26.2.05

Eu sou infeliz.

Porque a Marina fugiu do meu beijo. (Não, a frase não é “Eu sou infeliz porque a Marina fugiu do meu beijo”. O título foi dado depois. Bem, tem um ponto lá. Ah, foda-se.)
Porque você desviou quando eu tentei tocá-la, você que é talvez a única pessoa no mundo que faça eu me sentir humano.
Porque eu tentei fazer contato e você me recusou.

Eu não estou culpando você por nada.
Eu não estou querendo que você se sinta mal.
Eu não acho que a culpa seja sua.
Eu não acho nada.

Mas cada mínimo gesto me machuca. Essa semana (semana longa essa, de 7 dias ou 17 anos?), cada mínimo gesto me machuca. Talvez eu esteja sensível demais. Talvez não, com certeza, imagine só, reclamar que ela fugiu do meu beijo.

Mas que dói, dói.

Eu não consigo escrever.

Talvez haja algum caráter simbólico nesse gesto que me incomode tanto. Talvez eu veja nele uma repetição ou um sintoma da minha psicose: eu, sujeito que se vê afastado do mundo, procuro uma possível ponte com ele, com o real, com o palpável com o chão com o concreto com o humano com a carne a pele a bochecha da Marina, uma ponte com meu mundo-mãe, e não consigo alcançá-lo, ele está imensuravelmente longe, longe, e o barqueiro já partiu, o barco estava lotado, não consegui entrar, fiquei solto no vácuo sideral (ou sidéreo, bela palavra, sinônimo da outra – é o que me diz meu computador, ele deve saber), e minha pressão interna me faz querer explodir.
O ruim é estar de olhos abertos e vê-la recusando meu toque.

Falo novamente da semana, período de tempo como qualquer outro, nada tem de mais especial, então por que falo tanto dele, deveria falar um pouco dos milênios ou dos nanosegundos (meu computador não reconhece “nanosegundos” – está bem, eu não sei se essa palavra existe – e sugere que eu escreva “nano segundos”, talvez mais interessante ainda essa possibilidade, a de fazer o tempo dormir, acalentá-lo ou hipnotizá-lo, escapar ao tempo que rói os vivos), falava antes dos parênteses dos milênios e dos nanosegundos, esses sim são tempos interessantes, o muito grande e o muito pequeno, mas não a semana, tão normal, apenas sete dias, nem muito nem pouco, quantas delas já não vivemos nós.
Falo novamente da semana porque faz uma semana que aconteceu a festa, e foi durante essa semana que o mundo foi diferente.
Como eu sou subversivo, começarei falando não do que eu comecei falando, mas do que eu falei depois, para depois passar de volta ao começo, invertendo assim todas as regras de Ética Lingüística que o homem já criou. Começo falando dessa semana.
Como se todo mundo me tratasse diferente. Me olhasse diferente.
Mas não do jeito que eu queria que fosse. Não me olhavam como se me vissem, mas como se tivessem pena de mim.
Dó. Comiseração. Piedade. Caridade. Cálice (cálice? que esquisito! pra mim, “cálice” é outra coisa, mas o dicionário de sinônimos do word ta falando que é o mesmo que pena dó comiseração piedade caridade, cálice, que seja então).
PENA DE MIM.
Como se eu fosse um filhote de urso que prendeu a perna numa armadilha. Vocês, humanos como eu não sou, sentem pena das minhas lágrimas de urso, do meu sangue de urso, do meu berro de urso, da minha tristeza de urso, da minha solidão – epa, solidão não entra aqui, eu estava falando da armadilha, solidão não encaixa na metáfora, um urso preso numa armadilha não se sente só, se sente dolorido. Vocês, humanos, sentem pena até da minha raiva de urso. Ô, dó! Chaiximxim! Fuuuuuu, não não... du, du, dúú... tuto peim, tudo peim, xá fái chalhá...
Então vocês me lêm, vocês me abraçam nos recreios, vocês me cumprimentam com beijinhos, vocês me perguntam se está tudo bem, tuto peim?, vocês olham pra mim, nunca fizeram isso antes, por que começar agora? Porque pena, porque pena!...
Daí alguém faz uma reunião para discutirmos Por Que Nosso Grupo Está Se Sentindo Tão Mal Nos Últimos Tempos, E O Que Podemos Fazer Para Remediar Isso, Se Somos Nós Mesmos Que Nos Fazemos Mal, Se Somos Nós Que Nos Fazemos Bem, Se Não Falamos Uns Com Os Outros, Se Não Nos Abrimos. Uma hipocrisia só, e não estou criticando o Luque, estou criticando o “grupo”, a gangue.

