18.2.06

Você,
você,
você...


Acho que...
*suspiro:* não, não...
não adianta falar...

adianta?

por que tudo é uma pergunta?

o que é muito pelo contrário?

como resgatar dentro de mim os momentos de puro gozo que eu tive ao seu lado?

gozo...

A formosura do teu rosto obriga-me
e não ouso em tua presença
ou à tua simples lembrança
recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.
Quisera olhar fixamente a tua cara,
como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.
Mas não tenho coragem,
olho só tua mão,
a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta
pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável
que tudo rói e banha e torna apetecível:
cadeiras, desembocaduras de esgotos,
idéia de morte, gripe, vestido, sapatos,
aquela tarde de sábado,
esta que morre agora antes da mesa pacífica:
ovos cozidos, tomates,
fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.
Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas,
rispidez de teu lábio que suporto com dor,
e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,
lâmina encostada em teu peito. Fala.
Fala sem orgulho ou medo
que à força de pensar em mim sonhou comigo
e passou o dia esquisito,
o coração em sobressaltos à campainha da porta,
disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.
Nem é preciso que amor seja a palavra.
"Penso em você" – me diz e estancarei os féretros,
tão grande é a minha paixão.

(Adélia Prado, "Amor")

Como você não percebe? É tão óbvio... e eu fui tão burro, tão ingênuo, tão descuidado...

Me percebe, me percebe! Sou eu, aqui, pulando diante de você, esperando por um pouco de atenção!...!...
(sou eu escrevendo textos quilométricos e poemas e haicais e declarações de amor e reflexões e desabafos, sou eu tentando num suspiro te mostrar minha paixão, tentando dar as entonações certas às frases mais banais que te falo, olhando seu número de telefone e criando desculpas pra poder me comunicar com você, esperando só que você me responda, eu aqui pulando diante de você)

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