31.12.04

Estou aqui sozinho. Vocês estão viajando. Todos os outros também. E se não estão, estão longe de qualquer jeito.
Sabe, parece que o dia 31 de dezembro foi feito para que eu pudesse odiá-lo.
Ah, sinto tantas saudades! Vocês vão me achar sem coração, mas isso me surpreende. Não sabia que podia sentir saudades de alguém. A última vez que senti saudades faz tanto tempo! Anos!
Revi hoje o que havia escrito no dia primeiro de janeiro deste ano que agora acaba. Tudo merda. A mesma merda que escrevo aqui hoje. Oh, well.
Saudades, já há alguns dias. Passo minhas noites sozinho em meu quarto, e para me distrair da minha total solidão eu faço coisas: escrevo no bloquinho2 (está quase acabando....), arrumo meu armário, minhas gavetas...
Pois é, não vou fazer uma emocionada retrospectiva de doismilequatro. Para lembrar das coisas boas, teria que lembrar das ruins, que superam em muito as outras. E quero por um tempinho pelo menos - afinal, é ano novo!... - esquecer da total ausência de sentido de tudo isso. De como tudo é em vão...
doismilecinco, não é? Virá: aprofundamentos, vestibular, formatura... medo, puta merda que medo.
Parece que a única parte de mim que se desenvolve é minha capacidade de sentir medo. Medo da morte, medo da vida, medo da mudança, medo da constância, medo dos pontos cardeais, medo da Flôr, medo das pessoas que mais gosto. Medo de vocês (2).
Amanhã, esse blog faz 6 meses. Esse, sim, foi um fator precioso em 2004. Para extravasar, desabafar, gritar, uivar, latir. E às vezes intensificar o que precisa ser extravasado desabafado gritado uivado latido. 6 meses da ratoeira azul rotatória. Le monde, Il est bleu! Il est rouge; et Il est noir.
Quem sabe você¹ estará mergulhando no mar à meia noite. Quem sabe você² estará mergulhando na piscina. Acompanho-vos, mergulho no nada, mergulho para fora da janela, mergulho em minha dor e em meu vazio, mergulho em meus desejos reprimidos, mergulho na própria repressão, na opressão. Mergulho no medo. Mergulho na incerteza e na cruel certeza, mergulho numa vida morta, mergulho no não-ser, mergulho no sofrer na alma pedras e setas de um destino ultrajante!, mergulho na escuridão do palco (desaparecendo, sumindo como quem morre), mergulho no dilúvio (vocês, que dele emergirão, pensem - quando falarem de nossas fraquezas - também nos tempos negros de que escaparam. Ah, e nós!, que queriamos fecundar o chão para o amor, não pudemos nós mesmos nos amar. Mas vocês, quando chegar o momento do homem ser parceiro do homem, pensem em nós com simpatia), mergulho numa tsunami mortal que me levará para a infinitude do fundo-do-mar (maior do que a do próprio mar). Mergulho no magma sob a litosfera, mergulho na lava de um Monte Fuji vermelho, mergulho no álcool e nas drogas, mergulho nos sonhos, mergulho nos pesadelos de uma mente perturbada, mergulho na paranóia, na esquizofrenia, na anti-socialidade, no narcisismo, na baixa auto-estima, na carência e no carinho, na agressividade, na dependência, no segredo, na máscara (nas duas, a da Classe e a do Romeu e Julieta), mergulho na obsessão, na compulsão. Mergulho no assassínio e no suicídio, em fobias e manias várias. Mergulho no útero da terra, túmulo da terra. Mergulho na injustiça e na exploração, na hipocrisia e na incapacidade de agir, no conformismo de tantos estalajadeiros e ministros. Mergulho na existência cinzenta e sem sentido, num mundo abandonado por Deus, mergulho no meu ego e num nirvana sem indivíduos.

Feliz Medo Novo.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

It is the end of all hope
To lose the child, the faith
To end all the innocence
To be someone like me
This is the birth of all hope
To have what I once had
This life unforgiven
It will end with a birth

Is just this a have to say
Happy new year...
Happy? I guess....

31/12/04 22:56  
Blogger Artur disse...

quem é essa pessoa que comentou?

31/12/04 23:47  

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