10.12.05

Se não fosse a aurora, jamais se poderia perceber o tempo passando de madrugada

Somos difíceis e dificílimos, difíceis e injulgáveis.

E quando eu tento olhar sem as lentes da razão, aceitando nossa miopia natural, me parece que estamos ainda mais errados do que o que eu pensava.

E ao longo dos séculos, a humanidade se tornou ácida, sarcástica, irônica, impossível.

E o outono é a época em que os pássaros mudam de cor e caem das árvores.

E, não importam quantas janelas estejam abertas, o ar do lado de fora ainda é mais puro.

E tudo podia ser tão simples!

E teus olhos brilham, me lembrando que são molhados como os meus. Que por dentro somos todos líquidos.

E nanotubos de carbono podem ser tóxicos.

E eu aprendi a viver com vocês apenas três meses antes de termos de nos separar.

E a água aceita viver nos lugares mais baixos, os quais todos desdenhamos.

E o desejo é tudo o que importa, é a única salvação, só ele é sublime e verdadeiro.

E “sim” é a mais bela palavra de todas, e “não” é só mais uma forma de “sim”.

E lutar com palavras é a luta mais vã.

E eles passarão, eu passarinho.

E não é preciso saber o que é amizade durante uma formatura.

E te adorar tanto assim dói, mas vale a pena.

E o homem é o ser pelo qual o nada vem ao mundo.

E músculo e carne são a mesma coisa.

E a chuva proporciona um fenômeno óptico que muda nossa visão da vida.

E na cama, quando o sono vem, eu falo coisas sem sentido e as esqueço no momento seguinte, mas penso em você mais lucidamente do que em qualquer outro momento.

E às vezes o tempo passa gostoso, como o metrô, fazendo barulho e criando um vento abissal.

E, na verdade, as águas só passam se as fazemos passar, principalmente as mais geladas.

E sabão em pó jamais será sabão de verdade.

E a tortura pode fazer alguém cuspir verdades, mas cócegas só criam mentiras.

E balões de festa podem se assemelhar a espermatozóides raivosos.

E um mês faz muita diferença. Junho.

E uma maçã não é apenas uma maçã, ou não seria vermelha assim. Uma maçã verde é só uma maçã.

E é esquisito demais chamar alguém de ‘melhor amigo’. Talvez só os melhores amigos são amigos mesmo.

E o natal não significa nada.

E sábio é o bebê, que conhece as coisas com os lábios, a língua e os dentes.

E obrigações são sempre chatas.

E um céu nublado parece que pode me proteger dos espaços infinitos eternamente silenciosos e apavorantes.

E as pessoas que você mais admira podem se embebedar, e isso pode ser bom.

E o homem tem de ser completo.

E muitas coisas pra dizer às vezes podem ser uma coisa só. Uma coisa grávida, Marina.

E uma praia é uma praia é uma praia.

E os números primos têm a irritante mania de serem números feios.

E o absurdo pode nos resgatar de uma selva de ângulos retos, de paralelos e perpendiculares, de retas e curvas equacionáveis.

E pentear os cabelos é relativo.

E provavelmente você não vai morrer daqui a dez dias, Yuri, mas bem que poderia ser.

E as coisas não precisam ter duplo sentido para terem um sentido escondido.

E eu sei que homens têm pênis e mulheres têm vagina.

E a coisa mais linda num poema é o som inerte, o flatu vocis, uma música mais verdadeira do que o que se considera música.

E uma vida sem conflitos seria sem graça, mas os conflitos também não têm muita graça.

E a coisa mais maravilhosa da vida é a imperfeição de um indivíduo.

E a coisa mais maravilhosa da minha vida é a imperfeição tua.

E latim pode ser coisa de gente esnobe, mas falá-lo é como chupar uma bala de ouro.

E escrever certas palavras gera um orgasmo manual sutil e suspiroso.

E será sempre permitido inventar palavras, mas será sempre surpreendente descobrir que existe realmente a palavra “suspiroso”.

E uma rima vale mais do que um milhão de palavras.

E as palavras ‘desculpas’ e ‘perdão’ não fazem sentido para mim.

E eu sou bastante incompetente, principalmente no que diz respeito a trabalhos manuais ou relações humanas. Principalmente no que diz respeito a ambos.

E despedaçar uma flor liberta uma espécie de néctar dentro de mim.

E ter é importantíssimo, mas ter de verdade é diferente de possuir. Ter é múltiplo, coletivo, polissêmico.

E alguns dos melhores prazeres são profundamente desconfortáveis.

E certos títulos são tão belos, que dá pena de ler o livro (“Fala comigo, doce como a chuva”).

E é tão gostoso assistir filmes de terror!, talvez porque ao menos esse medo não é tão paralisante.

E, quando lugares há muito esquecidos nos vêm à mente, são alegorias para setores internos a nós.

E uma metáfora são dois círculos meio sobrepostos, e uma metonímia são dois círculos meio fundidos.

E jamais a humanidade se decidirá entre considerar Dom Quixote um louco inaceitável ou um sábio inadequado.

E falar “pombo” ou “pomba” não tem diferença na linguagem denotativa, mas sexualmente são coisas opostas.

E eu não troco uma tarde agradável por um enorme conhecimento.

E que agradáveis as tardes em que eu te tenho comigo!

E se algo no mundo é mágico, esse algo é a possibilidade de modificar uma leitura acrescentando apenas um acento grave à letra a.

E a minha covardia não é do tipo que torne interessante ficar exausto andando numa estrada de tijolos amarelos só pra chegar numa cidade de esmeraldas.

E Alice No País Das Maravilhas é uma lição de vida insubstituível, e quando Alice acorda no final ela, na verdade, provavelmente morreu. Em algum sentido, de todo jeito.

E (se meus sonhos são fonte confiável de auto-conhecimento) eu te amaria mesmo que você fosse um zumbi.

4 Comentários:

Blogger Ozzer Seimsisk disse...

*ggggggggggggggg*

10/12/05 20:17  
Blogger Artur disse...

eu acho que "ggg" não é um comentário válido ¬¬

12/12/05 19:37  
Blogger Pure disse...

Se esse amor for real; se ele for destinado ou visar uma pessoa, então essa pessoa devia saber. Saber é fundamental.

Amar às escondidas é mais seguro, acarreta menos preocupações, mas... é tão solitário. Vale a pena amar sem ser correspondido? Eu amo sem ser correspondido e muitos filósofos amaram (e amam) sem serem correspondidos, mas vale mesmo a pena? Não seria algo... inútil?

Não sei... Me sinto blasé... Me sinto como se não tivesse moral para falar...

Talvez devesse calar.

12/12/05 20:30  
Blogger Artur disse...

Desde quando o que determina a correspondência ou não de um amor é o fato de ele ser escondido ou público?

Reli meu post. Bonito...

13/12/05 12:38  

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