro, ele dissobra, e daí Alicê, pretinha bonita e piquinininha qui só ela, fica sozinha na floresta crepitante! Daí ela se esconde no carro do luque, e eu já desapareci sorrisamente, mas tó lâ olhando ela querendo querendo voltar! Oh, iaiá! Desapareci, bigode e tudo.]

Ah, mas que dá raiva.
Hipocrisia daqueles brilhantões caretas que alardeiam seu politicamente-corretismo, que defendem eloqüentemente a tolerância a diferença a aceitação o não-preconceito, mas na verdade acham que tal diferença nunca vai acontecer, né não?

--Não quero saber da eloqüência que não é libertação!!

Quero antes o alarde dos clowns de Shakespeare, que não falavam nada com nada, porra nenhuma de importante, que falavam e falavam with the hey, ho, the wind and the rain – mas, pelo menos, a foolish thing was but a toy: for the rain, it raineth everyday. Que eles não diziam nada, mas nisso eram sinceros. Ah, que os bêbados e os suicidas que se matam sem explicação!

-- Não quero saber da bunda que não é libertação!!

Então, hipocrisia. Eu ia dizen-falando.
Tem que mandar tomar no cú e pronto. E não – isso não é mais uma onda de palavrões que nem naquele postão de julho passado, não não. Isso é a mais pura verdade. Tem que mandar tomar no cú. Palavrão é preconceito lingüístico. É muito nojento mesmo, tem que ir se ferrar e pronto.

E usam de esquemas, pontes, túneis, passagens secretas, atalhos sujos e escusos. São eles, afinal, demasiadamente polidos, são politicamente corretos e publicamente bonzinhos. É o bem contra o mal, e você de que lado está?

Eu estou do lado de quem tem um mínimo de inteligência.
E estou do lado de quem tem um mínimo de humanidade.

--Não quero saber do academicismo, que não é libertação!!

E são os hipócritas justamente aqueles que você achava que gostava. E que você achava que eram direitos. Mas, agora, no fim de todas as coisas do mundo que vai minguando nesse terceiro milênio, eles são – apenas apenas – aqueles que tem, por mais um ano, poder sobre a minha vida.

E daí você não quer pensar mais, dez minutos foram o suficiente. E você liga a tv, só para assistir the awful truth – e é EUA pra cá, e hipocrisia puritana pra lá, e God Hates Fags pra acolá.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

O que me lembra, estou com tuberculose. Posso ser poeta. Ou fingir que sou e morrer tão jovem que eu realmente não tenho que fazer poesia alguma. Pode até dar dinheiro. É só falar contra o capitalismo.
Meu sistema respiratório está podre. Como que iam pousar moscas nele. E cof cof, que o som de verdade é mórbido demais para se inserir numa onomatopéia.

-- Não quero saber da morte que não é libertação!!

ASSIM eu quereria meu último post nesse blog: que fosse terno, dizendo as coisas mais simples e menos intencionais.
Menos intencionais, até porque eu teria caído morto sobre o teclado, e tudo o que apareceria na sua tela ia s

´qwe~fi 2WE

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