11.5.05

Por que não fazer um outro post?

Enfim, sempre vem um outro post. Sempre há algo para falar ou repetir. Sempre tem algo que eu esqueci. Será que de propósito?
Acho que se eu realmente quisesse, por inteiro, consciente e inconscientemente, eu poderia escrever um post que acabasse de vez com essa palhaçada, um post que dissesse tudo que eu preciso dizer nesse blog. E daí, era deixar ele para vocês dois.
Mas etc.

E o centauro. O centauro que sou eu, o centauro é meu totem.
Porque existe dentro de mim um centauro.
E o centauro é sábio e é forte e é antigo e é dividido em dois e é sangüento e é eu. E o centauro é meio agressivo, e totalmente solitário, e selvagem, e quente quente quente.
Vamos lá, exercício: Assim que terminar de ler esse parágrafo de instruções, feche os olhos e imagine o seguinte. Você está numa floresta, é quase noite, as copas das árvores impede a pouca luz que há no céu de chegar ao chão. Aquele silêncio das florestas que nunca é bem silêncio. Você está perdido(a), mas não se importa. Ao longe – um vulto. Mais perto – um vulto, o mesmo, é claro. Você senta-se no chão e espera. Muito tempo passa. O vulto, mais perto. Se aproxima de você. Acha você. O vulto vira um centauro visível, destransparente, todo aparecido e macho. O centauro nu, o centauro nuo, o centauro de metade cimal humana, de metade inferior eqüina, que é todo um corpo sem cabeça, com um dorso e uma cabeça genteais. E ele se aproxima de você, pouco a pouco a pouco, mas só porque agora já caiu o sol praz tráz dos montanhões do horizonte, e as constelações apareceram puntiformes e luminóseas, é nas constelações que se vê espelhado (espectado, espetado) o centauro. E você se levanta devagar. Ele hesita, mas não recua, esperançado, gostado de você. E você agora é quem vai a ele, e você sente o cheiro de suor dele, e você sente o calor dele. Ele é muito mais alturoso: sua cabeça bate entre o umbigo e o peito dele. Você deixa seu lábio encostar na barriga dele. Sente o calor do centauro, agora de verdade, da outra vez não valera, fora muito pouquinho.
Pronto, agora imagina.
Se quiser, pode abraçá-lo. Mas não forte. E NÃO PODE MONTAR NELE. Só quem pode sou eu. E pronto. Se você quer montar, crie seu próprio totem/essência/alma/alter-ego/inter-ego/ego/id/alma-gêmea/ser. Etc.

Enfim, as pessoas dizem que meus posts são:
- deprimentes
- desesperados
- preocupantes
- exagerados
- suicidas
- angustiantes
- masoquistas
- sádicos
- longos
- complicados
- chatos
Enfim, as pessoas aparentemente gostam de adjetivar meus posts, seja lá pra que isso sirva, não acho que seja pra muito, meus posts não são alterados pelos adjetivos das pessoas, e de que serve um adjetivo se não para modificar um substantivo?

E não existe diálogo...
O que existe é o reconhecimento de afetos pré-existentes.
Vocês têm os mesmos afetos pré-existentes que eu? Se não têm, nem precisam ler, vocês nada tirarão da leitura. Se têm, nem precisam ler, vocês nada tirarão da leitura; mas nesse caso será um nada que já existia dentro de vocês.

E o script.
Aqui está o obstáculo. No script.
Diz um dos meus atuais professores de literatura que algumas pessoas constroem para si próprias um script tão rígido que nunca conseguem escapar dele – afirmam para si mesmas que sofrerão, e só podem assim sofrer.
Para bom entendedor, meia palavra já é até demais.

Eu sei que nada vai acontecer de realmente bom para mim neste ano.
Eu sei que eu ainda quero que algo de realmente bom aconteça para mim neste ano.
Eu sei que talvez eu não agüente que nada de realmente bom aconteça para mim neste ano.
Dois mil e cinco = dois mil e quatro = dois mil e três = dois mil e dois = dois mil e um. Mas só o segundo semestre de dois mil e um.
= Dois mil e seis? Se for, adeus, pessoal, fico em campinas, debaixo da terra.
Não me procurem mais.

Não perturbe.
Não perturbe.
Não perturbe.
Não perturbe.

Não perturbe.
Não perturbe.
Não perturbe.

Não perturbe.
Não perturbe.

Não perturbe.

Decrescentemente...

