8.9.06

“Cada amigo representa um mundo em nós,(…)”

“(…) um mundo possivelmente não nascido até eles chegarem, e é só com esse encontro que um mundo novo nasce.” – Anaïs Nin.

Procuro não julgar as pessoas, principalmente meus amigos, por meio de um critério moral ou moralista que pouco se adequaria a esse tipo de questão sentimental, relacional. E, como disse o Comte-Sponville, as coisas e pessoas são vistas por nós como amáveis (valorosas) porque nós as amamos, e não o contrário (não é a percepção de um valor que nos faz amá-las). Como acredito nisso tudo, amo meus amigos porque amo meus amigos (e considero meus amigos aqueles que amo), nada mais.

No entanto, isso não é tão simples assim. Há uma antítese: às vezes o valor próprio dessas pessoas ou coisas é tão forte (positiva ou negativamente) que pode alterar essa estrutura sentimental construída de início. Para mim, um amigo precisa ser um mundo – nele e em mim. Por isso eu quero dizer que ele precisa ter bastante daquela coisa que poderíamos chamar de vazio e que se caracteriza pela preenchibilidade. Como uma pintura zen: contém apenas uma pincelada e muito espaço não pintado, mas essa pincelada é tão expressiva que ecoa no todo, possibilitando que aquele que a vê coloque a si mesmo naquele espaço desocupado.

Quando vejo nas pessoas uma tela entupida de tinta, um caráter que não é um mundo, mas um corpo estável e fixo, me decepciono profundamente. São pessoas que são um mundo apenas para si mesmas. Para fora, são pessoas de pele grossa, satisfeitas, com um colorido arrogantemente próprio. Não gosto de me relacionar com essas pessoas, e não fingirei que gosto. Algo que aprendi com o amargor da vida é a não gostar sem peso na consciência (embora com algum pesar, necessariamente). Normalmente não teria problema em dizer simplesmente quem são as pessoas de quem falo, mas isso tende a incomodar as outras pessoas (aquelas com quem eu me importo) que muitas vezes são menos amargas que eu nesse sentido.

Tento não ser uma pessoa entupida para os outros. É verdade que não sei me relacionar com outros seres humanos, mas não quero e tenho por que guardar minha liberdade só para mim, quero dividir meu nada com as pessoas que amo. As pessoas que amo – posso contar nos dedos de uma só mão. Há outras que têm essa qualidade que busco sempre, mas com quem por um infeliz acaso eu não pude e não posso conviver tanto.

Não quero julgar moralmente as pessoas de quem me afasto, repelido por essa casca ôntica desagradável. Simplesmente digo: não me interessa. Posso até gostar dessas pessoas, gostar mesmo, mas não serão verdadeiramente amizades.

Me interessa estar numa praça já à noite, subindo em árvores, brincando de rei no parquinho, conversando sobre qualquer coisa, pulando para a Luda ver, fazendo piadas bestas sobre sexo, te agarrando quando você se solta da árvore...

2 Comentários:

Blogger Ozzer Seimsisk disse...

Sabe, Artur, seu cachecol é muito quentinho...

8/9/06 01:29  
Blogger Artur disse...

depois da noite de hoje escreveria um post idêntico...

9/9/06 04:26  

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