15.4.06

Às vezes me vêm à cabeça a extrema presunção de crer – aliás, crer não, pois não costuma passar à consciência essa atitude, se expressando apenas por algumas falas oblíquas – digamos, então, de agir, de agir como se eu tivesse exclusividade sobre o sofrimento, algo como um copyright da dor, propriedade intelectual sobre a angústia de viver, e olho para as aflições dos outros como meras frescuras se comparadas à minha maior, mais profunda e mais justificada agonia, essa sim absoluta e verdadeira, inquestionável; então penso coisas como “você (ele/ela) não sabe o que é padecer” e “bobagem, você (ele/ela) não tem de que reclamar”, numa pose que, eu sei, é extremamente arrogante e idiota, pois quem sou eu para querer avaliar o desgosto alheio; apenas meio-percebendo essa minha falha, assumo então uma postura irônica, sarcástica, assumindo (ou parecendo assumir) o defeito sem abrir mão de fazer o comentário presunçoso: a realidade é, acho, que estou me tornando uma pessoa amarga...

(podemos chamar esse texto de Soberba e iniciar uma série de posts com os pecados capitais como tema... ou não.)

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