26.7.06

Haicais de inverno
ou
Mês de julho

(um)
Robert Frost
Bosque branco em sonho:
Ainda milhas pra andar
Antes de dormir...

(dois)
Insistência
Apesar do frio,
Nudez e janela aberta
Para alguém entrar.

(três)
Transmutação
Grande cobertor;
Debaixo, estou sozinho:
Pequena prisão.

(quatro)
Brincadeira
Responde a pergunta
Com os sinais de fumaça
Do teu respirar!

(cinco)
Insônia
Sozinho de noite
O frio queima o coração.
Esmago formigas.

(seis)
Dois pontos de vista
Perto da lareira –
O encontrar de duas mãos.
Carinho; inveja.

(sete)
Brincadeira – II
Riso e arrepio:
Um espírito do frio
Sopra em meu ouvido.

(oito)
Beleza
Uns lábios azuis,
Rosto pálido e gelado:
Oh, Deus, que tragédia!

(nove)
Prenúncio
Frio: estou imóvel.
Vou criar este haicai
Só na primavera.

(dez)
Insistência – II
Não quero acordar...
No sonho não há cobertas,
Você que me aquece.

(onze)
Romântico
Tu serves o vinho,
Desligas o aquecedor
E te vais embora.

(doze)
Insônia – II
Madrugada, álcool,
Meus amigos já partiram.
Não lembro onde moro...

(treze)
Na verdade...
Reclamo do frio
Desde o começo do outono...
Vá-te, primavera!

(catorze)
Dois pontos de vista – II
Por ninguém usá-lo –
Solidão e liberdade –
Meu nome congela.

(quinze)
Desculpa
O calor do álcool
É quem se deve culpar
Do suor da dança.

(dezesseis)
Miragem
Por causa do frio
Meu gato vem ao meu colo –
Mas não tenho um gato!...

(dezessete)
Insistência – III
Na rua um cão ladra
Enquanto minha alma geme.
Será que tem fome?

(dezoito)
Inverno
Paixão: uma gripe
Contraída por querer.
Tu longe, no Hades...

(dezenove)
Insistência – IV
Dia claro e frio.
O Sol perdeu seu calor?
Hoje não te vi.

(vinte)
Insistência – V
Árvores sem folhas.
A morte anda nas ruas.
Não estás comigo.

(vinte e um)
Tempo de morte
Por favor, silêncio:
Um bebê nasceu no inverno.
Por que estou tão triste?

(vinte e dois)
Permanência
Agora é verão
Do outro lado do mundo.
Mas estou aqui.

(vinte e três)
Impermanência
Se me lembro bem
Ainda no fim do outono
Vovô era vivo...

(vinte e quatro)
Beleza – II
Hoje não nevou
E a paisagem está suja.
Vou brincar lá fora.

(vinte e cinco)
Desculpa – II
Minhas orelhas
Doem por causa do frio...
O som dos seus passos!

(vinte e seis)
Violência
Não me tens calor,
Mas ousas me dar conselho
De me agasalhar...

(vinte e sete)
Miragem - II
Não, não estou só!
Tenho o espírito do fogo
Que habita a lareira...

(vinte e oito)
Violência – II
O vento cortante –
Sangue corre pela face –
Lágrimas geladas.

(vinte e nove)
Insistência – VI
Velho lago sujo!
Quem agüentará seu frio?
Vamos pular juntos?

(trinta)
Na verdade... – II
Sou eu essa neve
Que sob pressão vira gelo
Quando tu me pisas.

(trinta e um)
Insistência – VII
Que infelicidade:
Já não sonho mais contigo...
Finde tudo, então!

26/07/06

6 Comentários:

Blogger yuribt disse...

Qustão: por que não 31.

26/7/06 19:44  
Blogger Artur disse...

Não entendi o comentário...

E você não estava viajando?!

27/7/06 00:22  
Blogger yuribt disse...

Eu pensei: "por que 31?"
Então me questionei como resposta: porque não 31.

Eu tava, mas e daí.
(agora não estou mais)

27/7/06 11:58  
Blogger Artur disse...

... só agora percebi que o "finde tudo então" ficou no final do conjunto...

28/7/06 18:52  
Blogger Ozzer Seimsisk disse...

você percebeu que hã dois chamados miragem? por isso que transformou umverso do primeiro em título?

30/7/06 16:11  
Blogger Artur disse...

não, isso foi um erro. Vou corrigir.

30/7/06 17:44  

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