Sabe, acho que estou desperdiçando linhas com essas minhas pretensões a super-poeta-concretista, acho que na verdade estou querendo que meu post pareça maior, talvez para mostrar que eu sou um superescritorexpressivo, talvez para deixar você com medo para que você não leia meu post, de qualquer jeito eu realmente não devia ficar me analisando, por dois motivos: primeiro porque todos temos uma forte tendência a se analisar incorretamente, segundo porque quando eu me analiso não faz diferença nenhuma, legal, eu passo a saber o que me move, mas continuo não me movendo por mim mesmo, continuo determinado e podre, sem ter o que fazer para me curar dessa eterna maleita moral, dessa danada dita-cuja demónia amulherada, essa febre poética que eu gosto de cultivar na minha testa aquecedora de si mesma e de nada mais, um dia minha testa será aquecedora de outras coisas – aquecedora de mãos amadas e de marmitas –, e nesse dia eu terei encontrado meu oriente perdido, meu paraíso lestino, minha primavera desbufalada: é verdade, eu queria falar desse conto, “O Búfalo” da Clarice Lispector, quem quiser emprestado eu empresto, eu tenho xérox, Yuri você tem ele em casa, no livro Laços de Família da Clarice, o livro é daquela coleção azul que fica no corredor, bem em cima da porta da sala, de qualquer jeito eu queria falar do conto O Búfalo, eu acho que eu tenho muito daquela protagonista, sabiam?, não tudo, mais um pouco, eu fico tonto em escada rolante, eu tenho medo de montanha-russa, eu procuro o ódio o ódio o ódio mesmo já tendo o ódio em mim, eu procuro ele fora de mim que é pra me justificar, e eu não quero o amor, sabe por que não?, porque eu quero o amor, medo e curiosidade, dialética, macacos e um monólito, gregos e a homossexualidade, Hegel e o próprio baço – aposto que nenhum de vocês já ouviu falar do baço de Hegel, mas eu também não vou falar, fica pra próxima – de qualquer jeito a dialética serve pra explicar isso também, não só a história, mas eu nunca achei um búfalo que me justifique, então de certa forma eu sempre me sinto errado moralmente errado por ser assim como eu sou, até por causa do meu script que me força a ser quem eu sou mesmo não querendo, mesmo injustificavelmente (de modo bufular), que som o búfalo faz, Marina?, estou escrevendo isso enquanto chateio com você usando sons bizarros e talvez supermodernosos d’essa moça, e eu tergiversei pra caralho e parece que você nem percebeu, você se deixou levar pelo meu papo, pela minha enrolação, você realmente não devia fazer isso, você precisa ser mais autônoma, mais alta, menos fofinha, mas só em algumas horas porque é só porque você é fofinha que eu escolhi ficar no grupo de simpatizantes seus, porque o Yuri é feio, de qualquer jeito não acho que deveríamos usar fitinhas rosas, isso é meio brega e antiquado, se você tiver alguma idéia melhor me fale, estou aberto a sugestões, você estava ganhando, lembra?, de bastante até, mas acho que as pessoas não gostaram sequer de pensar nesse tema – e o por quê de as pessoas não terem gostado está na minha Teoria do Capitalismo Inter-relacional, pronto, chega de falar nisso, porque as pessoas vão me odiar por mostrar a elas o por quê das ações delas, mas que as pessoas acharam a hipótese de vocês se separarem besta isso acharam, mas não é como se elas não saibam que eventualmente isso vai acontecer, é inevitável, a culpa não é minha: não matem o mensageiro, que se ele não morrer de maratona já está muito muito bom, não acham?, não, não acham, porque vocês já se acostumaram a discordar de mim, principalmente quando eu digo coisas“, ai, terríveis” sobre as pessoas, principalmente quando eu uso do meu realismo-pessimista, que realmente deveria ser uma escola filosófica, nem que fosse eu o único integrante dela, porque vocês são otimistas só porque tem medo pânico de tudo e então fingem que tudo não existe, que nada existe então, que só existe as flores romantiquescas iracemosas dos devaneios ridículos de vocês, e agora chega que senão vocês param de ler e eu fico triste. Mas eu finjo que não fico não.

Melhor assim, né? Pros seus olhinhos não doerem, né? Pra num dói-doer, né não? É melhor pra você poder fingir que vê.
Fenômeno interessante: Diagramar bem meu texto leva à melhor visualização, mas à pior veção. Formá-lo como acima, num fôlego imenso e antinatural, é pior pra saúde (física e mental) dos leitores, mas melhor para o entendimento profundo dos significados intermitentes ao texto.
Alguém devia escrever uma tese de doutorado sobre isso. Relacionando esse fenômeno com a alta quantidade de urânio presente no meu cérebro.

Minha cabeça dói. Estou doente. É tempo de gripes, não é? Bobagem, sempre é tempo de gripes. E minha cabeça dói terrivelmente, meu nariz escorre asquerosamente, minha garganta raspa raspadamente, meu corpo desmancha sobre a cadeira que faz ele doer mais. Tensão tensão. Moliiiinho. Meu corpo descorporizado pela dor doêntica. Doôntica. Eu doente. Eu do ente. O ser enquanto está sendo. Ôntico, não?
Propedêutico, quase.
Pragmático. Concomitante. Espelho espeto.