Pois bem, Que Não Nos Abrimos? Falarei agora bem direto o que está em mim:
(01) Eu sou infeliz.
(02) Eu sou infeliz há algum tempo.
(03) Eu nunca fui feliz.
(04) Eu estou cada dia pior.
(05) Eu não sei por quê.
(06) Eu tenho pistas do por quê, mas elas não me satisfazem.
(07) Eu sou solitário.
(08) Eu não sinto que amo ninguém.
(09) Não, nem mesmo meus pais.
(10) Não, nem mesmo meus amigos.
(11) Não, nem mesmo a mim.
(12) Nos últimos anos, aprendi a me odiar.
(13) Tenho também um ódio generalizado pela humanidade.
(14) Eu não tenho condições de oferecer nada a vocês.
(15) Eu penso diariamente em me matar.
(16) Não, eu não acho que eu vá me matar, pelo menos não tão cedo.
(17) Não, pensar em me matar não é rotina.
(18) O motivo pra eu ter vontade de me matar muda sempre.
(19) Não, eu não sei qual é ele hoje.
(20) Quando eu sinto que vocês têm pena de mim, eu fico com nojo.
(21) Quando eu sinto que vocês têm pena de mim, eu me odeio.
(22) Quando eu sinto que vocês têm pena de mim, eu odeio vocês.
(23) Eu sei que vocês gostam de mim.
(24) Eu sei que alguns de vocês me amam.
(25) Eu chorei na festa da Ludmilla justamente porque eu sei disso.
(26) Eu não sei por que eu não consigo amar ninguém.
(27) Eu não sei por que minha vida não dá certo.
(28) Eu tenho certeza de que Deus não existe.
(29) Afirmar que Deus existe seria afirmar que ele me odeia.
(30) A vida não tem sentido.
(31) Eu acredito em construir um sentido para a vida.
(32) Eu não tenho sentido para a minha vida.
(33) Eu ainda tenho forças para viver.
(34) Eu não sou do tipo que desiste.
(35) Eu já me conformei demais para desistir.
(36) Eu quase não tenho esperanças de uma vida melhor.
(37) Ao mesmo tempo, a esperança é tudo o que eu tenho.
(38) Não, eu não me importo se quem está lendo isso é o Yuri ou a Marina ou o Luque ou a Paula (qualquer uma delas) ou meu pai ou minha mãe ou a Katia (qualquer uma delas) ou um professor ou um colega com o qual eu não tenho intimidade ou um completo desconhecido ou um anônimo que vai comentar e me deixar curioso a respeito de sua identidade.

Mais alguma coisa que eu preciso falar?

Talvez quando eu sinto que vocês têm pena de mim eu esteja, na verdade, querendo reprimir um conflito meu: não gosto de me sentir amado sem poder amar de volta. Então, finjo que não é amor, que é apenas... “cálice”. Que é pena.

Mas eu tenho certeza que, de certa forma, é pena sim.

Foda-se.

Foda-se.

Foda-se.

Leia isso quem quiser.
Isso sou eu.
Amanhã pode não ser, mas nem por isso vou me arrepender.
É para isso, e somente para isso que serve o Pato.
Aliás, de tal forma e com tal verdade que eu afirmo ser este o único post aqui publicado que realmente merece sê-lo.
Foda-se quem acha que não.
Foda-se quem acha que eu não deveria falar dos posts do Yuri ou da Marina, mas somente dos meus.
Foda-se.

(39) Minha vida é um inferno.
(40) Minha vida é o Inferno.

(41) Não sei quem sou.
(42) Não sei o que fazer.
(43) Não acho que exista qualquer coisa que um de vocês possa fazer por mim.
(44) Não acho que exista qualquer coisa que eu possa fazer por mim.


Sabe, eu devia consultar um psicólogo. Ou um neurologista: talvez meu problema não seja mesmo a dor poética de existir, a melancolia de ser humano, a angústia de existir tal como eu existo: como Artur. Talvez seja ele apenas uma falta de cerotonina, uma descalibrada nos meus neurônios.
Uma pílula dessas branquinhas pela manhã,
Outra delas, junto com uma das azuis, pela tarde,
Mais duas azuis e uma branca à noite,
E eu serei feliz.

