14.1.07

Diálogos

Como eu digo, que de melhor há se não, sentados em torno de uma mesa (de preferência durante ou após uma boa refeição), pessoas que se gostam conversarem sobre qualquer assunto? – e não me venham com restrições a política e religião, e nem mesmo futebol. Fazer dessa mesa um campo livre de tiros e granadas e cruzes-vermelhas com livre-passe entre os atingidos e atiradores. Abrangir estética e as fronteiras africanas, língua e animais domésticos, livros e vezes em que a Lorena confundiu um cachorro com o próprio namorado.
Os gregos escreviam em diálogos. Os indianos também, para os que estão cansados de tudo reportar aos gregos. O diálogo está na base de tudo o que eu mais amo: literatura, teatro, filosofia, das relações com os outros seres humanos. Enquanto houver homens, haverá diálogo. Não existe não ter assunto. Não me digam que nada há para fazer, não venham procurar desculpas para encontrar com seus amigos, pois sempre se pode ir até a esquina, pedir umas cervejas e abrir a boca, articular a língua, descongelar os lábios.
Me disseram que Barthes afirmou que não existe o que chamamos de diálogo, apenas o reconhecimento de afetos pré-existentes. E não é isso diálogo? E belo diálogo. Serão às vezes nossos afetos co-afetos, às vezes desafetos – e então a conversa pode esquentar e pessoas podem se exaltar, mas nisso também encontro prazer imenso. Porque no verdadeiro diálogo há paixão em discordar. Mostrem-me alguém que não gosta de discutir e eu lhes mostrarei um morto.
E mesmo quando falamos merda, quando falamos demais, quando falamos errado, quando falamos ofensas. Não me interpretem mal – o silêncio é de ouro. Mas se o ouro fosse muito comum, não teria valor. O que já não acontece com outras coisas – homens, amores, prazeres, diálogos.

2 Comentários:

Blogger yuribt disse...

Sim.

14/1/07 10:47  
Blogger Utak disse...

Você acabou de matar o Honório!(Nono)

15/1/07 01:49  

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