Quando a minha querida professora de filosofia me pediu pra guardar algo na minha gaveta de cuecas, não foi minha Weltanshaaung. Ah, mas isso era até fácil de escrever. Páginas e páginas disso, um livro disso, um blog até, que loucura. Mas não, ela falou: escreve aí o sentido da vida. Pô, meu, assim vai ficando difícil pra nós. Não escrevi nada. Nem hoje escreveria. Porque a vida não tem sentido e pronto, e até minhas cuecas sabem disso.

Como seria a cueca de um centauro?

Provocações. Odeio o modo como tudo me provoca. Provocar: Pro + vocare. Que nem de e + vocare. Só que com pro no lugar de e. E as coisas me provocam irritantemente. Sabe, que nem um sonho: um sonho (dos que eu consigo me lembrar depois) me irrita muito, porque provoca em mim sentimentos, digamos, negativos. Falas de amigos me provocam sem que eles saibam. Olhares de desconhecidos me provocam. Conversas alheias. Fotos. Pensamentos intrusos em minha cabeça esburacada, abertona para pensamentos intrusos intrusarem intrometidos bicões. Me provocam existências. Me provocam lembranças. Sons. Gritos, gemidos. Me provocam imagens, desenhos, pinturas, esculturas, pensamentos. Me provocam gestos indevidos.

Ah, que o mundo devia ser censurado!

Indecências mil rolam por esse sertão todo, impudores, obscenidades, indecências enfim.

O centauro é uma indecência um impudor uma obscenidade. Mas é a minha indecência impudor obscenidade. Eu o construí com muito sangue tirado de minhas gengivas, e conquistei o direito de colocar uma indecência no mundo.
Os outros, geralmente, não.
Daí vira essa festa, essa esbórnia nojenta.

Eu sou moralista sim.
Mas façam o que quiserem.
Sou um moralista que não quer que os outros façam o certo.
Quero é falar mal.

Mas isso vocês já perceberam.

Enfim, tanto para falar, né?
Mas agora já sei que não vou falar porque eu não preciso porque eu não quero.

Lah-dee-dah.

Mas eu sou mesmo ridículo, né? Devo ser tão óbvio! Só eu não me entendo, provavelmente. Devo ser um caso clássico de algo. Um exemplo daqueles de se colocar em livro didático. Quase uma fábula. Devo ser aqueles personagens que, se aparecessem na literatura, as pessoas diriam que não tem profundidade psicológica. Ou que têm, mas que são óbvios.
Mas não, não me digam. Meu único passatempo nesse mundo é fingir que não sou óbvio pra tentar me analisar. Sem sucesso, é claro.

Brevíssima Teoria Cromática:
As cores, no fundo, só realçam. Não significam nada.

Poemeto de Ontem:
No dia que antecedeu
Este que agora hoje vivo
Eu fui para a minha escola
E tive as seguintes aulas:
Química mais Matemática
Gramática mais História
E aprofundamentos de:
O Búfalo e Humanidades.
No dia que antecedeu
Este que agora hoje vivo
Fui depois pra minha casa
Onde fiz lição e li
E dormi, tranquilamente.
E hoje fiz esses versinhos
Cada um com sete sílabas.
E fiz a Marina se
Sentir a rainha da
Inglaterra, por mais que
Ela diga que foi ontem.

Sabem, eu posso acabar esse post onde eu quiser, na verdade. Isso porque...
I - ... meus posts são mesmo inúteis.
II - ... eles não têm pé nem cabeça.
III - ... no fundo são um só post.
IV - ... eu quero.

Como seria um ser meio-homem meio-búfalo?
Como chamaria esse ser?
Esse ser não é meu totem. Meu totem é o centauro e só o centauro.
E só o centauro e só o centauro.

Sabe, não sei desde quando o centauro anda lado a lado comigo, assim em todos os momentos de minha vida, como um anjo da guarda pagão, mas ele é delicioso e eu vou continuar com ele, porque ele é a única coisa que me vale algo, ele é tudo pra mim.
E eu não entendo, mas ele é tão importante pra mim que eu estou chorando só de falar o quanto ele é importante pra mim.
Sei lá, vai ver não é pra entender mesmo.

Odeio meus sonhos. Lembram daquele um que eu contei durante as férias? Do Kurosawa, pessegueiros, e um Bêijo? Pois se até hoje ele me atormenta.
Me provoca, isso sim. Meus sonhos me provocam. Eles gostam de me provocar.
Pra que quando eu acordar eu ressinta-os. Ressinta-os por me deixar acordar.
Morrer, dormir, dormir e quem sabe sonhar. Pra Hamlet, obstáculo.
Pra mim, paraíso.
O sonho eterno..... o anti-concreto. O anti-terdeagüentartudoissoaí.

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