Ou, se quiser um efeito mais imediato, uma injeção toda manhã antes de sair de casa.

Ou, se quiser chocar, drogas ilícitas.

Ou um psicólogo. Talvez seria bom. Mas, francamente, não estou afins de.
- Como não estás afins de? Não precisas estar afins de, precisas ir e pronto. Estar ou não afins de não importa, importa sua sanidade, sua felicidade.
Foda-se, não estou afins e pronto.


(45) Cada dia é mais difícil.
(46) A cada dia tenho menos alegrias.
(47) A cada dia me satisfazem menos a literatura, o teatro, a filosofia, a arte, as amizades.
(48) A cada dia tenho de fingir mais.
(49) A cada dia sou menos.
(50) A cada dia morro um pouquinho.

“Há aqueles que se matam pulando de um prédio. Outros o fazem pouco a pouco, dia a dia, se corroendo, se degradando, se corrompendo, se dissolvendo, se decompondo, apodrecendo, descamando.” Alguém disse isso. Sei lá se isso é meu caso.

Sempre alguém diz algo. Mas ninguém jamais disse algo de útil, bom, verdadeiro. [E se você não conseguiu não ler esse parágrafo “abóbora”, você é uma pessoa verdadeiramente desprezível. Como eu, e isso é que deve assustar mais.]

(51) Não tem volta.
(52) Não tem ida.
(53) Estou cansado de existir.
(54) Estou cansado de estar parado em minha vida.
(55) Estou cansado dos elementos antigos que me lembram de que nada mudou na minha existência de merda.
(56) Estou cansado e fim.

O que eu posso fingir?
Que existência é menos inautêntica?
Com quem eu posso falar?
A quem recorrer?

Talvez as perguntas, e não as afirmações, devessem ser numeradas. Talvez sejam elas mais objetivas e verdadeiras.

Sempre há mais o que falar.
Eu poderia decorrer por quatrocentas linhas acerca da minha infelicidade.
Seriam só sinônimos, explicações repetitivas, etcs etc.
Ponto.

Pedidos:
Não desistam de mim.
Não sintam pena de mim.
Não me odeiem.
Não tentem fazer nada.
Não achem que podem fazer alguma coisa.
Façam alguma coisa.
Finjam que eu não estou sendo contraditório.
Finjam que se importam.
Mas finjam que não se importam, ou eu me sentirei mal por não me importar tanto quanto vocês.

Mas eu me importo, acreditem, de certa forma eu me importo com vocês. Admiro muito todos vocês, e gostaria de gostar de vocês, gostaria de amá-los, gostaria de saber sentir essas coisas tão bonitas de que tanta gente tanto fala, amizade palavra respeito caráter bondade alegria e amor, felicidade felicidade.

E vocês comendo sushi.
É claro que eu não fui.
Como eu poderia ir,
tendo todas essas coi-
sas dentro de mim pa-
ra serem ditas? Como
eu poderia olhar para
as caras de vocês e não
morrer mais um pou-
quinho? Chorar mais
um pouquinho? Sofrer
mais um pouquinho?

Porque a Marina me negou aquele beijo.
E eu nem queria um beijo, só um toquezinho.
Um carinho, uma certificação de que eu existo.
Dela ou de qualquer um. Dela ou de ninguém. Dela.
Eu só preciso saber que minha existência existe, sabe?
Mas eu não sei.
Eu não me entendo.
Eu não me conheço bem o suficiente.
Falta mais, falta saber, falta saber por que e o que fazer.

Talvez quando tudo isso acabar eu saiba por que eu sofro tanto e o que eu poderia ter feito.
Mas aí vai ser tarde demais, não vai? Aí não vai servir pra nada.
Quer acabe com a morte, quer com a vida.
Porque assim, entre os dois, vida e morte, não dá mais pra continuar vivendo.

E eu não sei o que vou fazer pelo resto da noite. Estou aqui no computador, são 23.15, cedo ainda para um sábado, mas eu não tenho nada pra fazer sozinho além de sofrer, então vou ver televisão ou ir dormir, porque eujuroque seeucontinuarassim sofrendoassim pensandoassim (enãoé sofrerepensar umasócoisa?) eumemato eumejogopelajanela euenfioumafacanocoração eutomotodasaspílulasquetememcasa eupulonafrentedeumcarro eudeitoesimplesmentemorro, porque na situação onde eu estou eu conseguiria me matar só com a vontade.






E não sei que poema citar.

