20.1.05

Alô, Amigos!


Nossa! Há quanto tempo não passo por aqui! Não mudaram nenhum quadro de lugar, nenhuma palavra ficou sem assento? Nesse caso, quero cumprimentá-los. Por sua paciência para comigo, no mínimo. Vou tentar recompensá-la com uma dose extra de paciência para com este maldito teclado. E vou tentar não pôr preposições no final das frases. Por isso, finjam por favor acreditar que eu estou de bom humor. Muitíssimo bom humor. O céu está azul e os passarinhos estão cantando em algum lugar
Pirirlirilim pirilirilim pirilirilim
através da chuva e do vento de verão. Finjam que está ventando agradavelmente e as ruas estão tranqüilas como numa manhã de domingo, e no ar se espalha aquele cheiro de chuva límpido e revigorante.

Sejam legais comigo e finjam acreditar também que eu estou felicíssima por voltar para casa depois de quase um mês viajando e que estou morrendo de saudades de vocês. Finjam que minhas férias ficavam mais alegres quando eu pensava que ia voltar a encontrá-los, e que fiz o possível para passar a última semana em Sampa, mas terei que ir viajar e esperarei desesperadamente o começo do ano letivo, quando verei vários de meus amigos pessoalmente. Finjam que eu não paro de pensar em vocês um segundo, imaginando que poderíamos estar juntos em algum lugar, rindo e tendo conversas longas, e depois indo ao cinema e assistindo um filme de que, certamente, todos nós fingiríamos que gostamos muito. Finjam acreditar que já estou cheia de planos para 2005, e que na primeira semana de aula farei ma grande festa para comemorar o reencontro. Finjam que haverá reencontro. Finjam que trocaremos presentinhos de viagem e que conversaremos exaustivamente sobre nossos novos professores. Finjam que por uma semana inteira não pararemos de falar sobre a escola, e sobre como as lições de casa podiam não chegar nunca e como os professores seriam legais e sobre o carnaval que vai chegar logo. Finjam que iremos viajar todos juntos ou que vamos pular carnaval...

Não sei porque.
O telefone tocou e minhas mãos vazias correram para atendê-lo, mas minhas pernas mal se moveram, desinteressadas. Quero fingir que está tudo certo, porque não tenho dentro além de uma ânsia por algum veneno anti-monotonia. Mas, por enquanto, finge que eu não disse nada disso. Finge que estamos lépidos e felizes, e não atordoados e nauseados e com vontade de chorar, ou de dormir. Morrer, dormir, só isso? Sim, só isso. Quem sabe se além da morte haverá algum campo elíseo, algum rio de águas tão puras que nos façam esquecer. Quem sabe se voltaremos para de onde viemos. Quem sabe? A vida, a vida está sempre ali, começando e terminando e nem uma coisa nem outra. Acho que sim. Afasta estes pensamentos da tua mente infantil e finge – mas apenas finge, não ousa transformar isso em realidade! – que eu não estou falando sobre a morte. Finge que está tudo bem, são só estes meus ombros cansados, e os teus também. O mundo é pesado, e tu, felizmente, não é uma daquelas pobres-criaturas abençoadas com a imbecilidade. Estou apenas de passagem e parei para te ver olhar o mundo com estes olhos tão tristes. Grita! E cala repetidas vezes.

“A maioria da gente
porque é estúpida
continua achando que ama porque se acostumou à sensação de estar a amar”

Ou algo semelhante.
Você acredita em amor à primeira vista, Ophelinha?
Achei que não...

A gente tem medo de acreditar no amor. Parece utópico demais,nunca aconteceria com um de nós. Mas, para ser sincero, a gente acredita de menos. Ainda mais em dias cinzentos como este. Nestes dias, a gente finge que acredita. A gente finge que o céu está azul, que os pássaros estão cantando... A gente deseja boa sorte e finge que vai dar tudo certo, para fingir – numa tentativa desesperada de afastar o medo – que a gente não acredita que o mundo vai acabar.

A andorinha voou voou
fezum ninho na minha mão
e um buraco bem no meu coração...

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home