20.7.05

Provocações

Ah-he-hê, Eh-ah-ahhá…
Ah-he-hê, Eh-ah-ahhá…



“A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Foram lhe provocando por toda a vida. Ficou firme. Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele: - Violência, não!”
...

Moi et le malin génie. Ah, que se ele existir, são provocações. Todas essas por aí são provocações maldosas, sa-a-ádicas. Tudo são provocações para o espírito cujas energias estão vibrando numa freqüência baixa. Tudo são provocações ou ele vê provocações em tudo? Obviamente o segundo, e é a tese que te-e-ênta-remos demonstrar.

Provocações são os outros. E se a intersubjetividade é baseada na visão, não deve fazer muita diferença ser provocação ou ser visto como provocação. Provocações são o inferno. E se provocação indica mais um efeito do objeto no sujeito que o vê do que uma característica própria deste objeto, talvez seja mesmo tudo a mesma coisa, não?

“Se é pra eu me sentir sozinho, o melhor é sentir isso aqui. Sozinho.” Mas acho que isso ficaria melhor no outro post.

Provocações as situações em que o ““destino”” nos coloca... numa quarta-feira cansada, após ensaio de teatro das 19h30 às 23h, pegar um ônibus que só passou à meia-noite. E chega o seu ponto, você fica feliz feliz e aperta o botãozinho e o motorista PASSA o ponto. Calma, né, é só andar um pouquinho, mas aqui um ponto significa...

00h20 eu do outro lado da Paulista. Lá da nove de julho. Duas possibilidades: a que sempre é melhor e a que sempre é pior. Mas a melhor significa subir até a Paulista e descer tudo de novo, e eu só quero DORMIR, pô. A pior significa ir por dentro do túnel, possivelmente sufocar com a fumaça dos carros, mas que tentação, seria tão mais rápido e fácil. Não, por cima, por cima. Sobe sobe sobe sobe...

Mundo é feito pra viver
Mundo é feito pra morrer
Mundo é feito pra amar
Também pra sofrer.

Escuro demais. BARULHO: olha pra trás não tem ninguém?não dá pra verdireitoporcausa do escuro que estáaquina rua será que tem alguém não parece muito seguro andar por aqui a essa hora masoqueeuposso fazer tenho que ir pracasa. Quase uma corridinha.
Arf-arf...
Agora vá você olhar a Av. Paulista à meia-noite e meia e me diz se você REALMENTE acredita que Deus existe.


Uma quadra nesse microcosmo lindo que me prende a essa cidade. A Avenida Paulista – cenário de quantos dos nossos posts, patos? De quantos dos posts que não foram escritos, mas vividos?

E eu chego em casa cansado, morto, tardio. E, é claro, o motorista do ônibus parou, sim, no meu ponto, e eu fui pra casa num pulo.

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Mas provocações são as pessoas... as pessoas imaginadas, as pessoas gesticuladas, as pessoas faladas.

As primeiras provocam vinte e quatro horas por dia, pois elas estão comigo quando estou sozinho. As segundas provocam nos momentos de grande barulho de pano de fundo, aquele barulho que fica silencioso com o gesto. As terceiras provocam nos momentos de silêncio, com uma palavra, uma frase, ah! um SOM!
E a dor que a provocação dá (provoca)...


Entendam o sentido negativo que eu dou aqui às tais provocações. Não são aquelas que nos instigam, que nos movem, que nos fazem agir, viver. São aquelas que nos fazem morrer, sofrer, que só estimulam nossos impulsos Tânatos. Aquelas que te estimulam as ações negativas – os suicídios os assassinatos as paixões. Pathos.

O rosto da atriz.

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Entrevista na Av. Paulista:
— Eu também gostaria de fazer uma coisa que poderia fazer você me odiar. E não é a primeira vez, mas como eu sou um covarde eu não faço. Eu finjo que não, que eu não sei que se você me odiasse por fazer isso significaria que você é, simplesmente, um idiota – e portanto não mereceria isso que eu vou fazer a você. E daí eu também não me importaria. Mas eu finjo que não. Eu finjo que de qualquer jeito você seria essa pessoa... como disse a Maria (ou ela estaria falando do que a Cláudia falou?): existem pessoas que simplesmente emitem um BRILHO que dá pra ver de qualquer lugar. Ah, mas você com certeza é uma dessas pessoas. E apesar de ela ter (a Maria, não a Cláudia, embora talvez a Cláudia também ache) dito que eu também sou, discordo. E tenho certeza que você discordaria, se você soubesse que a opinião que eu estou hipoteticamente pedindo aqui é a sua. Quer dizer, não sei se discordaria, assim enfaticamente, mas com certeza não concordaria. Fingiria, sei lá. Não é fácil falar – Não, você não é uma dessas pessoas que simplesmente emitem um Brilho que dá pra ver de qualquer lugar. Hm... “ ‘B’rilho”, “ ‘B’êijo”, coincidências cercando você, não? We meet again, Mr. X.......... E realmente esse hoje não aconteceria não fosse por aquele ‘ontem’. Pois é você, e foi aquele ontem que começou você em mim desse... jeito. Não, não do jeito que se está pensando, não, eu continuo naquela fase “eu não sinto, eu não sinto, duuuuh bah bah bah ouriço”, mas de qualquer jeito desse jeito que você não sabe. Mas agora me perdi. Ah, sim, a coragem. Eu fui covarde, mas odiaria se você também fosse. Na verdade, perderia todo o sentido esse jeito se você fosse covarde. Você deve ter coragem e me dizer/fazer isso que se você disser/fizer talvez eu te odeie. Não porque seja impossível eu te odiar, não. Mas porque é a coisa sincera. Como é a coisa sincera eu postar tudo isso que eu ‘falei’ no pato, mesmo eu me arrependendo de dizer certas coisas.

(Me dá um abraço [POR FAVOR!] que é a única coisa falsa nesse post).

Mas já não sei mais o que falar, então que seja.

...

“Burocratas te advertem que a aurora foi abolida
por tempo indeterminado.
Comunicam-te que o trigo e o vento serão exportados para o arco-íris.
Aconselham-te a esquecer
o corpo ensangüentado dos acontecimentos.
Eles te ensinam que o orvalho não cai sobre aqueles que semeiam dúvidas.
Mandam esvaziar tuas palavras de toda a possível reminiscência.
Eles te fiscalizam do alto dos edifícios, escanchados nalgum dragão lunar.
Eles te dão um ataúde azul
e te ordenam que é tempo de morrer.”


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Texto inicial: Luís Fernando Veríssimo

Texto final: Francisco Carvalho
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