9 Comentários:

Blogger Ozzer Seimsisk disse...

Eu provavelmente teria dito alguma coisa. Anteontem, ontem, ou mesmo hoje. Mas sem olhar nos olhos não faria sentido. Palavras de medo, amor, ódio medo sem um olhar de medoamoródiomedo não faria sentido. Eu queria falar com você porque de uma forma ou de outra estou incomunicável.

Arrenofobia. Androfobia.
Don't take this personally (?).

By the way, eu sei.
E eu sinto simplesmente raiva pelas pessoas que acham que sabem, sendo que não sabiam. Ou talvez eu saiba tão pouco quanto elas.

Ou talvez eu não me preocupe.
Ou talvez eu SÓ me preocupe com vocês. Vocês de quem eu tenho medo.

Mesmo sem motivo.

27/2/05 14:26  
Blogger yuribt disse...

Vai tomar no cu.
Mas não é exatamente isso que eu quero dizer.
Weltanschauung. Experiência negativa. Abertura amorosa. Do nada. Abertura amorosa. Admiração.
Experiência negativa.
Vai lá.
Você não é um coco podre. Boie.
Ou você² é. Boie.

27/2/05 21:31  
Blogger Anouk disse...

- nanossesgundos.
- Eu li sem ser abóbora. E concordo com você.
- O Word tem problemas mentais, não confie nele.
- Não, não são observações aleatórias.
- Sim, eu duvido que você vá ler isto.

Eu fiquei magoada de ter FICADO SABENDO desta sua condição. A (pessoa que me contou) me deixou preocupada, e me FEZ ficar com pena. E agora estou ofendidao comigo mesma, pois não consigo olhar apra você sem lembrar das palavras da (pessoa que me contou) e que me fez ver essa(s) outra(s) realidade(s).

- Eles te tratam como criança, como deficiente, como autista. Eu te encaro como colega, parceiro, gênio, amigo (ainda ue em termos estranhos, mas deixa pra lá).
-Não consigo dizer que gosto de meus amigos. São a família que eu pude escolher. Eu amo eles. E cpnecete este comentário com o anterior.

- Esse "Luques" da vida que se preocupam mais do que deveriam. Queria poder ensiná-los que cada um tem de rumar sua própria vida, mas que não se pode guiar os outros, apenas gentilmente tocar na direção certa. E que a pessoa se vire.
- Estarei do lado errado da ponte pra te segurar. Não quero ter de empurrar, afinal, não é meu trabalho.

E por favor, abra os braços de vez em quando, e espere o abraço qe virá se VOCÊ permitir.


Madness, just thinking out loud.

28/2/05 21:33  
Blogger Artur disse...

Tenho a impressão - não, a intuição mediúnica - de que algo está acontecendo de que eu não sei...

1/3/05 14:11  
Blogger Anouk disse...

Ás vezes o crime fala mais alto do que as provas.

1/3/05 22:52  
Anonymous Anônimo disse...

Sabe de uma coisa? Você é tão somente um adolescente. Sabe de outra coisa? Isso passa!!! Te decepcionei? Foda-se!

3/3/05 08:04  
Blogger Anouk disse...

tenho a sincera impressão de saber quem postou este último comment... hmm...

4/3/05 22:24  
Blogger Anouk disse...

Retiro o que eu disse, por motivos de força MUITO maior.

Aliás, eu nem sei por que postei aquele último post. Malz...

4/3/05 22:36  
Blogger Artur disse...

Sabe, você não me decepcionou nem um pouco, Oh, comentador anônimo que tem a coragem para dizer 'foda-se' mas não para assinar.
(Sabe, essa atitude de foda-se eu também uso, mas pelo menos eu me responsabilizo por ela...)

Eu às vezes também acho que eu sou só um adolescente. Sabe o quê? Foda-se. Mesmo que seja, eu continuo do jeito que eu disse aqui, e foda-se se isso passa ou não, porque agora está assim, e se não tiver um escape (nem que seja esse post) eu posso não viver pra ver passar. Então sabe o quê? Foda-se você, que acha que sabe das coisas.
Porque não interessa que "isso passa". Porque você não vai me convencer de que são meus hormônios. Existe uma causa pra isso, e se eu não descobri-la, pouco me importa que passe ou não.
A não ser que eu queira ter uma existência totalmente desimportante e idiótica.
(Sem querer te julgar, se é isso que você quer, queira.)

6/3/05 21:34  

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