9.9.04

Sartre e a Metafísica da Patoeira

(e eu também devo ter colocado um pouco de Saramago aí)

Alguém, algum dia desses, falou que nunca atingiremos a perfeição. Fico - desde então, mas na verdade antes também - me perguntando o que exatamente é a perfeição. É quando tudo está bom? Quando nada está ruim? Estas duas últimas situações são sinônimas? Acontece que não pode ser isso: bom e ruim são conceitos relativos. Pra mim, é bom morder a Marina. Ela diz que dói. Sei lá, talvez seja frescura dela, mas que é relativo, isso é. Pelo menos aqui. O que me faz perguntar: então há um bem absoluto fora daqui? Bem, não. Um bem absoluto não faz sentido: seria algo sem mal, e portanto não poderia ser bem (o mel e o fel, voltando a uma de minhas citações vanilascaicas). Então perfeição é o quê? Entendamos que se perfeição depende do ponto-de-vista, não é perfeição. Mas se é absoluta, tem de ser em relação ao eterno, imutável - à essência? Que essência? Não a humana, pois a humana surgiu num tempo definido. A perfeição é a perfeição do que sempre houve, o físico, a energia. Da qual somos feitos. Então o que é a perfeição da energia? É a existência, conceito indissociável dela. Portanto, a perfeição é o existir. Só o que não é é imperfeito. É claro que nada não é. Eliminemos, pois, esse conceito.

Vocês já perceberam que eu tenho uma tendência niilogista? Mas também uma neologista...
Elimino conceitos e palavras inúteis e crio minhas próprias palavras e meus conceitos, que servem para minha existência.
Preciso criar um nome pra isso.

Esse blog foi abandonado. Não posso deixar de fazer uma analogia com nosso nome. O pato na ratoeira é um símbolo de desencaixe, de insatisfação, de negação daqueles joguinhos que todos jogávamos quando eramos piquiticos - aqueles em que há uma casa cujo telhado vermelho é uma pirâmide de base quadrada, e em cada face triangular há um buraquinho com uma forma diferente, no qual você deve colocar uma pecinha plástica. Ao mesmo tempo, é uma menção a uma armadilha, uma enganação, uma mentira no motivo desse mesmo encaixe. O rato que se encaixa na ratoeira o fez porque lhe enganaram. Ou Ele se enganou. A ratoeira impede qualquer movimento seu, mas não é seu fim natural (que também permitiria a imobilidade), é um grande dogma descoberto tarde demais. O pato não se encaixa, não se deixa enganar. O pato aceita a impossibilidade de seu encaixe em qualquer dispositivo armadílhico. O pato vive na mesma ratoeira que prende o rato, mas dela se projeta, voa por ela como nos desenhos do Walt Disney em que caçam os patinhos voadores. Nós três - namely, eu e marina e yuri - éramos esse pato ratoeirense. Aqui, mostrávamos nosso desencaixe, o nosso Ser e o Nada que dele vêm, principalmente esse Nada que nos faz humanos como poucos os que se vê no mundo. O pato na ratoeira era uma espécie rara, ameaçada de extinção pelos ratos. Que, presos, acreditam-se livres, e atacam os patos - que não poderiam estar na ratoeira (lugar por direito dos ratos) mas na patoeira. Não é por nada que os ratos são enganados pelo estômago.

- mamãe, mamãe, o artur disse que eu sou um rato; - chora não, titico, mamãe fala com a mamãe dele; - mamãe, mamãe, ele tava certo?; - ih, filho, aí tá a questão, o artur tá sempre certo.

- pô, eu sou melhor que esse artur, como ele é metido! ególatra! acha que tá sempre certo! devia ser um pouco mais humilde, aprender com sócrates. eu só sei que nada sei, né?

mas nem sabe o que não sabe.

Para quem não sabe, eu sou um romântico - aliás, um ultra-romântico. Mas tudo dentro de uma perspectiva pós-moderna, claro, não sou um desses ridículos neoromânticos. (Como você. Você representando a maioria das pessoas desse mundo.) Isso inclui o conceito de Fuga Da Realidade. Eu sou um fujão, mesmo. Cada vez mais. Em minhas idealizações, sonhos, devaneios, fantasias, cada vez menos aparecem coisas possíveis, Poemas Possíveis, o Amor Possível. Porque sou pessimista? Por que sou pessimista? Porque é impossível? Por que é impossível? Se já fugia para o futuro, fujo para um futuro cada vez mais distante. Fujo no espaço: inadmissibilito minha presença feliz nesse colégio. Fujo da lógica. Fujo do mundo. Blá blá blá blá. Só falo merda.
Penso se são contradizentes meus dois maiores dogmas/princípios/certezas/doutrinas. A de que o amor é uma mentira e a de que o amor deve ser nosso fim absoluto. Ab soluto: fora de solução, sem impurezas, sozinho, único, uno, total, maior, perfeito (antes de o adjetivo deixar de existir), divino. O amor é típico dos ratos, mas quando o pato o encontra, margarida-se.
Na voz de Cesaria Evora:

Dibaxo-di bo foguera
Bô cria nôs desse manera
Kbô saia prete kbô lincim
Bô mostrá nôs oké ke nôs
Oh mãe oh mãe oh mãe oh mãe
oh mãe velha oih
Mãe velha oih mãe velha
Tcham cantope esse cançao
Pa legrope bô coraçao
Mãe velha mostra nõs
Munde é fete pa vive
Tambem ele é fete pa morré
Pa ama e sofre
Munde é fete pa vivé
Munde é fete pa morre
Munde é fete pa ama
Tambem pa sofre

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Artur, você tem algum blog pessoal?

Grata! ^^

27/4/08 23:31  

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